Perdida na História

Perdida na História

domingo, 20 de outubro de 2013

Um conquistador chamado Hernán Cortés



A 13 de Agosto de 1521, no final de um cerco que dura há 79 dias, Hernán Cortés, enviado de Espanha, apodera-se de Tenochtitlán, a capital do Império Azteca. O mundo Americano não voltará a ser o mesmo.

O regresso dos deuses?

     Inesperadamente, o conquistador espanhol e os seus respectivos homens são recebidos no espaço que é agora o México, com imensa alegria e esperança por parte do povo nativo, em 1519. A causa? Um mito Azteca falava que o deus civilizador que outrora teria ido para muito longe, viria um dia, pelos oceanos, para junto do seu povo, trazendo glória e toda a Paz para o seu povo. Desta forma, aquando da chegada de Cortés e dos seus 600 homens, o Imperador Moctezuma II, suprasacerdote religioso azteca, mais religioso do que político, recebe o espanhol tal como faria a um deus pródigo: cobre-o de honras. Cobre-o de presentes. O seu deus tinha chegado.



     Possivelmente incrédulo, Cortés não nega tal hospitalidade, pelo contrário, facilita bastante o atingir do seu objectivo: obtém do azteca o reconhecimento da soberania por parte de Carlos e, em breve, o "deus" espanhol coloca o local sob tutela e exerce o poder por intermédio do imperador. 


Cortés

"La noche triste"

     Um começo que poderia prometer tudo de bom para o povo azteca, torna-se um pesadelo. Secretário do governador de Cuba, Diego Velázquez, Cortés abandonara Cuba para se lançar na expedição militar contra o México em 1518, sem que Diego seu chefe lhe tivesse dado autorização para tal. Por isto, é declarado rebelde, e um grupo espanhol comandado por Pánfilo de Narváez é enviado contra ele. 

     Deixando o seu lugar tenente Pedro de Alvarado e uma pequena guarnição em Tenochtitlán, Cortés volta à costa e facilmente vence Narváez. porém a situação transforma-se no seu regresso a Tenochtitlán. Alvarado havia massacrado a nobreza azteca no Templo da capital, a 23 de Maio de 1520. A revolta popular era massiva. A chegada de Cortés não acalma os ânimos e enquanto Moctezuma II tenta apelar à reconciliação é mortalmente atingido por algo. fontes referem ter sido uma pedra arremessada por um popular em fúria, outras fontes referem uma espadeirada disferida por um espanhol. O certo é que o Imperador Azteca morre. 



     No decurso dos seguintes combates, Cortés perde metade dos homens: tem de decidir pela evacuação de Tenochtitlán. É "la noche triste" de 30 de Junho para 1 de Julho de 1520. 

Vingança, vingança, vingança.

     Cortés regressa. No dia 7 de Julho consegue uma grande vitória sobre os aztecas em Otumba, após reorganizar as suas tropas: a larga minoria espanhola é auxiliada por um forte componente bélico, aço contra madeira, bestas contra arco e flechas e cavalos que permitiam uma mobilidade incomparável. Graças ao descanso que esta vitória lhe traz, Cortés encaminha os seus homens para o reino vizinho de Tlaxcala, que submetera em 1519 antes de penetrar no reino azteca e que lhe fica fiel por ódio ao Império Azteca. Nos meses seguintes, Cortés refaz calmamente as suas forças militares, assim como recebe novo armamento de Cuba e da Jamaica. 



      Dirige-se novamente a Tenochtitlán onde uma epidemia de varíola, introduzida por um escravo negro da sua escolta, dizima a população. No últimos dias de Dezembro torna-se senhor do lago sobre o qual a cidade está construída, começando o verdadeiro cerco em 26 de Maio de 1521. 650 soldados de infantaria, 194 mosqueteiros e fundibulários, 84 cavaleiros, algumas peças de artilharia e auxiliares índios em grande número participam na operação; 13 navios rápidos (bergantins) controlam as águas do lado. A 16 de Junho é feito um primeiro assalto à cidade, cuja já não tinha acesso a água potável. Apesar de não ter tido um sucesso a 100%, a pouco e pouco conseguem tomar todos os bairros da cidade, que vão arrasando à medida que passam, a fim de evitarem a resistência de lançadores de pedras colocados em cima do telhado. 
     A 13 de agosto de 1521 o imperador Cuauhtémoc é feito prisioneiro. Vai ser executado anos mais, tal como o Império Azteca. 

