Perdida na História

Perdida na História

sábado, 30 de julho de 2011

O caso Távora

Este caso remonta ao século XVIII português. Nunca foi devidamente explicado. A culpa nunca foi verdadeiramente divulgada. A dúvida continua.


Viagem para a Índia

Tudo parece começar no ano de 1750, quando D. João V nomeia D. Francisco de Assis (o Marquês de Távora), para o cargo de Vice-Rei da Índia.

 Assim, em Março do mesmo ano, o Marquês de Távora parte para a Índia para representar a Coroa Portuguesa naquele país, acompanhado por  D. Leonor Tomásia de Távora, sua esposa (a Marquesa de Távora) e pelos seus filhos, Luís Bernardo (o Marquês-novo) e José Maria, deixando em Portugal duas filhas casadas, assim como a esposa de Luís Bernardo, Teresa de Távora e Lorena (a Marquesa-nova).

 Enquanto D. Francisco de Assis estava em Goa, na Índia, o rei D. João V faleceu, assumindo o trono D. José (agora El-Rei D. José I).

D. José I

O romance

Ao regressarem a Portugal, os Marqueses de Távora foram informados por amigos e parentes que a esposa de Luís Bernardo de Távora, D. Teresa de Távora havia se tornado na “amante preferida” do rei D. José I, e que todo o relacionamento era já de conhecimento público.


Indignada com a situação, D. Leonor defendeu  a anulação canónica do casamento do seu filho, exigindo que o mesmo não mais convivesse maritalmente com D. Teresa.

A posição adoptada pela Marquesa de Távora relativamente ao casamento do filho mais velho, desagradou grandemente o rei D. José I, o qual mandou o seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, tentar persuadir os Marqueses de Távora de que D. Teresa deveria retomar a vida conjugal normal com o marido Luís Bernardo de Távora. Porém, os Marqueses foram irredutíveis.

Depois, o próprio rei D. José I requereu pessoalmente a D. Francisco de Assis que fosse esquecido o "suposto affair" de D. Teresa, em troca de favores e títulos no governo. D. Francisco de Assis declinou a proposta do rei, irritando-o mais profundamente ainda.


"A ira de Deus"

Pouco tempo depois, no dia 1 de Novembro de 1755, "Dia de Todos os Santos", Lisboa sofre um terrível terramoto. A destruição foi cataclísmica: destruição de casas, igrejas, edifícios e palácios, tendo sido sentido quer noutras cidades do Reino, quer noutros países europeus e norte de África. Além do terramoto, a cidade foi submersa por um desmedido maremoto, tendo depois ficado a arder, em chamas, durante seis dias.


 O clero.

 Os membros clericais aproveitaram a ocasião e encararam a catástrofe natural como uma revolta de Deus, relativamente às relações adúlteras de D. José I, assim como à sua política de governo, da qual era figura fundamental o ministro Carvalho e Melo.

Um dos sacerdotes mais excessivos foi o padre Gabriel Malagrida, o qual chegou a escrever um manifesto intitulado "Juízo da Verdadeira Causa do Terramoto" descrevendo o cataclismo como pena divina aos pecados dos governantes do país, profetizando novos desastres se os culpados continuassem a actuar daquela forma. Tal provocou a ira do rei e do ministro Carvalho e Melo.

Gabriel Malagrida

 Não quero governar”.

 É fundamental lembrar que D. José I não apreciava governar, delegando a maioria dos seus poderes no seu ministro de confiança Sebastião José de Carvalho e Melo (futuramente Marquês de Pombal).

Marquês de Pombal


Inevitavelmente, os membros da nobreza começaram a, eles próprios, se sentirem incomodados com a realidade de uma pessoa de origem inferior deter cada vez mais poder, prestígio e importância no Reino.

 Foram nestas circunstâncias que se planeou um movimento palaciano a contestar a situação, encabeçado pelo desembargador Costa Freire, com o fundamento de derrubar o governo e substituí-lo por outro, a ser constituído por alguns membros da nobreza portuguesa.

