Perdida na História

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domingo, 24 de janeiro de 2016

A grande fome

Nos meados do século XIX, a fome na Irlanda transforma-se num cataclismo. Desde esse momento e durante muito tempo, a Irlanda torna-se num país mártir. De imediato, os irlandeses começam a abandonar a terra.

    Entre dois recenseamentos, de 1841 a 1851, a Irlanda perde cerca de 25% da população. Um cataclismo de tal dimensões é único na Europa moderna, e bastante inesperado dado acontecer às portas de Inglaterra, um país aparentemente estável e rico. É sem sombra de dúvida que é a partir de 1844 que a Europa passa por uma fome incrível, uma enorme crise alimentar. Contudo, parece que a Irlanda foi o único país onde a terrível crise alimentar degenera num cataclismo, numa fome terrível durante, pelo menos, cinco longos anos. 

Um equilíbrio precário 

    A amplitude do problema poder-se-á dever às próprias características da Irlanda do começo do século XIX, particularmente frágil. Em 1840, momentos antes da fome, a ilha está extraordinariamente povoada. A população terá duplicada em cerca de 50 anos, sendo então considerado o país mais denso da Europa. Por outro lado, quase todo o território está ocupado pela atividade agrícola, sendo a pressão sobre a terra extremamente forte, e as rendas extremamente altas. O sistema do conacre está bastante divulgado: trata-se do aluguer de um pequeno pedaço de terra apenas pelo tempo de uma colheita. As consequências são particularmente más: cada ano o camponês tem de inquietar-se e incomodar-se a buscar uma nova forma e sítio para sustentar a sua família. A situação dos trabalhadores agrícolas e dos trabalhadores sem terra é cada vez mais precária. Curiosamente, é a batata que permite uma concentração de população tal numa superfície tão fraca. Perfeitamente adaptada ao clima irlandês,  graças à sua elevadíssima produção, este tubérculo permite sustentar uma família de seis pessoas durante um ano, num terreno de aproximadamente 7000m2. Era a verdadeira base da alimentação dos Irlandeses. 

    A batata chegou à Irlanda por volta do ano 1590, tendo sido fácil o seu cultivo já que o clima húmido e temperado propiciava o seu crescimento; além disso, a batata podia ser plantada até mesmo em solo pobre. Servia de alimento para homens e animais. 
    Em meados do século XIX, aproximadamente um terço de toda a terra arável era utilizada no cultivo da batata. Quase dois terços da produção eram usados para o consumo humano. Um irlandês da classe média comia batata todos os dias e quase nada mais. 



A doença inesperada

    O tubérculo milagroso sofre uma dura queda na sua produção quando a doença "da batata" tem lugar. A culpa parece dever-se a um fungo específico, Phytophthorans infestans, que se começa a desenvolver nas folhas da planta e, durante a apanha, estende-se até ao próprio tubérculo. As batatas que parecem sãs à primeira vista, simplesmente apodrecem em poucos dias. Para além disto, o fungo parece ficar latente nos tubérculos e continuar a razia em anos seguintes. À parte disto, a Irlanda junta nestes anos vários factores para a proliferação da praga: pouco gelo, forte humidade, ausência de chuvas violentas, que em outras ocasiões limpariam as folhas. 

Batata infectada com Phytophthorans infestans

Uma desgraça política

    À parte da grande doença da batata, a situação política do país começa a contribuir de forma evidente para o cataclismo do país. Desde o século XVI que este país é governado pela Inglaterra. Parece não se tratar de uma união, mas sim de um claro domínio, traduzido pela ocupação das terras férteis pelos landlords inglese que, apesar de não residirem na Irlanda, retiram de lá todos os lucros possíveis. No momento da grande fome, este distanciamento entre os proprietários e camponeses, impedem que a solidariedade e caridade atuem de forma adequada, numa época em que o estado ainda não é capaz de tomar nas suas próprias mãos a assistência aos necessitados. Precisamente é também devido a membros do Estado, concretamente devido ao afastamento de Londres com responsabilidades  diretas na Irlanda, que se deve a grande inadequação das medidas tomadas. 