Lago sobre o qual a cidade está construída

Continuar.

     Dominado o Imperador Azteca, Cortés lança outras expedições, desta vez em direcção ao Sul, por forma a anexar territórios de Yucatán, Honduras y Guatemala.

     Os detalhes da conquista do território agora denominado México, assim como os argumentos que justificavam as decisões de Cortés, foram expostos nas quatro Cartas de relación que enviou ao rei espanhol.

Cortés em Espanha

     Em 1522, Cortés foi nomeado governador e capitão geral da Nueva España (nome dado ao actual México). Contudo, a coroa espanhola neste momento tentou implementar medidas por forma a reduzir os poderes entregues aos chamados “Conquistadores”. Assim, em 1528, funcionários reais apareceram na Nueva españa por forma a começarem a dividir a autoridade de Cortés, até à sua completa destituição do cargo, quando é enviado para Espanha.
     Em Espanha, consegue sair absolvido de toda e qualquer acusação, sendo ainda nomeado Marquês do Valle de Oaxaca, assim como mantém o cargo honorífico de Capitão Geral, apesar de não ter  funções governativas.



Continuar a vida antiga

     De volta ao México em 1530, cortés volta a organizar expedições de Conquista, onde tenta incorporar a Baixa California ao México. Novamente de regresso a Espanha, tenta obter favores como pago de todos os serviços prestados, pelo que acaba por conseguir uma expedição contra Argel, em 1540, apesar das suas exigências nunca terem tido completo atendimento.

As preocupações de Cortés


     Cortés escolhe uma população próxima de Sevilha para se aposentar. Reúne com frequência uma tertúlia literária e humanística, onde são discutidos diversos assuntos, como a religião. Apesar de todos os seus selváticos crimes, Cortés era um fervoroso católico com preocupações morais interessantes, tais como se seria ou não legítimo escravizar um índio...
     

domingo, 1 de setembro de 2013

Um Hospital com 1000 anos

Notícia

     Foi noticiada a descoberta de um hospital das Cruzadas em Jerusalém com cerca de 1000 anos. 
      Segundo o site noticioso, "o espaço era altamente movimentado, encontrava-se dividido por tipos de doenças e patologias e tinha uma capacidade máxima para 2.000 pacientes. (...) Datado do período de 1099 d.C. (ano em que os Cruzados chegaram às muralhas de Jerusalém) até 1291 d.C., o edifício escondia-se sob um mercado abandonado de produtos hortícolas, numa área conhecida como Muristan."

      O que até agora foi descoberto corresponde àquilo que se pensa ser uma pequena porção daquilo que o hospital terá sido, pensando-se que poderia ter cerca de 15 mil metros quadrados. A pesquisa actual centrou-se sobretudo em "documentos contemporâneos, maioritariamente escritos em latim." 


     Dois dos intervenientes na descoberta, Renne Forestany e Amit Reem, referem que "os textos dão conta de um "sofisticado hospital construído por uma ordem militar cristã chamada 'Ordem de San Juan do Hospital em Jerusalém', cujos membros se dedicavam ao cuidado e atendimento de peregrinos na Terra Santa"."
 


      Contudo, o mais impressionante relaciona-se com os depoimentos da época, que dão a conhecer a precária saúde e os escassos conhecimentos na área da medicina e/ou higiene. " Um dos relatos, por exemplo, é de um médico que conta que amputou a perna de um cavaleiro por uma pequena ferida infectada, levando o paciente à morte."