 03 de Setembro de 1758

 Nessa noite, o rei D. José I saiu, confidencialmente, para uma "breve" visita à sua amante predilecta, D. Teresa de Távora.

Alguns dias antes, o próprio rei havia estabelecido luto oficial no País, devido à morte de sua irmã, Maria Bárbara, rainha da Espanha. Efectivamente, o período de luto impedia as saídas dos membros da Família Real do Paço. Por esse motivo, o rei não utilizou nem a carruagem nem a escolta reais.

Ao regressar do encontro com a Marquesa-nova, a carruagem toma a estrada de volta ao Paço. Por volta das onze e meia da noite, homens encapuzados abriram fogo sobre a caruagem que transportava o soberano, ferindo-o assim como ao cocheiro. Contudo, o súbdito conseguiu escapar, conduzindo o rei até a casa do Marquês de Angeja, na Junqueira, tendo lá pemanecido até alvorecer. Regressou, então, ao Paço numa carruagem real, escoltado por um corpo de militares.


A investigação

 D. José I ordenou que o seu predilecto ministro, Carvalho e Melo, levasse a cabo uma investigação sobre o atentado. Sendo assim, o ministro aproveitou a situação como pretexto para atear um processo de perseguição aos seus maiores opositores, nomeadamente a família Távora, culpando e incriminando sectores do clero e da nobreza pelos crimes de Traição e Lesa-Majestade.

 Poucos dias depois, dois homens foram presos e torturados. Os homens confessaram a culpa e que tinham tido ordens da família dos Távora, que conspiravam para colocar o duque de Aveiro, José Mascarenhas, no trono. Ambos foram enforcados no dia seguinte, mesmo antes da tentativa de regicídio ter sido tornada pública.

 - o clero

As principais represálias sofridas pelo clero foram a queda da Companhia de Jesus, a detenção de figuras exponenciais do alto e baixo clero e até mesmo a morte de alguns.

- a nobreza

No que toca à nobreza, foi criado um órgão denominado Tribunal da Inconfidência, propositadamente para julgar as pessoas às quais se imputavam a culpa da tentativa de regicídio.

Os juízes encarregados do caso jamais conseguiram provar substancialmente inteiramente a culpabilidade dos réus: as provas eram tão débeis e incongruentes que, por vezes, nada mais era do que ilações extraídas daquilo que outros indivíduos teriam dito ou ouvido pelas ruas, e as confissões obtidas de alguns réus teriam sido conseguidas por intermédio de violenta coação física.


O duque de Aveiro

 O duque de Aveiro é um bom exemplo a deter neste caso: sob tortura chegou a confessar muito mais do que lhe fora interrogado, envolvendo na conspiração todos aqueles que sabia terem caído no desagrado do Rei e do seu ministro.

Assim, asseverou que o desacato havia sido praticado por incitamento dos padres jesuítas, tendo como cúmplices os nobres Marquês de Angeja, o Conde de Avintes, os Condes da Ribeira Grande, Óbidos e São Lourenço, os Marqueses de Távora pai e filho, José Maria de Távora e o Desembargador Costa Freire. Porém, por ordem do ministro, o conteúdo dessa "confissão" não serviu para culpar a totalidade das pessoas nele envolvidas, mas apenas algumas...


Ademais, a Marquesa Leonor de Távora nunca esteve presente no Tribunal e nem tão pouco foi investigada pelos juízes, pois nem se sabia que ela estava entre os acusados. De facto, só quando o desembargador Eusébio Tavares de Sequeira (incumbido pelo próprio rei de proceder à defesa dos incriminados) requereu a Carvalho e Melo o processo para redigir a defesa, é que verificou que ela era um dos principais acusados.


Justiça célere.

 Vale ressaltar a incrível celeridade com que ocorreram os actos do processo, pois a defesa dos réus foi entregue no dia 11 de Janeiro de 1759 às quatro horas da tarde e, nesse mesmo dia, a Junta concluiu os autos e requereu ao rei permissão para agravar as penas previstas na lei. No dia 12, foi concluída a inspecção, redigida a decisão, comunicada aos réus e executada na manhã do dia 13.

