Perdida na História

Perdida na História

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A Alemanha está arruinada.

     Os preços enlouquecem. Saída com uma enorme ferida da 1ª Guerra, a Alemanha ameaça explodir quando a loucura do dinheiro não permite avaliar o real preço das coisas. Numa época em que as notas são utilizadas para aquecer fornos, para fazer wallpapers, para acender aquecedores, numa época em que é necessário ir às compras com cestos e cestos de dinheiro...a Alemanha está arruinada. 

      No século XIX, o fenómeno inflação não era conhecido. Contudo, torna-se recorrente entre 1914-1918. Enquanto no início nada mais é do que uma certa restrição económica, por vezes a inflação degenera ao ponto de constituir um verdadeiro cataclismo. Quando a inflação sobe acima de um determinado ponto, os preços já nada significam, todo o conjunto do sistema económico ameaça afundar-se. À Alemanha de 1923 cabe a triste honra de abrir um ciclo de catástrofes económicas que, curiosamente, ainda hoje não terminou.  

O país de joelhos

      Em 1919 a Alemanha , signatária do Tratado de Versalhes (contra a sua vontade), não acaba a Guerra apenas derrotada. Em parte, está arruinada. A Guerra impôs aos país, tal como aos outros beligerantes, um colossal sacrifício financeiro. O que diferencia a Alemanha da França e Inglaterra é o facto de não poder pedir empréstimo aos USA. Procurou obter dinheiro através da "estampagem de notas", ou seja, emitindo um considerável número de moeda. Tal aumento de dinheiro em circulação vem alimentar a inflação do pós-guerra, dado que passa a existir uma enorme quantidade de dinheiro em circulação e um número muito reduzido de bens disponíveis. 




      A situação era crítica, mas não fica por aqui, dado que a este flagelo soma-se o peso das reparações: dada como responsável pela Guerra, a Alemanha terá de "reparar" os danos materiais que causou. Em Londres, por exemplo, em 1921 os vencedores fixam uma soma astronómica de 132 milhões de marcos-ouro, ou seja, metade da riqueza do país. Era tal e qual como se fosse necessário pagar uma nova guerra após assinar a paz, o preço a pagar era asfixiador. 



      Para o governo alemão, à frente de um país moribundo, a situação é considerada insolúvel. Desta forma, em 1923, insatisfeitos pelo atraso nos pagamentos, franceses e belgas invadem o Ruhr, o verdadeiro pulmão industrial alemão. A Alemanha mergulha, então, na catástrofe monetária. 

Conhecer o abismo alemão

      Perante o desmoronamento das finanças alemãs, a partir de 1922 a espiral inflacionista alemã acelera, acelera...O marco deixa de ter qualquer valor. Mas é necessário manter uma tabela de valores e, neste caso, será a moeda estrangeira dólar que toma o lugar do marco. Para que se tenha noção daquela realidade, 1 dólar era equivalente a 8 000 marcos. 

Crianças brincam com...dinheiro.

      À semelhança dos especuladores, também os consumidores se apressam e antecipam ante a subida dos preços. Os assalariados exigem o aumento paralelo dos vencimentos, alimentando cada vez mais a inflação. No começo de 1922, o dólar vale 200 marcos; no final de 1922 é trocado por 10 000 marcos. Cumulativamente, o processo torna-se caótico com a ocupação do Ruhr e, em Julho de 1923 são precisos um milhão de marcos para um dólar, 160 milhões no final de Setembro e vários mil milhões em Novembro.

      Não há duvidas de que já nos meses de verão, com o colapso do governo Cuno, derrubado por uma greve geral em Berlim, em agosto, a crise política assumia proporções revolucionárias.


Pilha de notas alemãs.

      O Partido Social-Democrata alemão e seus sindicatos filiados, que haviam fornecido a principal viga de sustentação à ordem capitalista no período do pós-guerra, rapidamente perdiam apoio dentro da classe trabalhadora para o Partido Comunista Alemão (KPD). Mas em nenhum estágio desse período o KPD avançou uma estratégia revolucionária pré-determinada e desenvolveu as táticas para implementá-la.


      Tal pareceria anedótico, não se tratasse da vida de milhares de pessoas. Para assegurar o funcionamento "normal" das trocas comerciais nas lojas, são necessárias cada vez mais notas. Trezentas fábricas de papel consagram toda a produção à alimentação de 150 topografias onde funcionam, dia e noite, 2 mil prensas de notas. Isto não basta. Os municípios e empresas passam a ter direito a produzir moeda. São precisos montes e montes de notas para comprar um pacote de manteiga, são precisos 50 mil milhões de marcos para comprar um selo. Para os alemães de então, este processo terá sido brutalmente traumatizante. Nunca esqueceram. 

Mulher usa notas para acender o fogão.


Colapso.

São incalculáveis os efeitos sociais e políticos duma situação destas. Perante a aberração monetária, a Alemanha recupera o primitivo sistema de trocas. Assim, os camponeses recusam entregar por moeda os seus produtos, levando a graves problemas de abastecimento das cidades. Instala-se a fome. Verificam-se centenas de tumultos sociais. A política não aguenta muito mais. No Outono, instala-se a anarquia. 




