Perdida na História

Perdida na História

domingo, 17 de julho de 2011

A origem dos "Assassinos"

Durante 150 anos, entre os finais do século XI e a metade do XIII, uma  seita de xiitas muçulmanos trouxe temor e terror à região do Oriente Médio. Tratava-se da Ordem dos Assassinos.

“Assassinos” - A origem do nome
Esta ordem foi assim designada pois os seus integrantes, antes de praticar os atentados, inalavam um estupefaciente, o Hashishiyun, ou haxixe.
Os seguidores da ordem caracterizavam-se pela entrega total à missão que lhes era atribuída pelos seus superiores e por não demonstrarem qualquer temor, perante a morte que os aguardava após terem praticado as suas acções.

O anúncio da ressurreição
No ano de 1166, na praça central da fortaleza de Alamut, no alto dos Montes Elburz, no norte do Irão, o grão-mestre dos nizarins (como a Ordem dos Assassinos oficialmente se designava), Hassan II rejubilava frente aos companheiros e seguidores que ocupavam todo o espaço à sua frente. Todos haviam sido convocados para um importante anúncio. Iria ser proclamado a aproximação do dia da Qiyamat al Qiyamat, a Ressurreição da Ressurreição, estando muito perto o momento em que, pondo fim àquela época, iniciada há muito tempo atrás por Adão, o Imã oculto viria, finalmente, liderá-los na renovação de absolutamente tudo.
Dali em diante não haveria mais liturgia, pois a religião tornar-se-ia puramente espiritual, sem templos ou cultos. Que se aprontassem, portanto, para os novos tempos, concentrando-se todos eles dentro da fortaleza de Alamut, um lugar inabalável para os seus inimigos, de onde só sairiam para realizar as suas operações de homicídios selectivos.
Alamut, local onde se situam as ruínas da Ordem dos Assassinos.


O profeta dos assassinos
A seita, obediente aos extremos rigores do militarismo, havia sido fundada no ano de 1090, quando o missionário Hassan Sabbah (1034-1124), retornara do Egipto para a sua Pérsia nativa. Envolvido nas lutas pelo poder entre a casa real egípcia e de Bagdad, decidira fundar uma ordem secreta para enfrentar os seus adversários. Para tanto, inspirou-se nos antigos rituais de iniciação adoptados pelos gnósticos, aliando o seu prazer pela ciência esotérica - a batanya - e o culto pelos sinais ocultos, só alcançados depois de muita disciplina e dedicação ao estudo.
Em pouco tempo, verificou-se que Hassan Sabbah, o xeque das montanhas, criou uma teologia totalitária, onde um só deus (Alá), se fazia representar por um só Imã (um líder espiritual), e por um só representante (o próprio Hassan), com autoridade de vida e morte.
Com uma visão trágica do mundo, considerando-o perdido pela heresia e pelo descrédito dos governantes, declarou guerra à religião oficial, o Islamismo sunita, e também às dinastias que reinavam na região, fossem as de raiz árabe ou turca. Líder de uma seita absolutamente minoritária, Hassan Sabbah percebeu que somente se poderia impôr através do terror, colocando os seus inimigos em permanente pavor de virem a ser assassinados. Ao apoiar um dos governantes locais, chamado Nizan, passou a designar a sua ordem por nizarins. Porém, foi por Assassinos que permaneceram na História.

A estrutura da ordem
Consta que Hassan Sabbah, além de um rigoroso exame de admissão aos iniciados, recolhia crianças abandonadas ou comprava-as a casais pobres para fazer delas o seu exército de fiéis. Carentes de tudo, os jovens aspirantes viam-no como um deus-pai, dedicando-se integralmente à sua vontade, jamais ousando criticar uma ordem recebida.
Tratou também de elaborar uma soberba biblioteca, considerada uma das mais completas daquele tempo. Efectivamente, gabava-se de ter à sua disposição 70 mil homens e mulheres espalhados por boa parte do Médio Oriente, capazes de executar qualquer missão, mesmo que isso lhes custasse a vida.

A mística
Hassan Sabbah apresentava-se como o Hojjat do Imã, aquele que falava e agia em lugar do Imã oculto, que assim se achava apenas aguardando o momento apropriado para aparecer. Os seus seguidores, enquanto este momento sagrado não acontecia, usariam os punhais para purificar o ambiente.