 Há relatos quanto à falsidade desta investigação. Segundo Luiz Lancastre e Távora há registos de que a sentença já se encontrava previamente decidida, mesmo antes do fim do julgamento. Tanto isso é verdade que nem os juízes pensaram em averiguar um único facto alegado pelos réus em sua defesa, ou em inquirir uma só testemunha por eles indicada.



As provas.
 
As provas apresentadas em tribunal eram simples:

a) As confissões dos assassinos já executados,

b) A arma do crime pertencia ao duque de Aveiro e

c) O facto de apenas os Távora poderem saber das ocupações do rei nessa noite, uma vez que ele regressava de uma ligação com Teresa de Távora, presa com os outros.


 Sentenças.

-Ao Duque de Aveiro e ao Marquês de Távora (pai) seria aplicada a pena de lhes serem quebrandos os ossos das pernas, braços e peito a golpes de maça, estando os seus corpos atados às rodas, após o que seriam queimados, sendo as cinzas jogadas ao mar.

 -D. Leonor teria a cabeça cortada com a espada do carrasco, o qual após expor a cabeça ao povo, deveria queimá-la juntamente com o restante do corpo e lançar as cinzas ao mar.

 - O Marquês Luís Bernardo, José Maria Távora e o Conde de Atouguia seriam logo estrangulados e só depois quebrados os ossos das pernas e braços, antes dos seus corpos serem lançados na mesma fogueira que os antecessores.

Pena igual aplicar-se-ia aos criados Manuel Álvares e João Miguel, assim como ao cabo Brás Romeiro.

- António Álvares e José Policarpo de Azevedo seriam atados em postes altos e queimados em vida, tendo suas cinzas o mesmo destino das dos outros réus.


-Gabriel Malagrida, o padre jesuíta amigo e confessor da marquesa de Távora, foi queimado vivo alguns dias depois e a ordem dos jesuítas declarada ilegal, curiosamente a 3 de Setembro de 1759, exactamente um ano depois do atentado ao rei. Todas as suas propriedades foram confiscadas e os jesuítas expulsos do território português, na Europa e Colónias (o filme "A Missão" retrata a expulsão de uma comunidade jesuíta da floresta brasileira).

Todos foram condenados a desnaturalização de Portugal, exautoração das honras e privilégios da nobreza a que tinham direito e total confisco de bens.

No tocante, especificamente, à família Távora, ficava de futuro proibido o uso do sobrenome Távora; determinava-se que suas armas fossem picadas e raspadas onde quer que se encontrassem; o restante das mulheres deveriam ser separadas dos filhos (os quais ficavam obrigados a professar) e encerradas em conventos; as suas casas deveriam ser arrasadas e salgado o chão onde se erguiam para eterna lembrança desse castigo.

 Muitos dos executados eram apenas crianças.

O local.

 A execução da sentença ocorreu em Belém, no Cais Grande, onde se construiu especialmente para tal feito um alto e grande patíbulo , em madeira, sobre o qual se achavam os postes, as rodas, as aspas e todos os outros utensílios necessários à tarefa.

Futuro

Após a morte do rei D. José I e da saída do Marquês de Pombal do governo português, a nova rainha D. Maria I ordenou que se procedesse a um inquérito sobre a actuação do ex-ministro e autorizou a revisão do processo dos Távora.

Os juízes que contemplaram a petição de revisão da sentença condenatória dos Marqueses de Távora, filhos e genro, o Conde de Atouguia, consideraram-nos inocentes face às provas; regenerando-se a memória da família Távora, devolvendo-se, na medida do possível, os títulos e bens a que tinham direito.


D.Maria terá ficado muito perturbada com este caso. Foi no seu reinado que a pena capital foi abolida de Portugal (excepto em caso de Guerra). Fomos um dos primeiros países do Mundo a fazê-lo.