    Para mais informações sobre a notícia, consultar o site oficial da Autoridade de Antiguidades de Israel: http://www.antiquities.org.il/article_Item_eng.asp?sec_id=25&subj_id=240&id=2016&module_id=#as

Fontes:

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Notícia: A descoberta do (possível) esqueleto de Ricardo III

    Foi noticiado esta semana a descoberta dos restos mortais de Ricardo III de Inglaterra. Ao contrário do que se pensava, Ricardo III vem a aparecer enterrado num local, agora um parque de estacionamento, e não numa capela religiosa, como até aqui se acreditava. 

Ricardo III

    Os responsáveis pela descoberta, que terá ocorrido no ano passado, terão analisado os restos ósseos, podendo confirmar algumas doenças associadas ao monarca, assim como terão procedido à análise de DNA, informação genética, comparando com um reconhecido parente, vivo, do monarca. 

    Já aqui neste blogue falei acerca deste monarca que, de certa forma, acaba por ter um papel importante no desenrolar da História e sucessão inglesa. A saber, foi mencionado no tema ""Titulus regius", Blaybourne e o Mistério Tudor" ( http://perdidanahistoria.blogspot.pt/2011/12/titulus-regius-blaybourne-e-o-misterio.html).


No que diz respeito à notícia, aqui ficam alguns sites onde esta se encontra na íntegra:






Fontes:
http://perdidanahistoria.blogspot.pt/2011/12/titulus-regius-blaybourne-e-o-misterio.html

 http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=67572
 http://www.telegraph.co.uk/history/9540207/Richard-III-skeleton-reveals-hunchback-king.html
 http://www.telegraph.co.uk/history/9745893/Carpark-skeleton-will-be-confirmed-as-Richard-III.html


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Ptolomeu e Duarte Lopes: do imaginário à realidade

Cerca de três séculos antes da descoberta da nascente do rio Nilo, um homem noticia pela primeira vez na História os lagos imaginados por Ptolomeu, revelando um dos mais velhos segredos ao Mundo. Duarte Lopes era português e no século XVI fez História. 

     Decorria o ano de 1591 e um livro causa grande sensação quer em Roma, quer em toda a Europa. O livro era "Relatione del Reame di Congo et delle Circonvicine Contrade", escrito por Fillipo Pigafetta, ditado por Duarte Lopes, que miraculosamente viveu naquele reino da África Ocidental durante seis anos. Não era mito, tinha acontecido.
     O livro era um tesouro de descrições dum reino só imaginado pelos europeus, dando a conhecer terras e gentes, desmistificando ideias e mitos tão antigos como o tempo.  



O reino do Congo

Desconhecido? Nem tanto...

     A verdade é que, à data da viagem de Duarte Lopes, o Congo já não era desconhecido para os portugueses. Quase cem anos antes, em 1483, as caravelas de Diogo Cão haviam já explorado a foz do rio Congo, ou Zaire, o segundo maior de África, a seguir ao Nilo. Regressaram no ano seguinte, tendo subido da foz às cataratas de Livingstone, deixando preventivamente os seus nomes gravados numas rochas junto ao rio.

     Em 1490, Portugal envia uma nova expedição, estabalecendo desde aí relações amistosas com aquele povo, cujos reis se convertem ao Cristianismo, passando a adoptar os nomes de João e Leonor, em homenagem aos reis portugueses. No anos seguintes, os reis do Congo enviam os seus dois filhos para Lisboa com a finalidade de aprenderem português e se "instruírem nos ensinamentos da boa fé".  Portugal não perde a oportunidade, envia para o território franciscanos, dominicanos ou agostinhos com a finalidade de evangelizar e/ou comerciar, estabelecendo-se em São Salvador do Congo, ou Banza, a capital daquele reino. 





Rei João, do Congo

Entreajuda fora da Europa

     Os governos portugueses e do Congo eram já bastante amistosos, daí que não seja de estranhar que Portugal fosse em auxílio desta Nação aquando de necessidade. Em meados do século XVI, os jagas invadem e mudam o rumo ao Congo. 

"Era gente cruel e homicida, de grande estatura e de semblante horrível, nutrindo-se de carne humana, feroz a combater e de ânimo valeroso (...)selvática nos costumes e no viver do dia-a-dia."

