Perdida na História

Perdida na História

sábado, 1 de dezembro de 2012

O dia em que Portugal perdeu a Independência



Um rei alucinado

     Desde tenra idade Sebastião era uma criança problemática, em termos de saúde. Já em novo, padeceu de alguns ataques súbitos, possivelmente epilepsia. Porém, era de absoluta necessidade “restabelecer” este jovem, afinal, tratava-se do Rei de Portugal, coroado em 1557. 

    Apesar de uma saúde precária, Sebastião acreditava veemente ter sido o escolhido por Deus para grandes feitos, para grandes vitórias. Desde cedo manifestava grande fervor quer religioso, quer militar, uma combinação um tanto ou quanto perigosa…




     Dado os ferozes ataques de piratas na rota portuguesa para o Brasil, quer os frequentes assaltos de Muçulmanos aos territórios portugueses em África, nomeadamente Norte de África, a Coroa Portuguesa decide investir não na conquista de novos territórios, mas na manutenção das colónias já conquistadas e adquiridas. Quanto ao Rei, continuava a sonhar com batalhas, conquistas e a difusão da Fé, realmente convicto de ser o capitão de Cristo numa nova cruzada contra os mouros do Norte de África.

A Batalha dos três Reis

     Sem casamento, sem descendentes, D. Sebastião começa a preparar uma magnífica expedição militar a Fez, após uma brava Batalha em Tânger (1574). O soberano aplica uma parte significante da riqueza do Império Português para equipar uma desmedida frota, assim como um grande exército. Quanto ao exército, terá sido este uma má escolha, dado incluir 2 000 voluntários de Castela (liderados por Alonso de Aguilar), 3 000 mercenários alemães e da Flandres (comandados por Martim da Borgonha) e ainda 600 italianos. 
     Curiosamente, no que diz respeito à parte portuguesa, tal não terá sido isento de alguma corrupção, o que fez com que o exército expedicionário, de cerca de 15 000 a 23 000 homens, fosse pouco disciplinado, mal preparado, inexperiente e com pouca coesão. 



A "elite" do exército era composta pelos "aventureiros", nobres portugueses veteranos nas guerras de África e do Oriente, e pelos "mercenários" estrangeiros, veteranos das guerras do norte da Europa. A força expedicionária terá reunido também 500 navios”.

     A expedição parte a 25 de Junho de 1578, passa por Tânger, por terra, “havendo quem preferisse que se fosse por mar, para permitir maior descanso às tropas e o necessário reabastecimento em víveres e água”. A chegar a Alcácer Quibir, encontra o exército de Mulei Moluco, largamente superior, quer em número, quer em experiência. 

     

     Esta batalha ficou conhecida como a Batalha dos Três Reis: D. Sebastião, o seu aliado sultão Mulei Moluco (Abd Al-Malik da dinastia Saadi) e o opositor, Sultão de Marrocos Mulay Mohammed (Abu Abdallah Mohammed Saadi II, da dinastia Saadi), com apoio otomano.

Portugal desaparece?

     Para Portugal foi o desastre. O rei parte para a guerra sem esposa, sem descendentes, sem jovens parentes portugueses e não mais regressa. Grande tumulto em Portugal, quando o sucessor de D. Sebastião, o seu tio-avô o Cardeal-Rei D. Henrique, igualmente sem descendência, morre anos depois. Abre-se uma profundíssima crise. São apontadas quatro hipóteses de sucessão: Catarina de Portugal, (neta de Manuel I de Portugal, esposa de João I, Duque de Bragança); o seu filho adolescente Teodósio; António, Prior do Crato (neto de Manuel I, tido pela sociedade da época como ilegítimo) ou ainda Filipe de Habsburgo, Rei de Espanha, (também neto de Manuel I, por via feminina)




     Ganha Filipe de Habsburgo, Rei de Espanha, começando em Portugal um profundo e deprimente século de domínio espanhol. Foram três os Filipes espanhóis reinantes no território nacional: Filipe I de Portugal (1580-1598), Filipe II de Portugal (1598-1621) e Filipe III de Portugal (1621-1640) até à tão esperada Restauração da Independência, a 1 de Dezembro de 1640.

Portugal, novamente.

     Filipe I quando toma posse, nas cortes de Leiria, em 1580, assegura velar pelos interesses do País, respeitando as leis, os usos e os costumes nacionais. Obviamente, com o passar do tempo, essas promessas foram sendo desconsideradas, os cidadãos nacionais perderam privilégios e passaram a uma situação de subalternidade relativamente a Espanha. A situação torna-se agonizante, começando a existir conspiração em todos os recantos do país. Tornava-se, portanto, urgente, crucial, retomar para mãos portuguesas o território Português. Nesta conspiração, não só os nobres estavam interessados, mas a própria Igreja sentia que, além da perda de poder, a própria nacionalidade, o espírito português estava cada vez mais a desaparecer…lentamente, mas profundamente.  

     O texto seguinte demonstra bem o sentido português:

Parece não haver dúvida de que a ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da independência plena de Portugal após 60 anos de monarquia dualista. Cinco séculos de governo próprio haviam forjado uma Nação, fortalecendo-a até ao ponto de rejeitar qualquer espécie de união com o país vizinho. (…)A independência fora sempre um desafio a Castela e uma vontade de não ser confundido com ela. (…) Para a maioria dos Portugueses, os monarcas habsburgos não eram mais do que usurpadores, os Espanhóis, inimigos, e os seus partidários, traidores.” 

     Efectivamente, desde D. Afonso Henriques até ao último rei português D. Sebastião, muitos foram os ataques, intrigas, guerras e batalhas sangrentas encetados por Espanha para tomar Portugal. Nunca conseguidos até a 1580.

A Cultura abandona-nos…

     Durante o período castelhano, a cultura espanhola infiltra-se rapidamente no território, não deixando espaço para pensar ou refletir sobre o caso. A perda da individualidade cultural era sentida pelos portugueses, com reacções distintas a favor da língua Pátria, assim como, da sua expressão em termos de prosa e poesia. Porém, os que assim pensavam, sabiam que os seus esforços seriam estéreis sem a recuperação da independência política.




A economia foi estrangulada.

     A partir do século XVII a economia portuguesa está, decididamente, moribunda. O outrora Império Português atravessava agora um sério perigo com a entrada em campo de holandeses e ingleses. Portugal perdera, então, o monopólio comercial na Ásia, África e Brasil, resultando daí que todos os nobres, clero ou burguesia recebiam cada vez menos receitas. Quanto aos Espanhóis, estes insurgiam-se fortemente contra a presença portuguesa nos seus territórios, utilizando diversos processos, entre os quais a Inquisição, “situação que suscitou grande animosidade nacionalista tanto em Portugal como em Espanha, aprofundando o fosso já cavado entre os dois países.”

     Já no território nacional, a situação era agonizante, com os altíssimos preços dos produtos (cereais, carvão, azeite, entre outros) e a constante escalada de impostos. Havia cada vez mais um fosso sem fundo para a pobreza. Onde residia a culpa? A resposta estava na boca de todos os portugueses: Espanha, a causa de todos os males.

     À parte todos estes problemas, surge um outro detalhe nesta nossa submissão a Espanha. Com este domínio sobre nós, Portugal perde a sua posição de isenção nas guerras europeias, dado que em muitas guerras que Espanha participava, agora obrigava exércitos portugueses a combaterem por si, contra outras Nações. Os portugueses começam a pensar no porquê de combater por Espanha em guerras que nada lhe diziam. Lutar por lutar, que fosse... contra Espanha. 

1 de Dezembro

     No 1º dia de Dezembro de 1640, 40 fidalgos entram no Paço da Ribeira, onde reside a Duquesa de Mântua, representante de Espanha, matam o seu secretário Miguel de Vasconcelos e vêm à janela proclamar D. João, Duque de Bragança, rei de Portugal. 
     Acabava assim, abruptamente, 60 anos de domínio espanhol sobre Portugal. A tão desejada revolução foi recebida com gáudio em todo o País. Restava, porém, defender as fronteiras de Portugal de uma represália espanhola. Para tal, todos os homens dos 16 aos 60 anos foram mandados se alistar e fundidas novas peças de artilharia.



     D. João, duque de Bragança, foi aclamado como D. João IV, entrando em Lisboa dias depois. Por quase todo o Império metropolitano e ultramarino as notícias da mudança do regime e do novo juramento de fidelidade foram recebidas e atendidas sem qualquer dúvida. Apenas Ceuta permanece fiel à causa de Filipe IV, III de Portugal.



     A reorientação do reinado terá sido feita tendo em conta prioridades: reorganização do aparelho militar, restauração de fortalezas das linhas defensivas na fronteira, fortificação das guarnições e obtenção de material e reforços no estrangeiro. 

“Paralelamente, uma intensa actividade diplomática junto das cortes da Europa – no sentido de obter apoio militar e financeiro, negociar tratados de paz ou de tréguas, e conseguir o reconhecimento da Restauração – e a reconquista do império ultramarino. A nível interno, a estabilidade do regime dependeu, antes de mais, do aniquilamento de toda a dissensão a favor de Espanha”.

D.João IV

     Portugal não tinha um exército moderno, as forças eram escassas, especialmente na fronteira terrestre, as suas coudelarias haviam sido extintas e os seus melhores generais lutavam pela Espanha algures na Europa. 

“Do lado português, tudo isto explica por que motivo a guerra se limitou em geral a operações fronteiriças de pouca envergadura. Do lado espanhol, é preciso lembrar que a Guerra dos Trinta Anos (até 1659) e a questão da Catalunha (até 1652) demoraram quaisquer ofensivas de vulto." 

     O Tratado de Lisboa é assinado em 13 de Fevereiro de 1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, onde este último reconhece a independência d Portugal.

Feriado

     O dia 1 de Dezembro fica para a História de Portugal como o dia em que Portugal afirma finalmente a sua independência de Espanha, éramos uma Nação. 
     Desde o século XIX este dia torna-se feriado nacional, em memória de todos aqueles que sofreram 60 anos de tormento e domínio espanhol e que tiveram a coragem de voltar a tomar as rédeas desta nobre Nação. É, efectivamente  o feriado nacional mais antigo em Portugal, tendo passado pela I República, pelo Estado Novo, pela Nova Democracia. 




     Contudo, em nome da crise actual, em 2012 é proclamado que os trabalhadores precisam de produzir mais, trabalhar mais. Assim, o Governo de Portugal decide acabar com alguns feriados nacionais, quer religiosos, quer laicos. Desta forma, este dia 1º de Dezembro de 2012 poderá ser o último dia em que se celebra a nossa independência, dado que este dia deixará de ser feriado. Para muitos, o dia em que essa decisão foi tomada, foi o dia em que Portugal voltou a perder a independência. 


Fonte:
http://ebicuba.drealentejo.pt/ebicuba/dezembro1/dezembr1.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Restaura%C3%A7%C3%A3o_da_Independ%C3%AAncia
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/Restauracao/RI.htm



2 comentários:

  1. Portugal, o pequeno Grande, desde Celtiberos, lusitanos (Viriato), Descobridores, conquistadores, guerreiros, e mais...

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  2. Nada disso é verdade absoluta, na realidade a maior parte da burguesia, dos comerciantes, e da nobreza restante, queria fazer parte da Espanha, que na época estava no auge de seu poderio inclusive tendo possessões na europa continental...achavam que teriam parte neste grande bolo espanhol, mas acabaram relegados a uma simples provincia de Espanha...

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