Junção de catástrofes

    Em Agosto de 1845, quando a colheita se anuncia excelente, surgem pela primeira vez os sintomas da doença da batata. Em Outubro, na altura da colheita, não restam dúvidas: o essencial da colheita está perdido. E com ela o principal recurso alimentar do país. Só nos primeiros meses de 1846, as reservas esgotam-se. Para os mais pobres, a situação é um desastre já que não tem absolutamente acesso a nenhum alimento. Torna-se um pesadelo quando a própria colheita de 1846 não pode sequer ser aproveitada. O mesmo acontecerá nos anos seguintes. 
    Perante a falta deste alimento, o povo é forçado a consumir as reservas de cereais, destinadas à exportação. Não conseguem portanto obter dinheiro, não conseguindo pagar a renda. Expulsos, vão engrossar as filas dos sem-abrigo. 



    Por outro lado, nos registos do inverno de 46-47 registam-no como glacial. Apesar de ser uma situação inusitada na Irlanda, a neve começa a cair desde Outubro. Só em Cork, em cada semana de Dezembro são registados cerca de 100 sem-abrigos. 
    A catástrofe segue com a subida do preço das sementes, devido às más colheitas em toda Europa, impedindo o governo inglês de importar massivamente a "sua" cota parte de colheitas de cereais, agravando a situação também em Inglaterra. 
    Os organismos absolutamente débeis pela fome, as doenças começam a formar parte do quotidiano da Europa. A disenteria mata milhares de crianças, o escorbuto aparece devido à falta de vitamina C, normalmente contida na batata.
    Em 1847 é declarada uma epidemia de tifo. Em 1849, de cólera. No total, por cada individuo morto pela fome, morrem dois vitimados pelas doenças. 

Um governo desarmado?

    Em 1845, em Novembro, pressionado pelas alarmadas noticias que chegam da Irlanda, decide finalmente comprar cereais aos Estados Unidos. O problema é que se recusa a renovar a compra depois de esgotadas as provisões na Primavera. Ora é precisamente nesta altura que começa a verdadeira fome. Todas as tomadas de decisão do governo Inglês parecem fora de tempo e de contexto. Será necessário esperar pelos meados de 1847 para que surjam as primeiras sopas de distribuição de sopa aos pobres. 



    Perante a amplitude do desastre, assim como, frente à incapacidade governamental, para muitos a única solução é partir. Um milhão de irlandeses emigra durante a grande fome. Outro milhão em 1850. 
      Em 1847, navios com destino ao Canadá eram designados por "tumbas”, ou navios-caixão. Dos cerca de 100 000 emigrantes, mais de 16 000 morreram no mar, ou momentos depois de desembarcar. Cartas enviadas a amigos e parentes na Irlanda relatavam as horríveis e desumanas condições das viagens, mas nem isso deteve grande uma considerável quantidade de pessoas de emigrarem.

   Considerando o número de emigrantes, juntamente com o número de falecidos, a queda demográfica é muito significativa. De forma irónica, os registos da época parecem indicar que foi a diminuição populacional que ajudou a travar a grande catástrofe, já que a pressão agrária diminuiu drasticamente, diminuindo o fator de impacto da grande fome. Contudo, a doença da batata continuou por alguns anos mais. 

   O governo criou leis que cancelavam todas as dívidas contraídas em consequência da fome. A população começava a crescer de novo. Embora a praga afetasse algumas colheitas nos anos seguintes, tal não poderia ser comparado aos anos de horror que resultaram na perda de mais de um quarto da população da Irlanda devido à grande fome.








Fontes:
http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/102002726#h=32
https://www.ego4u.com/en/read-on/countries/ireland/great-famine
http://www.historylearningsite.co.uk/ireland-1845-to-1922/the-great-famine-of-1845/
Circulo de Leitores, 2000, Memória do Mundo - das origens ao ano 2000. 

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Terra Prometida

Os louros foram desde sempre entregues a Cristóvão Colombo. Ele descobriu o Continente Americano. Porém, além da famosa controvérsia acerca da nacionalidade do descobridor, talvez a maior epopeia da sua vida não esteja ilesa de polémica. De facto, verificações recentes mostram que uma lenda com centenas de anos talvez tenha alguma veracidade e Cristóvão Colombo não foi o primeiro europeu no Novo Mundo...

      Recuamos ao século V,  entre os anos 484 e 486, nasce Brandão, em Ciarraighe Luachra, próximo da actual cidade de Traleecondado de KerryIrlanda. Baptizado e educado pelo célebre bispo Erc de Kerry e por Santa Ita, Brandão abraça a vida monacal, vindo-se mais tarde a tornar abade. Todo o seu percurso de vida terá sido de tal forma exemplar que o vem a tornar um dos santos mais célebres de toda a Irlanda. Com efeito, em vários pontos do país, há diversos locais a honrar o seu nome. 


      Não terá sido pelas suas viagens em terra que Sto.Brandão terá perdurado na lenda. De facto, Sto Brandão tem o cognome de "Navegador", atribuído ao monge dada a sua grande paixão pela navegação e viagens. Pensa-se que terá visitado as ilhas as ilhas Órcades e Shetland e possivelmente as Faroe, um feito de dimensão muito considerável, dado que no século V a Irlanda era a fronteira entre o conhecido e o temível desconhecido.






As Navigatio Sancti Brendani

       A Vita Sancti Brendani, a biografia de São Brandão, composta em latim eclesiástico por volta do século X, terá sido a obra mais copiada (e possivelmente modificada…) da alta Idade Média, tendo-se conhecimentos de várias traduções e diversas versões. É, então, a partir desta obra que são criadas diversas histórias e lendas, presentes na maioria da cultura dos povos ocidentais europeus, nomeadamente celtas, tendo-se escrito numerosas obras acerca das viagens de São Brandão.

      O mais curioso destas lendas é o facto de serem mencionadas viagens e visitas a locais na altura ainda desconhecidos ou, pelo menos, assim se pensava…A lenda atribui a São Brandão uma viagem pelo Atlântico noroeste, tendo chegado a uma terra, normalmente descrita como ilha, fora do mundo conhecido até então, actualmente atribuída ao continente americano. Esta epopeia, descrita nas várias versões do Naviagtio Sancti Brendani, levou a que existisse uma grande proliferação de ideias, mantendo desde sempre a ideia de tentar conhecer o que existia mais além, assim como, tentar alcançar a terra que São Brandão teria visitado. De facto, sabe-se historicamente que Cristóvão Colombo terá dito antes de embarcar que ia finalmente conhecer a "Terra de São Brandão".




A viagem

      A viagem de São Brandão, inicia-se com a sua partida, acompanhado por um numeroso grupo de monges a partir da sua abadia de Shanakeel (ou Baalynevinoorach), nas proximidades de Ardfert, costa ocidental da Irlanda, em busca da Ilha das Delícias (ou do Paraíso). Qual o motivo que teria São Brandão para tais viagens? Bem, tudo indica que seria a ideia de peregrinação e evangelização. O que é facto, é que em algumas ilhas alegadamente visitadas por São Brandão, foram realmente encontradas pequenos eremitérios, associados à prática missionária.


     Segundo a tradição eclesiástica islandesa, a viagem poderá ter tido início a 22 de Março, início da celebração da festa de Egressio familiae Sancti Brendani. Quanto aos companheiros de viagem, as versões não são unânimes, sendo por vezes mencionados 18, podendo mesmo chegar aos 150.





      Contudo, esta alegada viagem ao continente americano, a ter-se realizado, terá efectivamente sido um feito verdadeiramente notável, dado as técnicas e práticas de navegação serem bastante diferentes daquelas praticadas no tempo de Cristóvão Colombo. Por outro lado, as histórias referem diferentes tempos de viagem, sendo que, numa das versões, indica-se 7 como o número de anos que São Brandão terá levado a visitar diferentes locais e a encontrar criaturas exóticas. Num dos relatos, os aventureiros referem ter encontrado um peixe tão grande que terão confundido com uma ilha, onde terão inclusive feito uma fogueira. Dadas as descrições, o “peixe gigante” seria uma baleia azul.




      Após longos sete anos, a lenda refere que São Brandão e companheiros de viagem terão finalmente encontrado a “Terra do Paraíso”, onde elaboram uma belíssima descrição de uma terra de indescritível beleza e luxuriante vegetação.  

     O maior problema de toda a narrativa atribuída aos navegadores é o facto de não ser nunca mencionada a rota tomada pelos navios, pelo que “a Terra do Paraíso” de São Brandão ainda hoje permanece em mistério.



        Ao regressar à Irlanda, as histórias das viagens dos monges proliferam, e correm todo o mundo cristão. A costa da Irlanda torna-se em pouco tempo um importante centro de peregrinação, com Ardfert no centro. Múltiplas casas religiosas e abadias são erigidas no local.  

      Apesar de ser consensual a existência deste monge irlandês, é com alguma dificuldade que a comunidade científica aceita o facto de um grupo de monges ter alcançado a costa americana, atravessando o difícil e traiçoeiro Atlântico Norte, com os rudimentares meios de navegação daquele século.



Provas?

      Porém, em 1976 o escritor e aventureiro Tim Severin construiu uma embarcação semelhante àquela utilizada naquele tempo, tendo partido da Irlanda rumo à Islândia, Gronelândia e à “Terra Nova”. Um ano depois da partida, Severin prova que uma viagem numa embarcação rudimentar, apesar de ser extremamente difícil, era possível. Contudo, na sua obra “The Brendan Voyage”, Severin refere que a sua viagem não prova que São Brandão tenha mesmo chegado às Américas, apenas prova que era possível. Provas credíveis teriam de passar pela descoberta de relíquias arqueológicas irlandesas em solo americano, apesar de Severim acreditar que Brandão terá mesmo chegado à América.




      Em 1983, Barry Fell, um biólogo marinho da Universidade Harvard, descobriu petróglifos (duas imagens seguintes) num local da Virgínia Ocidental. Após uma análise cuidada, Fell associa a escrita a um conhecido alfabeto irlandês utilizado na Irlanda entre os séculos V e VIII. Mais curioso ainda é o facto das mensagens gravadas nas pedras estarem relacionadas com a mensagem do nascimento de Cristo e religião em geral. 






      Após a divulgação destes resultados na comunidade científica, muitos foram aqueles que apontaram diversos erros aos métodos utilizados por Fell. Um dos problemas prendia-se com o facto das pedras não poderem ser datadas, dado o seu elevado grau de degradação actual. De facto, não será propriamente a origem da escrita que terá sido posta em causa, mas sim o conteúdo das mensagens.

    Se por um lado se sabe que os Vikings estiveram efectivamente na América do Norte antes de Cristóvão Colombo, a presença dos irlandeses antes dos Vikings continua sem certificação científica. Contudo, torna-se curiosa a menção ao facto de que os próprios Vikings transmitiam na sua cultura oral a presença irlandesa no continente americano, antes da sua própria chegada lá. 


Viagens Vikings


       Outro detalhe é avançado por algumas histórias locais americanas onde é referido o facto dos indígenas, aquando da chegada de Colombo, estarem já familiarizados com o “homem branco”, mencionando ainda que o “antigo homem branco vestia-se também de branco e vinha de terras além da nossa”.




O vídeo é propriedade do canal História, tendo sido encontrado no youtube e aqui colocado com a mera intenção de exemplificação e clarificação dos temas abordados. 

      Apesar de continuarem a existir incertezas acerca dos irlandeses poderem ter sido os primeiros europeus a chegar às Américas, cada vez mais existem evidências que apontam para o facto de Cristóvão Colombo não ter sido o primeiro europeu a chegar a solo americano. 





Fontes: