Perdida na História

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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Richelieu, o cardeal

A 29 de Abril de 1624, Armand Jean du Plessis, cardeal de Richelieu, toma lugar no Conselho do rei Luis XIII, assegurando o governo do Reino. Cerca de três meses depois, converte-se no chefe: assim permanecerá até à morte, com o título de ministro principal. O seu sucesso é o de um lutador obstinado.


O Destino


    Desde o início Richelieu tem de combater o destino. Como todos os nobres, sonha em criança com cavalgadas, proezas guerreiras e glória. Mas, órfão constrangido a assegurar à família os subsídios de um cargo eclesiástico, ingressa na vida religiosa: em 1606, com 24 anos, este parisiense apenas conhece a miséria e a lama de Luçon, um obscuro arcebispado do Poiton.
    Porém, o excepcional valor deste bispo "contrafeito" sensibiliza Maria de Médicis - regente todo-poderosa de França, depois do assassinato do marido Henrique IV, em 1610- durante a assembleia dos estados gerais de 1614, onde é delegado. O jovem entra para o seu serviço, torna-se seu capelão e um dos seus homens de confiança. Obtém o secretariado de Estado de Guerra e dos Negócios Estangeiros... Mas cai em desgraça após o assassinato do favorito da rainha-mãe, Concini. De facto, terá sido o filho de Maria de Médicis quem terá mandado matar Concini. Quanto a Richelieu, tem de empenhar toda a sua paciência para negociar a reconciliação do então rei Luis XIII e de sua mãe e reconquistar o seu lugar na corte: em 1624 este capítulo encerra-se quando é chamado ao Conselho - à excepção do título de cardeal que conseguira dois anos antes, parte do zero nesse ano.






Primeiras audácias

    Para Richelieu, só o poder do rei e a grandeza da França contam. Esta suprema "razão de Estado" anula princípios e contradições. Uma vez que o confronto com a Espanha, a grande potência da época que pretende defender o catolicismo, é inevitável, Richelieu não vê qualquer inconveniente, para vencê-la, em aliar-se aos soberanos protestantes, embora ele próprio seja um alto dignitário católico.
    Se os protestantes estrangeiros servem para a sua política, os protestantes habitantes do reino são considerados pragas e uma ameaça intolerável de agitação e divisão.

    Embora usando tal como eles a barba em ponta, Richelieu julga os nobres igualmente perigosos. Em 1627, pela 1ª vez na história da França, manda condenar à morte dois nobres por se terem batido em duelo, desprezando as leis do reino. Mas desconfia sobretudo das conspirações do grandes...cuja susceptibilidade é atiçada pelos agentes secretos espanhóis, pela rainha mãe e até por Gastão de Orleães, irmão do rei, francamente invejoso do poder de Richelieu.



    Só em finais de 1630, a 10 de Novembro, é que o melancólico rei decide afastar a mãe e só nesse momento Richelieu consegue, enfim, impor-se verdadeiramente. Efectivamente, Richelieu não fica satisfeito com o mero afastamento da rainha, promove e leva também a cabo o exílio de todos os apoiantes da rainha.


Homem de ferro


    Em 1631 começa a guerra aberta contra a Espanha, no quadro que assola a Europa: a Guerra dos Trinta Anos. O início é desastroso e as despesas megalómanas.  Os impostos são aumentados enormemente. Para justificar estes sacrifícios, Richelieu incentiva o médico protestante Teofrasto Renaudot a criar o primeiro jornal francês, La Gazette , que virá a apresentar os acontecimentos do dia, mas de acordo com o que mais lhe convém.
   


    Em 1635, funda também a Academia Francesa, de forma a ter sempre à sua disposição escritores e pensadores que o defendam.    
    Porém, os camponeses sobre quem recaem os pesadíssimos impostos não lêem as suas obras, nem os seus jornais. Miseráveis, armados de forquilhas e paus, revoltam-se. Richelieu responde com uma repressão muito violenta e muito sangrenta. Com a mesma brutalidade, enfrenta as revoltas dos grandes, por detrás dos quais se encontra sempre Gastão de Orleães: até o favorito do rei acaba decapitado.


 
Obra positiva

    Além de destruir, Richelieu foi também capaz de contruir. Dotou a França da sua primeira marinha de guerra, lançou as bases do império colonial: começa a povoar o Canadá, onde atribuem o seu nome a um afluente do rio São Lourenço, fundam-se colónias no Senegal e em Madagáscar. Começa a tomar-se o gosto dos produtos vindos das Américas, desde o tabaco até à cana de açúcar.



    Este homem de vontade indomável, que dorme pouco e trabalha muitíssimo, acaba por encontrar tempo para a sua glória pessoal, ao mesmo tempo que se ocupa dos bens do Estado. Manda construir em Paris um magnífico palácio (futuro Palais - Royal) e readquire, na província, a terra de Richelieu que a sua família tivera de vender, edificando aí uma cidade modelo. Curiosamente, Richelieu ficou também conhecido por cortejar as damas da Corte, algo pouco vulgar.

Fim.

    Em 1643, o cardeal cede ao seu último destino. Durante toda a sua vida o seu grande corpo, nervoso e seco, atormentou-o com febres, dores e infecções. Nos últimos anos já não consegue montar a cavalo, nem tão pouco suportar os balanços de um carro. Percorre o reino deitado numa liteira transportada por vinte e quatro homens que se revezam. O anúncio da sua morte não provoca qualquer lágrima: nos campos, acedem-se fogueiras e só se ouvem gritos de alegria.

    A este ministro detestado, só se associa o medo e a miséria. Contudo, foi graças a ele que a França se tornou numa enorme potência.

    De acordo com vários historiadores, os seus escritos e pensamentos políticos são comparáveis ao filósofo italiano Nicolau Maquiavel.

Fonte: Astier et al, (2000), Memória do Mundo, Cículo de Leitores

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