Se por um lado é verdade que poucos países terão tido um político tão capaz, tão elucidado e tão competente como o Marquês de Pombal. Se Lisboa renasceu das cinzas após o dia 1 de Novembro de 1755, muito é devido à actuação deste homem.
Por outro lado, poderá ser também verdade que, devido ao seu ódio, terão sido brutalmente assassinadas centenas de pessoas, inocentes.
A dúvida persiste.


 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

12 Trabalhos

Toda a gente já terá ouvido falar dos famosos 12 trabalhos de Hércules. Quais terão sido, realmente, as proezas realizadas por este semi-deus?

Tudo começou com um assassinato.


Hera, deusa e mulher de Zeus, não aprovava as aventuras de Zeus na Terra, sendo extremamente ciumenta relativamente a todos os filhos do deus, com as mulheres terrestres. Hércules, filho de Zeus e de Alcmena, estava no topo da lista: nenhum outro filho de Zeus teria uma tal força colossal, além de uma aparência digna de um verdadeiro deus.

Hera


Hera não estaria disposta a deixar Hércules sobreviver, enviando quando este era criança duas serpentes para o atacar enquanto o bebé dormia. Para espanto de todos, a criança depois de se divertir com os animais, aniquila as serpentes.



Devido à sua força, Hércules nao se conseguiu enquadrar devidamente no local onde vivia, vindo mais tarde a casar com uma mulher de longe, Mégara, uma princesa Tebana, vivendo feliz durante algum tempo, longe da cidade, no campo, com os seus dois filhos e a esposa.

Contudo, Hera nunca deixara de o observar. Uma noite, envia a Loucura, que se apodera de Hércules durante o sono.  Segundo a lenda, Hércules acorda e cego pela Loucura assassina a sua familia, esposa e filhos. Após o crime, Hércules acorda, e vê-se rodeado por um crime hediondo, cometido por ele próprio.

O herói não sabe o que fazer para se redimitir e obter o perdão dos deuses. Através de um barco rudimentar, Hércules dirige-se a Delfos, de modo a consultar o Oráculo.

Oráculo, em Delfos

O Oráculo não tem dúvidas: Hércules deverá pagar pelos seus crimes. Para tal, deverá dirigir-se ao rei de Tirinte, Euristeu (que segundo algumas lendas, seria seu primo), e este indicar-lhe-á a pena a cumprir.

Euristeu recebe Hércules com satisfação, comunicando-lhe que lhe dará uma tarefa tal, que só um ser muito superior conseguiria resolver. Segundo a lenda, tanto Euristeu como o próprio Oráculo estariam comprados pela inteligente Hera. 

Aqui começam os trabalhos de Hércules.

O trabalho consistiu em matar o fantástico leão de Nemeia. Este animal seria um ser quase mitológico, sendo que nenhum ser humano alguma vez se teria atrevido a chegar perto. Contudo, Hércules consegue-o matar, passando a usar a sua pele como elmo, por cima da sua cabeça.


Ao contrário do esperado, Hércules vence a tarefa, aparecendo a Euristeu pronto para o seguinte.

O segundo trabalho não era em nada mais fácil do que o primeiro:

2º: Matar a hidra de Lerna, uma serpente de nove cabeças. A do centro seria imortal, mas por cada uma das restantes que fosse cortada, nasciam mais duas; astuciosamente, Hércules queima a besta, sepultando a sua cabeça imortal debaixo de uma rocha. Á semelhança da pele do leão de Nemeia, Hércules aproveitou também daqui um elemento crucial a usar no futuro: o veneno da serpente passou a fazer parte das suas setas.


Ainda na busca pelo perdão, o 3º  o 4º trabalho continuaram a envolver animais místicos :

3º: Capturar o veado da Arcádia, um animal com armação de ouro e cascos de bronze. O herói terá demorado um ano a capturá-lo.

4º: Capturar vivo o javali de Erimanto, um violentissimo animal. Hércules apenas o terá capturado após o ter perseguido longamente por uma vasta extensão de neve, até o animal ficar exausto.

Absolutamente estupfacto com as proesas, Euristeu terá mudado de estratégia. Pensou em algo extraordinário...

5º : O herói deveria limpar os estábulos de Augeias, onde eram mantidos os 3 000 bois do rei de Élida, e que não eram limpos há 30 anos. Hércules deveria cumprir a tarefa em um dia. Perante o impossivel, o herói tem uma brilhante ideia: desvia o curso de dois rios, Alfeu e Peneu, que inundaram e varreram os estábulos. A tarefa fora cumprida.


6º: Capturar as aves vorazes de Estínfalo, com asas, bicos e garras de bronze e se alimentavam de carne humana. O herói assustou-as com uma matraca que lhe havia sido oferecida por Atenas, e seguidamente, matou-as com as suas setas envenenadas.

7º:Capturar o touro de Creta, que o rei Minos não submeteu a sacrificio, tal como Posidon lhe terá ordenado. O herói captura o animal, leva-o aos ombros até Euristeu e, posteriormente, solta-o para que vagueasse pela Grécia.



8º: Neste trabalho, Hércules deveria apanhar os cavalos de Diomedes, cujos o rei sempre alimentara com carne humana. Os animais terão morto Abderus, amigo do herói. Hércules vinga-se matando o rei Diomedes, oferece-o aos animais que, por sua vez, amansaram, sendo mais tarde destruídos por feras do Olimpo.

9º: Aqui, seria necessário o herói roubar a cinta da rainha das Amazonas, cobiçada pela filha de Euristeu. Para tal, o herói teve de matar a rainha.

10º:  Neste décimo trabalho, Hércules teria de recolher os touros de Gérion, o monstro de três corpos, da fabulosa ilha da Eritreia. Na sua viagem, o herói viu-se obrigado a levantar duas colunas, uma de cada lado do estreito de Gibraltar.


Ainda não satisfeito, Hera desafia, uma vez mais, Hércules...

11º: Nesta tarefa, o herói deveria recolher as maçãs de ouro do Jardim das Hespérides, cuja localização o herói desconhecia. Assim, Hércules pede ao gigante Atlas que encontre o Jardim; para tal, fica Hércules no seu lugar, sustentando o Mundo nos seus ombros.


   Por último, um trabalho final, e o herói estaria livre...

12º: Trazer o temível cão Cérbero do mundo dos mortos, sem utilizar qualquer arma. Uma vez mais, o herói consegue, e mostra-o a Eristeu.

  Com os três últimos trabalhos, Hércules conquistou a imortalidade, pois Gerion e Cérbero representavam a morte e as maçãs eram o fruto da Árvore da Vida.

Tempos depois, o herói volta a casar, desta vez com Dejanira. Conta a lenda que  uma ocasião, Hércules viajava com Dejanira, quando permitiu que um centauro chamado Nesso a carregasse para atravessar um rio. Nesso tentou agredi-la e Hércules, te-lo-á morto com uma flecha envenenada. Ao morrer, Nesso pede a Dejanira para guardar o seu sangue; para usá-lo como "filtro de amor".

Mais tarde, Hércules apaixonou-se por Iole, uma mulher que ele próprio havia capturado. Enciumada, Dejanira mergulhou uma túnica no sangue de Nesso oferencendo-a a Hércules. Assim que a vestiu, o veneno começou a queimar a sua carne.


 Não suportando a dor, pediu aos seus amigos que construissem e o colocassem numa pira funerária e a acendessem.

Depois de morto, Hércules foi levado ao Olimpo, tornando-se, finalmente, imortal.


Ora, é um facto que em nada os desenhos animados se aproximam da lenda do herói Hércules, nomeadamente, o "Hércules" da Disney. 


 Por outro lado, para mim, a lenda tem uma contradição: um homem que cometeu uma atrocidade, um assassinato, e se pretende redimir, é estranho ter desde logo aceite "trabalhos" que, na maioria das vezes, também envolveram outras mortes.

Efectivamente,  Hércules torna-se um herói pelos seus feitos muito além do comum humano, no entanto, vendo por outra perspectiva, o que foi ele a não ser um mercenário? um assassino? hmm....

