Perdida na História

Perdida na História

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Fariseus

O que sabemos acerca dos fariseus? Estarão todas as nossas convicções correctas? Serão todas as fontes credíveis? Passados tantos séculos de História, será ainda viável tirar conclusões acerca deste grupo religioso? Neste texto, não pretendo, de forma alguma, responder a todas estas questões, nem tão pouco dar (muita) luz ao tema. Pretendi apenas abordar um tema que, ao contrário daquilo que sempre nos foi dado como certo, abarca diversas opiniões e fontes acerca deste grupo religioso, outrora "tão problemático".

Nota: Tudo aquilo indicado entre aspas (" ") são apenas citações retiradas directamente da fonte, sem qualquer alteração, intenção ou crença por parte da autora do Blog (eu)




O nome


      "No tempo de Jesus, os mais apreciados pela maioria do povo eram os fariseus. O seu nome, em hebraico perushim, significa «os segregados»" [1] contudo, consultando uma segunda fonte informativa, observa-se que "a origem mais próxima do nome fariseu é no latim pharisaeus, que por sua vez deriva do do grego antigo ϕαρισαῖος, assentado no hebraico פרושים prushim . Considera-se que esta palavra vem da raiz parash que significa "separar", "afastar". Assim, o nome prushim ou perushim é normalmente interpretado como "aqueles que se separaram" do resto da população comum para se consagrar o estudo da Tora e das suas tradições. Todavia, a sua separação não envolvia um ascetismo, já que julgavam ser importante o ensino à população das escrituras e das tradições dos pais." [2].



A origem



      Pensa-se que os perushim tenham surgido do grupo religioso judaico hassidim (os piedosos), que terão apoiado a revolta dos macabeus (168-142 a.C.) contra Antíoco IV Epifânio, rei do Império Seleucida, incentivando a eliminação de toda a cultura não-grega, pela assimilação forçada e repressão de qualquer fé particular. Uma parte da aristocracia da época e dos círculos dos sacerdotes apoiaram as intenções de Antíoco, mas o povo em geral, sob a liderança de Yehudah Makkabi (Judas Macabeu) e sua família ter-se-ão revoltado.





      Os judeus conseguiram vencer os exércitos helénicos e estabelecer um reino judaico independente na região entre 142 a.C.- 63 a.C., quando então foram, ironicamente, controlados e dominados pelos Império Romano. Terá sido no período de 142-63 a.C., que a família dos macabeus se terá estabelecido no poder, iniciando uma nova dinastia real e sacerdotal, dominando tanto o poder secular como o religioso. Este acontecimento terá desencadeado uma profunda crise e divisões dentro da sociedade israelita de então, visto que pelas suas origens os Macabeus (também conhecidos pelo nome de família como Asmoneus) não eram da linhagem de David, não podendo assim ocupar o trono de Israel, e também não eram da linhagem sacerdotal araónica [2]



Revolução

       Grupos reaccionários apareceram dentro da sociedade judaica, com o intuito de restaurar o seu prestígio e poder, ou pelo menos o que consideravam como certo segundo a Lei e tradições judaicas. Assim, terá sido nesta altura que, provavelmente, apareceram:

1) Os tzadokim (saduceus), clamando ser os legítimos descendentes de Tzadok e portanto os legítimos detentores do sumo-sacerdócio e da liderança religiosa em Israel, sendo considerados aristocratas.

2) os perushim (fariseus), que partindo do princípio qur serão oriundos dos hassidim que, geralmente, desiludidos com a política, voltaram-se para a vida religiosa e estudo da Torá, esperando pela vinda do Messias e do reino de Deus;

3) Os Essénios, oriundos provavelmente também dos "Hassidim" e de um grupo de sacerdotes descontentes com a situação;desiludidos, ter-se-ão afastado da sociedade judaica, passando a viver uma vida de "total consagração ao Criador na região do deserto a fim de preparar o caminho para a vinda do Messias." [2]



Os perushim

      Os perushim agrupavam-se em "havurot", associações religiosas que tinham os seus líderes e assembléias, e que tomavam juntos as suas refeições. Segundo o consagrado historiador judeu do 1º século d.C, Flávio Josefo, o número de perushim na época era de pouco mais de seis mil pessoas. Este grupo estaria intimamente associado à liderança das sinagogas, ao seu culto e escolas. Pensa-se que também participavam como grande importância, ainda que minoritário, no Sinédrio, a suprema corte religiosa e política do Judaísmo de então. Muitos dentre os "perushim" tinham a profissão de sofer (escriba), a pessoa responsável pela transmissão escrita dos manuscritos e da sua interpretação (quanto a mim, das tarefas mais perigosas numa religião). Crê-se que se tenham desenvolvido Duas escolas de interpretação religiosa no meio dos perushim, tornando-se de grande notoriedade [2]:

 - A escola de Hillel, mais "liberal" na interpretação da Lei,

- A escola de Shamai, mais "estrita".




Fariseus: diferentes perspectivas

      Inequivocamente, os fariseus foram um grupo de extrema influência em Israel, devido aos ensinamentos religiosos e políticos. Seguiam a Tora escrita [2] (Torá ou Pentateuco [1]), na unicidade do Criador, na ressurreição dos mortos, em anjos e demónios, no julgamento futuro e na vinda do rei Messias [1].



      A sua influência era apreciável visto serem os principais mestres nas sinagogas, favorecendo-os como elementos de influência dentro do judaísmo, após a destruição do Templo [2]. Dedicavam toda a sua atenção às questões relativas à observância das leis de pureza ritual, inclusivamente fora do templo. A par da Lei escrita, foram recompilando uma série de hábitos e modos de cumprir as prescrições da Lei, às quais se concedia cada vez mais consideração até chegarem a ser recebidas como Torá oral, atribuída também a Deus. Segundo as suas convicções, essa Torá oral foi entregue, juntamente com a Torá escrita, a Moisés no Sinai, e portanto ambas tinham idêntica força vinculativa [1].

      Efectivamente, a própria Bíblia dá a sua perspectiva acerca deste grupo de fariseus:

      "Como grupo, os fariseus preocupavam-se em estabelecer a sua própria justiça. Pagavam escrupulosamente o dízimo de pequenos produtos tais como a hortelã, o endro e o cominho. (Mat. 23:23) Costumavam jejuar regularmente por motivos religiosos. (Mat. 9:14) Preocupavam-se com a observância das tradições ao pé da letra, especialmente com relação à observância do sábado e da lavagem das mãos. — Mat. 12:1, 2; 15:2.)” [4]

      Contudo, entre outros detalhes, destaca também que:

"A lei mosaica exigia que os israelitas tivessem franjas nas orlas de suas vestes. Era para fazer-lhes lembrar a sua condição santa perante Deus e da necessidade de observar as suas ordens. (Núm. 15:38-41) Os fariseus foram um passo mais longe. Ampliaram as franjas das suas vestes, para se destacar entre o povo. De modo similar, ao passo que surgira entre os judeus o costume de usarem pequenas caixinhas com textos na testa e no braço esquerdo, os fariseus destacavam-se por usarem maiores. — Mat. 23:2, 5." [4]



      Porém, uma outra perspectiva chama ainda a atenção para um outro detalhe. Dentro do grupo "hassidim", estariam incluídos vultos da História de grande valor, nomeadamente "Johanan ben Zacai, Rabi Aquiba, Simão ben Yohay, Gamaliel, Hilel, Ben Azay, inclusive Saul de Tarso que mais tarde troca o seu nome para Paulo" (mais tarde é São Paulo) "Distinguiram-se por sua conduta moral e moderação na vida", pelo que será lícito afirmar que terão existido fariseus de enorme valor moral e religioso.


O cristianismo e os fariseus

       Actualmente, um indivíduo pertencente ao cristianismo deverá, com toda a certeza, ter uma opinião pouco abonatória relativamente ao grupo "fariseu". Possivelmente, esta idea foi passando pela tradição oral ao longo de séculos, assim como pela própria Bíblia que relata que Cristo terá criticado duramente tanto os fariseus, escribas e saduceus, devido à sua avareza, hipocrisia, assim como estarem pouco certos relativamente ao facto da salvação advir da Lei.

      Por último, e não menos importante, uma fonte informativa amplamente divulgada, a Bíblia, relata que os fariseus, juntamente com os seus eternos “rivais”, os saduceus, se terão unido por um bem comum: o afastamento de Cristo da vida pública, que alegadamente teria opinião diferente destes dois grupos religiosos.



Quando a religião mergulha na política


       Para uma considerável parte dos fariseus, a política desempenhava uma função decisiva no seu posicionamento na sociedade, estando ligada ao empenho pela independência nacional, pois, segundo os fariseus, "nenhum poder alheio podia impor-se à soberania do Senhor sobre o seu povo".



Violência

      Mais tarde, sensivelmente a partir de 50 dC, surgem relatos de uma nova perspectiva religiosa: consideravam que a religião também era lícita de se manifestar no âmbito militar, pelo que "não se podia recusar o uso da violência quando esta fosse necessária para vencer, nem havia que ter medo de perder a vida em combate, que era como um martírio para santificar o nome do Senhor."[1]

Alguns ideais fariseus

       Dispersos por diferentes fontes, incluindo o Talmud, chegam até aos dias de hoje algumas ideias fundamentais que se acreditam terem sido edificadas pelos fariseus. Elas são, então:



-"A verdade é o selo de Deus" [2]

-"Mais que toda a acção religiosa, Deus quer um coração puro"[2]

- "Toda oração deve ser precedida por um acto de caridade" [2]

-"Aquele que comete uma falta em segredo, nega a omnipotência de Deus" [2]

 -"Se Deus reserva a recompensa das boas ações para o mundo futuro é com o fim de que os homens ajam neste mundo por convicção e não por interesse" [2]

-"Sêde dos discípulos de Arão, amai a paz e sacrificai tudo para mantê-la" [2]

-"Não julgues teu próximo até que te encontres no lugar dele" [2]

- "Julgai toda a gente com indulgência" [2]

 -"Não envergonhes o próximo em público, porque isso poderia custar-lhe a vida e seríeis um criminoso" [2]

-"Mais vale estar entre os perseguidos que entre os perseguidores"[2]

- "Não te metas em nenhum assunto do qual possa resultar condenado à morte ainda que culpado" [2]

-"Ditoso o homem que sai deste mundo, limpo e sem pecado, como entrou" [2]

-"Grande perigo é substituir Deus do coração por um coração de deus"[2]


Considerações finais

      Inequivocamente, o grupo judaico fariseu é, e sempre será, polémico. Principalmente por, alegadamente, estar envolvido num dos julgamentos mais famosos da História, o julgamento de Cristo. Contudo, o que pensar de todos os outros relatos independentes, onde são retratados como um grupo sério, com elementos de grande valor religioso, e amplamente estimado e apoiado pelo povo? Ainda dentro da controvérsia, como pode um grupo religioso com tão elevados valores morais, pensar sequer em aliar devoção religiosa a perspectivas militares, com todas as justificações para a violência?
      Se é um facto que não tenho respostas para estas questões, é também verdade que a última pergunta não é aplicável apenas aos fariseus…

Fontes:
[1] http://www.opusdei.pt/art.php?p=16393
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Fariseus
[3] http://colecao.judaismo.tryte.com.br/livro2/fariseus.htm
[4] http://bibliotecabiblica.blogspot.com/2009/09/os-influentes-fariseus.html


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