Anarquia.

      No dia 1 de Outubro, a "Reichswehr negra" do major Buchrucker tenta tomar o poder. Em 8 de Novembro, um pequeno partido dirigido por um tal Adolf Hitler tenta impor-se aquando do golpe da "Cervejaria de Munique". Na Saxónia e na Turíngia assiste-se à formação de pequenos governos de sociais-comunistas que recusam a autoridade do poder central. 
      Em Novembro, Berlim e Hamburgo são palcos de combates de rua. A somar a toda esta anarquia, dada a ocupação francesa, são proclamadas a "República do Reno" ou ainda a "República do Palatinato". A Alemanha está prestes a explodir. 



      Para a burguesia alemã, a política de resistência passiva contra a ocupação francesa e a inflação da moeda apenas criaram uma crise política duradoura e aprofundada — com ameaças à estabilidade da ordem burguesa vindas da direita, na forma dos fascistas, e a ameaça mais séria da esquerda, na forma do KPD.
      Observou-se, então, uma viragem táctica foi feita por ambos os lados. O governo francês concordou com a mediação internacional para os pagamentos de reparação, de modo a alinhá-los com a capacidade da Alemanha em pagar, enquanto que as elites dominantes alemãs agiram para estabilizar a moeda e aceitar a obrigação de realizar pagamentos de reparação. 








Escassez de produtos alimentares.


 Solução, mas por pouco tempo...

      A partir de 1923, o novo governo Stresemann reúne todos os partidos, exceptuando os considerados extremistas. Consegue vencer, uma após outra, as convulsões e combates de rua, mas é ao estabelecer a confiança na moeda que este governo consegue controlar minimamente a situação. 
      Parece ser um facto consumado que em Novembro de 1923, graças a um tratamento de choque, o crédito e a criação monetária são duramente restringidos e são decretadas duras medidas orçamentais.
      Curiosamente, só com o apoio inglês e americano (que de forma alguma desejam uma revolução na Alemanha) é que a confiança na economia alemã é lentamente restituída e romperem o ciclo vicioso das antecipações negativas. 


      De facto, uma comissão foi estabelecida sob a direção do americano Charles Dawes, para considerar meios para equilibrar o orçamento alemão, estabilizando a moeda e desenvolvendo um sistema viável de pagamentos de reparação anuais. O plano fornecia um calendário de pagamentos anuais começando em 1 mil milhão de marcos de ouro no primeiro ano e atingindo 2,5 mil milhões no quinto ano, com variações de acordo com as mudanças na situação económica mundial e respectivo preço do ouro. Assim, uma Agência de Reparações deveria ser estabelecida em Berlim para supervisionar o processo e um empréstimo de 800 milhões de marcos deveria ser levantado para o governo alemão, com uma garantia fornecida por títulos das ferrovias alemãs.



      Este plano Dawes e a restabilização da economia alemã viram a criação de uma nova moeda, o Reichsmark, convertido do antigo marco na razão de 1 "trilhão" para 1, em Agosto de 1924. Sob o acordo, o Reichsbank  tornava-se independente do governo alemão, mantendo uma reserva de ouro e moedas estrangeiras, seguindo um regime de altas taxas de juros como base para seu programa deflacionário. O Plano Dawes era tão necessário para a estabilidade da economia dos Estados Unidos quanto para as economias da Alemanha e do resto da Europa. O sistema de reparações sozinho, como originalmente pensado, era inviável. 



      Contudo, a paz não reina mais na Alemanha e a sociedade não é mais a mesma. Se lhes contassem, nenhum alemão acreditaria no que estaria para vir nos vinte anos que se seguiram...






      Ao todo, a inflação durou pouco mais de um ano. Contudo, os seus efeitos serão de muito longo alcance. A subida dos preços, o descrédito do governo republicano, criaram o clima ideal para, mais tarde, a instauração do governo hitleriano. Efectivamente, mesmo depois da 2ª Guerra Mundial, a Alemanha passa a ter uma forte preocupação de protecção da moeda nacional e da produção nacional. Nunca uma inflação marcou tanto uma nação. 





      Enquanto as pessoas não perceberem que o dinheiro não serve para comer, enquanto não perceberem que o dinheiro é apenas e só um meio de troca de bens e serviços, vamos continuar a ser escravos de pedaços de papel e metal.

Fontes:
http://www.wsws.org/pt/2009/sep2009/ptnb-s18.shtml
Astier et al., (2000), Memória do Mundo, Círculo de Leitores
O vídeo foi utilizado apenas como meio de ilustração do tema, sem que daí resulte qualquer proveito próprio.


sábado, 8 de setembro de 2012

A arte rupestre dos Açores


Descobertas arqueológicas recentes levantam a incrível possibilidade de as ilhas dos Açores poderem já ter tido ocupação séculos antes de os navegadores portugueses lá terem chegado. Alguns, referem mesmo que os Açores terão feito parte da perdida Atlântida...

Açores

      Nuno Ribeiro, presidente da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA) explica que as investigações efectuadas por investigadores dos Açores, Reino Unido, Estados Unidos, Espanha e Alemanha revelaram descobertas arqueológicas relevantes no sentido de demonstrarem a possibilidade de na ilha da Terceira ter existido ocupação humana prévia à chegada dos portugueses.


Ilha Terceira

      "Foi encontrado agora um local de arte rupestre com características que nos levam a crer que remontará à Idade do Bronze", afirma Nuno Ribeiro, em declarações à Lusa em Ponta Delgada, numa conferência na Universidade dos Açores sobre o tema " Ocupações Humanas pré-portuguesas nos Açores: Mito ou Realidade?" 

      O investigador referiu ainda que nos últimos anos terão sido descobertos em diversas ilhas dos Açores vestígios de estruturas que "indiciam pela sua arquitectura e construção serem de origem pré-portuguesa".

      Por outro lado, o investigador português refere ainda outras descobertas que solidificam a convicção duma civilização antiga:  "Temos um epígrafo da época Romana, segundo dois investigadores que convidamos a interpretar a inscrição, um sítio de arte rupestre, estruturas megalíticas, enfim, um conjunto importante de estruturas espalhadas pelas ilhas que precisam de ser interpretadas de outras formas", afirmou. 




      No ano 2011, o investigador anunciou a descoberta de "um conjunto significativo de mais de 5 monumentos do tipo hipogeu (túmulos escavados na rocha) e de, pelo menos, 3 santuários proto-históricos escavados na rocha e possíveis condutas de água". Já no Portuguese American Journal, é referido que estas descobertas poderão estar associadas aos Cartagineses, sendo que os Templos talvez fossem uma oferta à deusa Tanit. 
      Por outro lado, os investigadores não têm qualquer dúvida relativamente à existência de santuários; contudo, falta ainda uma parte crucial no trabalho, nomeadamente a datação das descobertas. 
      
      Contudo, dado o momento difícil que Portugal atravessa, a investigação poderá estar comprometida dada a possível falta de verbas para o prosseguimento dos trabalhos, dado ser necessária a autorização do Governo Regional para efectuar escavações e datar com rigor os elementos já identificados nas ilhas. 


hipogeu

      "O nosso grande problema nesta fase é que o Governo dos Açores não nos autorizou os trabalhos arqueológicos no ano passado, por falta de financiamento e este ano por não se enquadrar num decreto de lei". 



      Um dos grandes problemas de todas estas limitações impostas prende-se com o facto dos  vestígios e locais arqueológicos estarem ao abandono. Por outro lado, o investigador refere ainda que "na ilha do Corvo, enquanto lá estive a passar férias, vi obras a serem feitas no aeroporto sem qualquer acompanhamento arqueológico, a 300 metros tinha sido encontrada uma estrutura com uma planta que, no Alentejo, foi enquadrada com sepulturas".

    


      Estas descobertas têm sido divulgadas através de artigos científicos e apresentadas em congressos internacionais de arqueologia, obtendo uma "grande aceitação junto da comunidade científica internacional", comprovando uma vez mais a qualidade e excelência da investigação em Portugal.  

     Pondo de parte a Ciência, muitos curiosos referem já serem "óbvias" tais descobertas, já que o arquipélago dos Açores "fazia parte da Atlântida, continente que submergiu no fundo do Oceano Atlântico, ficando apenas este arquipélago como memória das maravilhas do Antigo. A antiguidade dos Açores existirá portanto à cerca de 1 000 000 anos ". Confesso já ter ouvido que, não os Açores, mas sim a ilha da Madeira uma parte da mítica Atlântida. 


Atlântida

Atlântida submersa



Fontes:

http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/acores-arqueologia-arte-rupestre-tvi24-ilha-terceira/1370653-4071.html
http://portuguese-american-journal.com/carthaginian-temples-found-azores/
http://www.verportugal.net/Acores/Ponta-Delgada/Noticias/Arte-rupestre-descoberta-nos-Acores=005193 
http://boasnoticias.pt/noticias_Arque%C3%B3logo-diz-ter-achado-arte-rupestre-nos-A%C3%A7ores_12342.html

domingo, 22 de julho de 2012

Tomé Pires e o Império do Meio



Após as fantásticas viagens de Marco Pólo pela Ásia, muitas foram as histórias contadas acerca das maravilhas do mundo desconhecido asiático. Desde criaturas extraordinárias, a paisagens luxuriantes, a exércitos assombrosos, tudo terá sido matéria-prima para povoar a imaginação dos ocidentais. Porém, foi Tomé Pires o primeiro ocidental a descrever de forma completa e documentada as terras compreendidas entre o Golfo de Bengala e o Japão. Foi também o primeiro embaixador europeu na Grande China. Tomé Pires era português.