É curioso um outro ponto. Como surge Hércules na Antiguidade?

"As antigas fontes romanas indicam que o herói grego "importado" veio substituir um antigo pastor mitológico chamado pelos povos da Itália de Recaranus ou Garanus, e que era famoso por sua força. Enquanto o mito de Hércules incorporou muito da iconografia e da própria mitologia do personagem grego, ele também tinha um número de características e lendas que eram marcadamente romanas"

Controverso ou não, Hércules continuará sempre a ser um ídolo, o maior "semi-deus" de toda a Mitologia Grega.

Fonte:Enciclopédia Larrousse;http://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A9rcules

terça-feira, 26 de julho de 2011

Identidade desconhecida.

França, século XVII.
Por volta do ano 1679, durante o reinado do rei Sol, Luis XIV, foi ordenado a De Saint-Mars, na época, era comandante da fortaleza e prisão de Pignerol, na Savóia, que tomasse como sua responsabilidade pessoal um certo prisioneiro.
Luis XIV

O condenado, em termos práticos, não existia, visto não ter sido elaborado qualquer registo escrito sobre ele; além do “nome” (o "Máscara de Ferro"), ninguém sabia absolutamente nada acerca deste homem, nem idade, nem proveniência.

Era, sem dúvida alguma, fora do comum, mesmo para os locais, a peculiaridade deste preso, o esmero de crueldade e a tortura constante em que o mantinham: o rosto do prisioneiro ficava totalmente escondido sob uma máscara aveludada preta, ligada automaticamente a um "colarinho"de ferro, cujo mecanismo impossibilitava a sua remoção sem ajuda de outra pessoa

 Segundo depoimentos da altura, embora o reconhecimento facial do preso fosse inexistente, os seus movimentos leves e maneiras requintadas e distintas, conduziam a uma dedução: deveria ser ainda jovem e da nobreza.
Por questões especificas, o "Máscara de Ferro", na maior parte do tempo, era mantido muito distante das vistas dos demais presos, inclusivamente, sendo a ala do calabouço, na qual ficava a sua cela, muito bem guardada. Para completar a segurança, um convívio restrito com a os guardas, sendo apenas uma pessoa escolhida para tal serviço. Apesar do cuidado extremo na segurança deste homem, era tratado por todos com delicadeza e respeito, principalmente pelo Sr.De Saint-Mars, comandante da prisão.


Saint Mars viaja
Em 1681, Saint Mars foi deslocado para o comando do baluarte de Exilles, em Turim, que, naquela época, era francês. O preso também foi transferido e mantido como tal por seis anos, ou seja, no período completo em que durou estadia de Mars ali.
Saint Mars é transferido, em 1687, para o Mediterrâneo, como comandante da Ilha de Santa Margarida e, mais uma vez, o "Máscara de Ferro", ainda sob a sua responsabilidade, foi conduzido para outra prisão.

 prisão de Exilles

Tentativas falhadas




O infeliz prisioneiro, encarcerado na masmorra da fortaleza, tentou em vão, desesperadamente, estabelecer contacto com o mundo exterior: “com os poucos recursos que dispunha, ora através de fiapos de linho, ora com materiais residuais, tentava a todo custo revelar a sua identidade, com mensagens subtis ou simbologia incógnita, pelo menos para quem os encontrava". Todo o seu esforço foi em vão, não demorando a ser descoberto pela guarda local, causando-lhe assim, uma vigilância redobrada.

A Bastilha

 Permaneceu preso por aproximadamente 11 anos, quando, em 1698, Saint Mars, afastado do comando da ilha, para ir dirigir a prisão "A Bastilha", construída em 1370, já célebre por ter albergado os mais diversos e notáveis personagens.

Como das vezes anteriores, Mars recebeu ordens expressas para levar o "Mascara de Ferro" para a Bastilha.

Foi uma longa viagem, planeada com detalhes cautelosos, equipada com uma robusta escolta de soldados para proteger as duas carruagens utilizadas no translado.
Todas as refeições de Saint Mars, foram sempre acompanhadas pelo misterioso prisioneiro. “O militar, tinha ao seu alcance, devidamente preparadas, duas pistolas sobre a mesa, para que não duvidassem da seriedade e do zelo no cumprimento do dever”.


Tal como anteriormente, também na Bastilha, nenhum registo do infeliz prisioneiro terá sido feito, permanecendo dessa forma, por mais cinco longos anos. Pelos vistos, todas as suas celas estavam separadas do exterior por várias portas, para que nada fosse ouvido no exterior. Só Mars contactava directamente com o infeliz prisioneiro.


Novembro de 1703

 Subitamente e de uma forma totalmente inexplicável, o Máscara de Ferro adoece num dia e morre no dia seguinte.
Terá sido enterrado no cemitério de Saint-Paul, e aí sim, pela primeira vez, seu suposto nome foi revelado, constando dos registos, como sendo De Marchiel, com 45 anos de idade.
Após a sua morte, todos os seus pertences foram queimados.


A identidade revelada?

Em 1711, a cunhada do rei, a Princesa Palatine, mencionou a história numa carta à sua tia.
  O prisioneiro foi tratado muito bem”, ela disse, “mas dois mosqueteiros vigiavam-no o tempo todo, prontos para matá-lo caso ele tentasse tirar a sua máscara. Ele odiava a sua máscara, dormia com a máscara, e provavelmente morreu com a máscara”.
Durante os mais de vinte anos que esteve preso, por maior segredo que se tenha criado, os sussurros foram espalhados, por toda a França, no reinado de Luis XIV.


Várias foram as versões que surgiram referente à “lenda” do homem da Máscara de Ferro;

Teorias:

- Seria o irmão gémeo do Rei, tendo sido excluído, pelo cardeal Richelieu, para poder preservar a integridade do governo da França; o motivo da colocação de uma máscara, foi o de proteger a sua verdadeira identidade, evitando que os cidadãos percebessem a grande semelhança com o Rei. -  Ana, da Áustria, mãe de Luís XIV, teria desposado secretamente Mazarine, seu ministro, tendo, como resultado da união, um filho, um irmão consanguíneo de Luis XIV.

- Seria o duque de Mommouth, um pretendente ao trono da Inglaterra.

-Outra versão chama a atenção para a probabilidade do prisioneiro poder ser o filho do Rei, com uma das suas amantes Lavaltiere, Montespan ou Maintenon.

O mistério em torno do "Máscara de Ferro sempre intrigou os historiadores. Consta que o próprio Voltaire acreditava na versão, de que o cativo não era outro senão o filho mais velho de Ana da Áustria.


 “A versão aparentemente mais confiável, e acreditada na época, afirmava que o prisioneiro era o conde Mattoli, agente do duque de Mântua e que havia sido encarregado das negociações para entrega da cidade de Casale à França, tendo caído no desagrado do rei pelo modo como conduzira o "affaire". Segundo se afirmou; o rei mandara prendê-lo secretamente, entregando-o à guarda permanente de Saint Mars, que era, então, o comandante de Pignerol.”

Na destruição da Bastilha, em 1789, com a destruição dos arquivos, tornou extraordinariamente difícil novas investigações.


 Em 1872, Jung, oficial de gabinete que tinha acesso a todos os documentos até então existentes em França, efectuou um extenso e escrupuloso estudo do caso, que dera margem a tantas controvérsias.

No seu relatório concluiu: “O prisioneiro, conhecido pela alcunha de "Máscara de Ferro", era um nobre de Lorena, o cavalheiro De Hermoises, acusado de insuflar uma revolta, conspirando ainda contra a vida de Luis XIV. Jung relaciona De Hermoises com a notória madame de Brinvilliers, cujas poções venenosas haviam acabado com a vida de muitas pessoas e que, sob tortura, confessou a trama que urdiam contra o rei de França.”