O método
 Apesar de andarem uniformizados na fortaleza de Alamut - trajes brancos com um cordão vermelho enlaçando-lhes a cintura (cores que os cavaleiros templários irão adoptar) -, os fadavis, ou devotos, quando recebiam uma missão, camuflavam-se. Preferiam misturar-se com os mendigos das cidades da Síria, da Mesopotâmia, do Egipto e da Palestina para não despertarem a atenção. Misturados com a multidão urbana, eram "adormecidos", levando uma vida vulgar, sem atrair suspeitas, até que um emissário lhes trazia a ordem para "despertar" e combater. Geralmente, aproximavam-se da sua vítima em número de três. Se por acaso dois punhais fracassem, haveria ainda um terceiro para completar  a ordem recebida. 
Agiam em qualquer local - mercados, ruas estreitas, dentro dos palácios e até mesmo no silêncio das mesquitas, lugar por eles escolhido visto as vítimas estarem ali entregues à oração e com a guarda em baixo. Até o grande sultão Saladino, inimigo de morte desta Ordem, chegaram a intimidar, deixando um punhal com um bilhete ameaçador em cima da sua cama.

O uso da droga
Aprisionados, nada pronunciavam. Viviam num estado distante do mundo, numa esfera especial amparada pela Lei Divina, mostrando absoluta indiferença pelo seu destino na Terra. Seguiam para o cadafalso sem pestanejar, deixando aos executores a terrível sensação de impotência perante todo aquele fanatismo.

Alguns historiadores consideram que a utilização de um estupefaciente tão poderoso como o haxixe não poderia compelir à violência nem à agressividade necessária para praticar um crime daquela forma. A droga deveria ter uma outra função. Acreditam que fosse usada por Hassan Sabbah nos rituais de iniciação da ordem, como introdução à ideia do Paraíso, para que os aspirantes experimentassem a erva que lhes seria oferecida num jardim do Paraíso, após a sua morte.

Aproximação com os cruzados
Hassan Sabbah e seus sucessores trataram de ocupar a maior parte dos fortes, numa linha que se estendia do Irão até à Palestina, passando pela Síria, para fazer com que a influência da ordem fosse sentida em todas as paragens. Odiados por turcos e árabes, por sunitas e xiitas, dos quais eram um ramo dissidente, foi inevitável que a Ordem dos Assassinos, num primeiro momento, se aproximasse dos cavaleiros cruzados, tão estranhos na região da Terra Santa, como eles próprios se sentiam.
Mas foi mais do que isto.
Esecula-se que terá sido a simbiose entre fé fanática e disciplina militar extremista que terá fascinado os primeiros nove cavaleiros cristãos, liderados por Hugo de Payens, tendo-os levado a fundar a Ordem dos Cavaleiros do Templo, no ano de 1118. A dedicação integral e absoluta dos devotos, a renúncia de tudo, inclusive da vida, a cega obediência e o espírito de ordem monástico-guerreira que os tornava membros de uma cavalaria espiritual, logo estreitou ainda mais o idealismo dos cavaleiros cristãos com dos assassinos.

Os templários não só terão adoptado uma série de princípios e estatutos da Ordem dos Assassinos, como também terão feito suas, as cores deles: o branco e o vermelho. Tão próximas foram estas ligações que até Luís IX, rei francês, enviou certa vez uma missão diplomática a visitar o castelo de Jebel Nosairi, ocupado por um chefe da Ordem dos Assassinos. Frederico II, o Barbarossa, o imperador alemão que participou nas cruzadas, convidou vários assassinos para que o acompanhassem de volta à Europa. 

Quanto a esta ligação entre Assassinos e Templários, não há provas, apenas fortes indícios.

O fim da ordem

Protegidos por uma fortaleza tida como inexpugnável, que nenhuma força poderia tomar de assalto, foi preciso esperar a invasão dos mongóis, no século XIII (ano de 1256), pondo fim à ameaça que a seita dos assassinos representava em todo o Oriente Médio.
Hassan Sabbah foi assassinado pelo seu próprio filho, Mohammed que terá sido, por sua vez, também liquidado pelo seu filho.

A lenda deixada foi difundida no Ocidente pelos cavaleiros cristãos e pelos monges escribas que os seguiram, impressionados com as história horríveis a que os devotos assassinos estavam ligados, símbolos vivos do que era possível fazer com um ser humano, tornado um simples objecto perigoso a serviço do fanatismo.


Curiosidade: O próprio Marco Pólo observou e testemunhou de perto a fortaleza de Alamut.

6 comentários:

  1. Bem interessante! Mas qual a fonte destas informações? Tem algum livro sobre isso? Obrigado.

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    1. Olá! Antes de mais agradeço o comentário. Na verdade sim, tenho um livro que fala sobre a historia de algumas sociedades secretas. O livro chama-se "Ordens e Sociedades Secretas".

      Saudaçoes

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  2. Isso me lembra o jogo Assassins Creed... Será que a Ubisoft se inspirou nessa ordem para criar o jogo?

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    1. Olá! Antes de mais quero agradecer pelo comentário!

      Quanto ao jogo, eu penso que sim. Não de forma integral, mas tem bastante em comum, digo isto porque conheço o jogo e sou também leitora dos livros dessa "série" .

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    2. Certo então. Gostei do blog. E é só isso, comentei só pelo elogio mesmo.

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    3. E antes que eu me esqueça, obrigado pela atenção.

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