      Até ao século XVI, a Europa tinha da China uma imagem polvilhada de mitos e crenças fabulosas, alimentadas por lendas sobre os reinos do Gran Cataio. A informação era muito escassa sobre estas terras absolutamente longínquas de onde se obtinham especiarias exóticas alvo de tanta cobiça por parte dos europeus. Se Marco Pólo não revelou grandes detalhes daquelas províncias, muitas das especulações deviam-se grandemente a boatos, baseados em relatos em segunda mão. Não havia nada concreto, até um grupo de portugueses levantarem o véu do temido e misterioso Império do Meio.

Tomé Pires

      A vida de Tomé não é muito conhecida até á sua partida para a Índia (1511). Com cerca de 20 anos é chamado para exercer a função de boticário pessoal do príncipe herdeiro, D.Afonso. Tal não terá causado muita celeuma, dado Tomé ser filho do boticário real. Porém, D. Afonso morre com 16 anos (1491), subindo D.Manuel ao trono, após a morte de D.João II.

      Cerca de vinte anos depois, já com perto de 40 anos de idade, Tomé é enviado para o Oriente como Feitor das Drogas. Com um salário de 30 mil reis anuais, três homens para o acompanhar e servir e direito a negociar 20 quintais de drogas. Levava, contudo, uma carta de D.Manuel para Afonso de Albuquerque, governador da Índia, recomendando Tomé para uma posição que lá vagasse. Deveria, então, estabelecer na Índia uma botica. O futuro, contudo, não passou por aí.



      Parte de Lisboa com a armada de D. Garcia de Noronha e, após uma estadia em Cochim, Tomé Pires instala-se em Malaca (actualmente um estado da Malásia), centro conhecido pela louca actividade comercial, onde se cruzavam experiências do Ocidente com as do Oriente.  
     Entre 1512 e 1515 Tomé visita algumas ilhas próximas do local, aproveitando sempre para estudar as plantas nativas, com possíveis efeitos e para efeitos medicinais.

Especiarias

Especiarias utilizadas na confeção de alimentos, como pimenta, gengibre, canela ou cravo eram na época quase todas utilizadas com finalidade terapêutica, algumas ainda seguindo receitas vindas da Antiguidade. O comércio destes produtos, que circulavam por terra em caravanas até ao Egipto e ao mar Negro, era o ponto de contacto entre os continentes conhecidos até então. Os famosos mercadores de Veneza e árabes serviam de intermediários, até o português Vasco da Gama ter finalmente descoberto o caminho marítimo para a Índia.



O pioneiro.

      Enquanto esteve em Malaca, Tomé Pires escreveu e compilou uma obra monumental: a “Suma Oriental”, um repositório de informações inéditas sobre regiões até então desconhecidas e fabuladas, fornecendo não só dados sobre botânica mas também sobre história, geografia, etnografia, rotas comerciais, moedas locais e até pesos e medidas utilizados naqueles locais. Segundo Jaime Cortesão, “ A Suma Oriental é a primeira descrição europeia da Malásia cujo pormenor não foi (…) ultrapassado durante mais de um ou dois séculos.”. Aliás, Tomé Pires foi o primeiro a referir várias vezes o nome de terras ainda hoje utilizados, como Japão e Singapura; tendo sido também o primeiro europeu a mencionar o arquipélago das Filipinas e a dar uma descrição exacta das Molucas. O capítulo referente a Malaca contém a mais antiga história daquela cidade. Além de tudo isto, Tomé Pires foi o primeiro embaixador europeu na China, país que pouco se sabia em toda a Europa.   




Ventos de mudança?

      No final de 1516, Tomé Pires era um homem abastado. Estava em Cochim, pronto para navegar de volta à Pátria. Mas não o fez. Chega nesse preciso ano uma armada à Índia, comandada por Fernão Peres de Andrade, com o intuito de estabelecer relações diplomáticas com as terras da China. Qual o melhor português para desempenhar tal missão, senão Tomé Pires?

      Os historiadores questionam a escolha de Tomé Pires para a tarefa, visto não ser nobre, como acontecia habitualmente. Contudo, era um homem de trato delicado, tendo já provado o seu valor na resolução de problemas administrativos ao serviço da Coroa no Oriente; esteve ligado à corte como boticário; adquiriu prestígio com a riqueza que granjeara; falava línguas e conhecia o Oriente; era um homem prudente e curioso e, acima de tudo, possuía uma característica apreciada pelos chineses: “só um idoso poderia ser considerado embaixador na China” e Tomé tinha já 50 anos.






A China

      Dos “chins” ouvira Tomé contar os mercadores de Malaca que “comem com dous paaos”, que “gabam muito nosso vinho, embebedamse grãde mente” e que “as molheres parecem castelhanas tem sayas de refugos e coses e sainhos mais compridos emrodilhados por gemtill maneira em cima da cabeça”. Surgia agora a oportunidade de conhecer estes tesouros, e o boticário não vacilou.

Estadia insólita

      Cristóvão Vieira, prisioneiro em Cantão em 1524, escreve uma carta e é através dela que se tem conhecimento da actuação e viagens de Tomé Pires na China.
     Zarpou rumo à costa norte de Samatra, subindo pelo mar da China até à entrada do rio Cantão. Seguindo o costume europeu da época, os portugueses fizeram-se anunciar e saudaram os anfitriães com grande estrondo de artilharia e com o hastear da bandeira Portuguesa. Contudo, tal comportamento foi sentido como ofensivo, tendo aí começado todo o calvário de Tomé Pires e de toda a missão. Só no final de Outubro Tomé Pires chega a Cantão, ficando alojado nas “casas mais nobres da cidade”. Porém, os seus anfitriões não cederam, e só um anos depois Tomé Pires consegue autorização para seguir viagem. Parte em 1520 para Nanquim onde, inesperadamente, o imperador Wu Tsung se recusa a recebê-lo, mandando-a seguir para Pequim.



O mistério resolve-se?

      Toda a viagem que prometia ser altamente promissora e diplomática, estava a revelar-se um verdadeiro imbróglio. Aparentemente, o rei muçulmano de Malaca teria escrito ao imperador chinês, denunciando a ferocidade dos portugueses, acusando-os de espionagem, chamando a atenção para a ameaça económica e militar que representavam.
     As erradas traduções dos textos, motivadas pela falta de preparação dos intérpretes, assim como a oferta, pouco deslumbrante, que os portugueses levavam, da parte do rei D. Manuel para o imperador da China, em nada beneficiaram a imagem dos lusitanos, que acabam por ter um acolhimento áspero por parte do Imperador.



     Três meses depois da chegada a Pequim, Wu Tsung morre. A embaixada é mandada voltar para Cantão, levando consigo os presentes do rei português. Deveriam permanecer encarcerados até os portugueses abandonarem Malaca.

Fim.

      Nos anos seguintes, os chineses derrotaram duas armadas enviadas para resgatar o embaixador Tomé Pires. A sua situação agravava-se a cada dia de cárcere, estando sempre algemado e privado de bens. Pouco depois foi ditada a sentença de morte e, em 1523 deu-se o massacre de 23 portugueses.
      Quanto ao destino de Tomé Pires, nada de sabe, permanecendo realmente um mistério até hoje. Uns referem ter sido morto com os seus companheiros em Cantão, em 1523; outros referem que terá sucumbido a doenças nas masmorras em 1524; outras fontes dizem ainda que terá passado os restantes anos de vida preso, exilado, impedido de sair do país. Fernão Mendes Pinto, que por lá terá andado trinta anos depois, diz na obra “Peregrinação” ter encontrado uma rapariga chinesa que se dizia cristã e filha de Tomé Pires, chamada Inês de Leiria. Teria casado por lá, deixado descendência e morrido vinte anos depois.
      
      Qual o real destino do primeiro europeu embaixador na China, ainda hoje permanece um mistério por resolver. O que parece ser facto, é a perseguição que os portugueses viveram na China durante trinta anos, após o massacre de 1523.

Viagens de portugueses no Oriente

     Aqui encontram-se algumas partes relativas às intrincadas e perigosas relações entre portugueses e chineses: http://fabiopestanaramos.blogspot.pt/2011/01/as-relacoes-internacionais-entre.html

Fontes
- Coutinho, R (2002) Missão Impossível, National Geographic, Setembro.

sábado, 21 de julho de 2012

Um Rei "Sem-Terra"



Possivelmente é o rei com pior fama em toda Inglaterra. Muita vezes apenas designado como Príncipe, João I de Inglaterra desde sempre se debateu com vários problemas na governação do reino, desde dívidas, a rebeliões, excomunhões...Contudo, o maior problema de João terá mesmo sido o facto de ser irmão de Ricardo, Coração de Leão. 


      João I de Inglaterra nasceu na véspera de Natal de 1166, sendo o filho mais jovem de Leonor de Aquitânia e Henrique II, o primeiro rei da Dinastia dos Plantagenetas (1154-89), que governou um extenso império que incluía a Aquitânia e a Normandia, juntamente com Inglaterra. Curiosamente, os seus filhos eram tão indisciplinados que ficaram conhecidos como a “geração do diabo” e nunca se esperou que um dia, o filho mais novo, pudesse vir a subir ao trono.




      Foi o único dos filhos legítimos de Henrique II que não se revoltou contra o poder do pai, aquando das guerras com a mãe, Leonor de Aquitânia (ver neste blogue “ A Guerra da…Barba”). Possivelmente como compensação, João foi nomeado Senhor da Irlanda em 1185. Os relatos contam que o seu governo foi desastrado, tendo sido obrigado a abandonar o território poucos meses depois.
      Já em 1188, Henrique tentou tornar João Duque da Aquitânia, em substituição de Ricardo Coração de Leão em quem não confiava. O resultado foi catastrófico para Henrique II, que morreu durante a expedição punitiva organizada contra Ricardo.
      Ricardo acaba por ascender ao trono e, antes de partir para a Terra Santa, nomeou como seu sucessor e herdeiro da coroa o sobrinho Artur, um rapaz de 12 anos, filho do seu irmão Godofredo, pretendente ao trono. Inesperadamente, entre1189 e 1194, João terá sido a mais importante individualidade de Inglaterra durante a ausência de Ricardo, primeiro em cruzada, depois no cativeiro na Alemanha.

Ricardo, Coração de Leão

      João acaba por se insurgir contra Ricardo, de novo em aliança com o rei da França, apoderando-se da alta Normandia e da Touraine. Apesar das animosidades com o irmão, foi João um dos responsáveis por angariar dinheiro para enviar a Ricardo em situações de maiores apuros, como no caso dos 150 000 marcos necessários para pagar o resgate de Ricardo a Henrique VI, Imperador do Sacro Império. Tal dinheiro representava na altura uma verdadeira fortuna, algo colossal, que obrigou à imposição de impostos especiais, deixando Inglaterra na bancarrota. Apesar do dinheiro se destinar ao Grande Ricardo, foi João o angariador, foi a João que o povo odiou e repudiou e tornou vilão para a posterioridade.

Estátua de Ricardo, Coração de Leão

  Segundo crónicas posteriores, João seria um homem egoísta e fútil, dado a violentos acessos de fúria e mau génio, constando que “deitava espuma pela boca e mordia ramos de árvores”. Curiosamente, era muito comentado na época o facto de João ter o estranho hábito de tomar muitas vezes…banho! Um costume pouco habitual e regular na época.




      Enquanto o irmão de João, Ricardo “Coração de Leão” (1189-99), estava ausente numa cruzada, João tentou controlar Inglaterra, organizando uma conspiração por forma a impedir o regresso do irmão. Toda a sua tentativa foi em vão, o Rei regressa e as terra de João são-lhe confiscadas, daí o cognome “Sem-terra”. Outras fontes referem que o seu cognome vem do facto de ter sido o filho que não herdou qualquer terra aquando da morte de seu pai.

      Conta a História que Ricardo acaba por lhe perdoar e João sucede-lhe como rei, em 1199. Contudo,  João assegurará a sua pretensão ao trono assassinando o sobrinho Artur: João invade o Ducado da Bretanha em 1202, levando Artur I a apelar à ajuda do rei Filipe II de França, declarando-se seu vassalo. Artur foi capturado e assassinado, no ano seguinte, mas já era tarde demais para impedir a intervenção dos franceses.


João I, de Inglaterra

      Apesar de administrador bastante competente, João revela-se um fraco soldado, perdendo a herança francesa a favor do rei Filipe Augusto de França, em 1204-05. Porém, no que diz respeito a administração, João tentou reorganizar as finanças do país, debilitadas após a assombrosa soma paga para o resgate de Ricardo. Dentre as medidas mais famosas, está um imposto sobre os nobres que não cumpriam o seu dever para com a coroa, não enviando soldados e/ou material militar.

      Um certo acumular de fracassos, levam João a reivindicar direitos reais ignorados pelos seus antecessores. Efectivamente, João foi durantes muitos anos o primeiro rei a passar a maior parte do tempo em Inglaterra. Viajou por todo o país angariando dinheiro, havendo relatos de não ser muito escrupuloso quanto aos métodos utilizados. Contudo, é de referir uma vez mais que terá sido João a herdar as avultadas dívidas das campanhas de Ricardo, quer na Terra Santa, quer noutros locais. 




      Acaba por ser um reinado desastroso, assistindo a uma disputa com o Papa Inocêncio III, acerca da escolha do Bispo da Cantuária. Não foi com surpresa que João acaba por ser excomungado e Inglaterra recebe ordem de interdição vinda do Papa: não se poderiam realizar serviços religiosos, baptismos, casamentos ou funerais. Numa má jogada, um rei humilhado cede, desiste e rende-se. A classe nobre vê tal como um sinal de fraqueza, utilizando tal acção como um rastilho para a revolução, colocando o país em guerra.

       

      Com o intuito de refrear os seus excessos, barões e outros nobres, apoiados pelo Clero, forçam João a assinar a Magna Carta, em Runnymede, no Tamisa, no ano de 1215.



      Esta famosíssima Carta esclarecia inequivocamente que o Rei estava sujeito à lei e dava direitos aos cidadãos contra a prisão sem culpa formada e extorsão de dinheiro; limitava o poder monárquico, sendo um tratado de direitos, mas principalmente deveres, do rei para com os seus súbditos. Considera-se que este tratado marca o início da monarquia constitucional em Inglaterra. O documento, muito avançado para a época em questão, veio a influenciar muitos países além da Inglaterra. Por exemplo, nos Estados Unidos da América, mantêm uma cópia do original.

Magna Carta

      Infelizmente para a estabilidade do país, João rapidamente ignora o documento e as promessas feitas: pediu ajuda ao Papa, que o absolveu do juramento. João passou a ignorar todos os pontos do documento.
Em 1216, muitos barões descontentes com o reinado de João Sem -Terra, apoiaram a invasão da Inglaterra pelos franceses liderados pelo príncipe Luis VIII de França, sendo proclamado "Rei de Inglaterra" em Maio desse ano, mas nunca foi coroado. Obviamente, Luis reconheceu o cargo com grande pompa e celebração na Catedral de St. Paul, em Londres onde muitos nobres incluindo o próprio Rei Alexandre da Escócia (1214-1249) estavam presentes e lhe juram vassalagem.