 Estas suas conclusões não foram aceites pela maioria das pessoas. O mistério da "Máscara de Ferro", através dos séculos, permanece insolúvel.

Esta história foi muito divulgada quer através da Literatura, quer do cinema. A versão cinematográfica mais recente conta a historia de Homem da Máscara de Ferro com uma particular relação com o rei Luis XIV. Vale a pena ver o filme, quer pelo argumento, quer pelo elenco



Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/history/1624736-misterioso-homem-da-m%C3%A1scara-ferro/#ixzz1TFb9YGvf 

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Chá das cinco.

Nunca fui uma grande apreciadora de chá. Não sei porquê, mas água quente com o sabor a folhas... hmm.... nunca foi realmente o meu forte (exceptuando o  famoso "chá frio"...). Porém, não poderia deixar passar em vão um "artigo" que li onde, deliberadamente, nos deixam a nós, Portugueses, de fora desta grande História que acompanha o Chá...

A origem

Conta a lenda que no ano 2737 a.C., o imperador chinês Shen Nung estaria a fazer uma pausa durante uma viagem e, enquanto esperavam que fervesse a água para beber, algumas folhas de um arbusto terão caído dentro da mesma, produzindo um líquido acastanhado. O imperador (também um reputado cientista) resolveu experimentar a mistura, acabando-a por classificar como muito refrescante. Assim terá nascido o chá, que rapidamente conquistou os habitantes da China.


Por outro lado, existem muitas provas arqueológicas acerca do papel do chá: escavações encontraram vasos de chá nos túmulos da dinastia Han (206 a.C.–220 d.C.). Porém, foi durante a dinastia Tang (618-906 d.C.) que o chá se tornaria a bebida oficial da China. Atingiu uma popularidade tal, que durante o século VIII foi escrito o primeiro livro inteiramente dedicado a esta bebida – o “Ch'a Ching”, da autoria de Lu Yu.


O chá viaja para a Europa...

O chá foi introduzido na Europa pelos portugueses no século XVI.

Caixa de chá portuguesa

Curiosamente, foram os holandeses quem importou o primeiro carregamento de chá da China, algo que se sucedeu no início do século XVII, depois de terem constituído um posto de trocas comerciais na ilha de Java.


Muito popular na Holanda, o chá circulou para outros países da Europa Ocidental, mantendo-se, no entanto, uma bebida exclusiva dos mais ricos, devido ao seu elevado preço. Foi em 1650 que os holandeses levaram o chá para o continente americano, mais precisamente para a sua colónia “New Amsterdam” (actual Nova Iorque).  


"O chá das cinco"
Um dos hábitos mais caracteristicamente britânico, o "chá das cinco", foi inserido na corte inglesa por Catarina de Bragança (hiperligação!), princesa portuguesa, filha de D. João IV, quando esta casou com Carlos III de Inglaterra.
Catarina de Bragança
O dote de Catarina poderá ter sido um dos mais exóticos e sumptuosos de toda a História: 500 mil libras de ouro, o livre comércio de Inglaterra com as colónias portuguesas na Ásia, em África e nas Américas, a cidade de Bombaim e uma caixa de chá (com cerca de 50 Kg de chá!)...

Este dote terá sido determinante para o futuro imperial da Inglaterra, sendo que o chá iria mudar para sempre a vida dos seus súbditos, tornando-se quase um elemento indissociável da sua personalidade e maneira de ser. Ao ritual do "chá das cinco" estão associados os tradicionais scones e a marmalade, esta última também introduzida por Catarina de Bragança.
Curioso é também o facto de ter sido Catarina a introduzir a porcelana em Inglaterra. Até então, a nobreza tinha as suas refeições em louça de ouro ou prata, o que acabava por resultar na comida absolutamente fria e enregelada... Por outro lado, a rainha também surpreendeu a corte quando se fez acompanhar por uma orquestra  de músicos, de grande qualidade, apenas constituída por portugueses. Qual o motivo de estranheza? Bem, na altura, Inglaterra considerava a corte portuguesa  "pobre e sem modos"...