     Estes povos partiram da nascente do rio Congo em direcção a oeste, invadindo Lunda, o Congo e parte de Angola, espalhando o horror entre os povos. Foram detidos pelos portugueses, chamados em auxílio de D. Afonso, rei do Congo. 
     Desta forma, quando Duarte Lopes chega ao Congo, em finais de 1578, estavam já bem cimentadas as relações entre Congo e Portugal, apesar deste reino africano apenas ainda fazer parte do imaginário fantástico europeu...



A estadia de Duarte Lopes

     O explorador estabelece-se em Banza, a cidade real, a "150 milhas do mar", onde na altura viveriam cerca de 100 mil pessoas. Dentro das muralhas. ficava a Cidade dos Portugueses e os paços reais, construídos à volta da Igreja principal de Santa Cruz. Nesta cidade, Duarte Lopes terá vivido cerca de seis anos, em que durante esse tempo terá conhecido quase todo o reino que ocupava, naquela época, grande parte do norte de Angola. 

O livro

      Quando descreve a Filippo, Duarte refere-se às seis províncias congolesas: Bamba, Sonho, Sunde, Pango, Bata e Pemba. Descreve os hábitos dos indígenas, as suas formas de vestir, a sua História, os seus produtos e os animais que povoavam a região. 







     Fantasia ou não, o facto é que algumas descrições do livro de Filippo parecem mesmo saídas de uma mitologia. De facto, o capítulo referente às amazonas do reino de Monomotapa é considerado por alguns especialistas como inverosímel, juntamente com o excerto relativo aos anziques. Este povo, que habitava as terras a norte do Congo, teria pouco contacto com as restantes tribos, pelo que tudo o que se contava sobre os seus costumes seriam apenas conjecturas, segundo o próprio Duarte Lopes.

      Contudo, os relatos de Filippo referem que os anziques teriam "açougues de carne humana, como nós aqui de vaca (...), porquanto comem os inimigos que cativam na guerra; e os seus escravos vendem-nos, se podem obter melhor preço; se não, entregam-nos aos magarefes, que os cortam em peças e vendem para assar ou cozer." Se por um lado os relatos de Filippo parecem particularmente fiéis àquilo que os portugueses descreviam na Europa, e mesmo aos relatos de Duarte Lopes, estas partes do livro "Relatione(...)" parecem povoadas de imaginação a mais, levando alguns autores a acreditar que, talvez, Filippo tenha pretendido tornar o seu livro mais ambicioso e particularmente atractivo. De facto, aquando do lançamento, o livro torna-se um fenómeno, sendo traduzido e reeditado em múltiplas línguas. 






 Duarte Lopes desaparece

      Já em 1586, Duarte Lopes chega a San Lúcar de Barrameda, na foz do Guadalquivir, seguindo para Sevilha , na época um crucial centro de comércio, onde diversos cartógrafos portugueses se haviam estabelecido.  Dali, parte para Portugal e depois para Madrid, para a corte de Filipe II de Espanha, I de Portugal.  Usando o "hábito de burel grosseiro" dos peregrinos, cumprindo um voto feito durante a viagem, parte para Roma em 1589, com a finalidade de transmitir a Sisto Vos recados do rei do Congo, que pedia que lhe fossem enviados missionários para não deixar esmorecer a fé Católica. É nesta viagem a Roma que Duarte conhece Filippo, e lhe descreve as maravilhas que terá testemunhado no Congo imaginado por Ptolomeu. Duarte vira com os seus próprios olhos os grandes lagos. 

Missionários em África

     Nesse mesmo ano, Duarte Lopes abandona Roma, desejoso de voltar para África. Em Madrid, redige um relatório da sua permanência no Congo, citado por Ilídio Amaral, abundante em informações sobre comércio de escravos, de importância vital na economia de então. A partir deste momento, Duarte Lopes desaparece na História, perdendo-se-lhe o rasto para sempre. 


Estátua de Duarte Lopes, Portugal


Fontes:
Baseado nos textos de Rosário Sá Coutinho, (2003), National Geographic
http://www.euacontacto.com/cultura-e-entretenimento/3693-grandes-portugueses.html