      Quanto ao rei, João ofereceu resistência durante um ano e meio, porém, durante a campanha, João é apanhado na zona pantanosa de Norfolk, em Wash. Perde as jóias da coroa.  Não passaram muitos anos até que morresse, praticamente sozinho, sem amigos e calcula-se que envenenado por um abade. Quanto a Luís, também ele não foi rei de Inglaterra, tendo assinado o Tratado de Lambert em 1217, reconhecendo que nunca terá sido, efectivamente, um rei legitimo de Inglaterra. Subiu ao trono Henrique III, filho de João,  em Outubro de 1216. A Magna Carta foi aceite em nome de seu filho e sucessor, Henrique III, pela regência (Henrique era menor de idade), em Novembro daquele ano, suprimindo-se algumas cláusulas, inclusive a 61ª. Quando atingiu a maioridade, aos 18 anos, em 1225, Henrique republicou o documento mais uma vez, numa versão ainda mais curta, com apenas 37 artigos.

      Filmes e obras como Robin Hood ou Ivanhoe imortalizaram a tirania de João, “Sem-terra”, realçam o seu talento na colecta de impostos e avareza quase infinita. Praticamente em nenhum local são referidas as avultadíssimas dívidas que João herda das viagens do irmão, quer à Terra Santa, quer a outros locais. Nunca é mencionado o facto de Ricardo ter preferido andar a lutar por outras terras, em vez de estar presente e governar o seu país. Curiosamente, João fica na História como o vilão que impõe impostos aos mais ricos e Ricardo como o Grande Coração de Leão.

Príncipe/Rei João - filme Disney

Rei Ricardo- filme Disney

“62º – Remimos e perdoamos, inteiramente, em todos os homens, qualquer inimizade, injúria, ou rancor que se tenha levantado entre nós e nossos súditos, tanto clérigos quanto leigos, desde o começo da disputa.”    Magna Carta  



Fontes:
Price-Budgen, A. (1988) People in History, Círculo de Leitores

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Terra Prometida

Os louros foram desde sempre entregues a Cristóvão Colombo. Ele descobriu o Continente Americano. Porém, além da famosa controvérsia acerca da nacionalidade do descobridor, talvez a maior epopeia da sua vida não esteja ilesa de polémica. De facto, verificações recentes mostram que uma lenda com centenas de anos talvez tenha alguma veracidade e Cristóvão Colombo não foi o primeiro europeu no Novo Mundo...

      Recuamos ao século V,  entre os anos 484 e 486, nasce Brandão, em Ciarraighe Luachra, próximo da actual cidade de Traleecondado de KerryIrlanda. Baptizado e educado pelo célebre bispo Erc de Kerry e por Santa Ita, Brandão abraça a vida monacal, vindo-se mais tarde a tornar abade. Todo o seu percurso de vida terá sido de tal forma exemplar que o vem a tornar um dos santos mais célebres de toda a Irlanda. Com efeito, em vários pontos do país, há diversos locais a honrar o seu nome. 


      Não terá sido pelas suas viagens em terra que Sto.Brandão terá perdurado na lenda. De facto, Sto Brandão tem o cognome de "Navegador", atribuído ao monge dada a sua grande paixão pela navegação e viagens. Pensa-se que terá visitado as ilhas as ilhas Órcades e Shetland e possivelmente as Faroe, um feito de dimensão muito considerável, dado que no século V a Irlanda era a fronteira entre o conhecido e o temível desconhecido.






As Navigatio Sancti Brendani

       A Vita Sancti Brendani, a biografia de São Brandão, composta em latim eclesiástico por volta do século X, terá sido a obra mais copiada (e possivelmente modificada…) da alta Idade Média, tendo-se conhecimentos de várias traduções e diversas versões. É, então, a partir desta obra que são criadas diversas histórias e lendas, presentes na maioria da cultura dos povos ocidentais europeus, nomeadamente celtas, tendo-se escrito numerosas obras acerca das viagens de São Brandão.

      O mais curioso destas lendas é o facto de serem mencionadas viagens e visitas a locais na altura ainda desconhecidos ou, pelo menos, assim se pensava…A lenda atribui a São Brandão uma viagem pelo Atlântico noroeste, tendo chegado a uma terra, normalmente descrita como ilha, fora do mundo conhecido até então, actualmente atribuída ao continente americano. Esta epopeia, descrita nas várias versões do Naviagtio Sancti Brendani, levou a que existisse uma grande proliferação de ideias, mantendo desde sempre a ideia de tentar conhecer o que existia mais além, assim como, tentar alcançar a terra que São Brandão teria visitado. De facto, sabe-se historicamente que Cristóvão Colombo terá dito antes de embarcar que ia finalmente conhecer a "Terra de São Brandão".




A viagem

      A viagem de São Brandão, inicia-se com a sua partida, acompanhado por um numeroso grupo de monges a partir da sua abadia de Shanakeel (ou Baalynevinoorach), nas proximidades de Ardfert, costa ocidental da Irlanda, em busca da Ilha das Delícias (ou do Paraíso). Qual o motivo que teria São Brandão para tais viagens? Bem, tudo indica que seria a ideia de peregrinação e evangelização. O que é facto, é que em algumas ilhas alegadamente visitadas por São Brandão, foram realmente encontradas pequenos eremitérios, associados à prática missionária.


     Segundo a tradição eclesiástica islandesa, a viagem poderá ter tido início a 22 de Março, início da celebração da festa de Egressio familiae Sancti Brendani. Quanto aos companheiros de viagem, as versões não são unânimes, sendo por vezes mencionados 18, podendo mesmo chegar aos 150.





      Contudo, esta alegada viagem ao continente americano, a ter-se realizado, terá efectivamente sido um feito verdadeiramente notável, dado as técnicas e práticas de navegação serem bastante diferentes daquelas praticadas no tempo de Cristóvão Colombo. Por outro lado, as histórias referem diferentes tempos de viagem, sendo que, numa das versões, indica-se 7 como o número de anos que São Brandão terá levado a visitar diferentes locais e a encontrar criaturas exóticas. Num dos relatos, os aventureiros referem ter encontrado um peixe tão grande que terão confundido com uma ilha, onde terão inclusive feito uma fogueira. Dadas as descrições, o “peixe gigante” seria uma baleia azul.




      Após longos sete anos, a lenda refere que São Brandão e companheiros de viagem terão finalmente encontrado a “Terra do Paraíso”, onde elaboram uma belíssima descrição de uma terra de indescritível beleza e luxuriante vegetação.  

     O maior problema de toda a narrativa atribuída aos navegadores é o facto de não ser nunca mencionada a rota tomada pelos navios, pelo que “a Terra do Paraíso” de São Brandão ainda hoje permanece em mistério.



        Ao regressar à Irlanda, as histórias das viagens dos monges proliferam, e correm todo o mundo cristão. A costa da Irlanda torna-se em pouco tempo um importante centro de peregrinação, com Ardfert no centro. Múltiplas casas religiosas e abadias são erigidas no local.  

      Apesar de ser consensual a existência deste monge irlandês, é com alguma dificuldade que a comunidade científica aceita o facto de um grupo de monges ter alcançado a costa americana, atravessando o difícil e traiçoeiro Atlântico Norte, com os rudimentares meios de navegação daquele século.



Provas?

      Porém, em 1976 o escritor e aventureiro Tim Severin construiu uma embarcação semelhante àquela utilizada naquele tempo, tendo partido da Irlanda rumo à Islândia, Gronelândia e à “Terra Nova”. Um ano depois da partida, Severin prova que uma viagem numa embarcação rudimentar, apesar de ser extremamente difícil, era possível. Contudo, na sua obra “The Brendan Voyage”, Severin refere que a sua viagem não prova que São Brandão tenha mesmo chegado às Américas, apenas prova que era possível. Provas credíveis teriam de passar pela descoberta de relíquias arqueológicas irlandesas em solo americano, apesar de Severim acreditar que Brandão terá mesmo chegado à América.




      Em 1983, Barry Fell, um biólogo marinho da Universidade Harvard, descobriu petróglifos (duas imagens seguintes) num local da Virgínia Ocidental. Após uma análise cuidada, Fell associa a escrita a um conhecido alfabeto irlandês utilizado na Irlanda entre os séculos V e VIII. Mais curioso ainda é o facto das mensagens gravadas nas pedras estarem relacionadas com a mensagem do nascimento de Cristo e religião em geral. 






      Após a divulgação destes resultados na comunidade científica, muitos foram aqueles que apontaram diversos erros aos métodos utilizados por Fell. Um dos problemas prendia-se com o facto das pedras não poderem ser datadas, dado o seu elevado grau de degradação actual. De facto, não será propriamente a origem da escrita que terá sido posta em causa, mas sim o conteúdo das mensagens.

    Se por um lado se sabe que os Vikings estiveram efectivamente na América do Norte antes de Cristóvão Colombo, a presença dos irlandeses antes dos Vikings continua sem certificação científica. Contudo, torna-se curiosa a menção ao facto de que os próprios Vikings transmitiam na sua cultura oral a presença irlandesa no continente americano, antes da sua própria chegada lá. 


Viagens Vikings


       Outro detalhe é avançado por algumas histórias locais americanas onde é referido o facto dos indígenas, aquando da chegada de Colombo, estarem já familiarizados com o “homem branco”, mencionando ainda que o “antigo homem branco vestia-se também de branco e vinha de terras além da nossa”.




O vídeo é propriedade do canal História, tendo sido encontrado no youtube e aqui colocado com a mera intenção de exemplificação e clarificação dos temas abordados. 

      Apesar de continuarem a existir incertezas acerca dos irlandeses poderem ter sido os primeiros europeus a chegar às Américas, cada vez mais existem evidências que apontam para o facto de Cristóvão Colombo não ter sido o primeiro europeu a chegar a solo americano. 





Fontes: