Perdida na História

Perdida na História

sábado, 29 de outubro de 2011

Quinta-feira negra

Poder-me-ia estar a referir ao ano de 2008. Poder-me-ia estar a referir a 2010. Ou simplesmente estar a falar do presente. Não é fácil encontrar as diferenças...

    
      Supõe-se que tudo terá começado em 22 de Outubro de 1929. Toda a crise económica mundial. Tudo parece ter tido início no mercado de valores da Bolsa de Nova Iorque, com um craque financeiro como nunca antes fora visto.

      Na quarta feira venderam-se 2,5 milhões de acções . As vendas tinham começado no sábado anterior, talvez devido ao crescimento da taxa de desconto do Banco de Inglaterra que atraía fundos...Como a oferta excede a procura, as cotações baixam, quando a opinião está habituada a crer que elas subirão indefinidamente: tinham quadruplicado em quatro anos e duplicado no Verão.
      Em teoria, é preciso pagar de imediato à Bolsa de Nova Iorque. Na prática, os cambistas aceitam negociar mediante uma entrada de 10% do custo das acções: eles avançam o resto, reembolsando-se sobre a mais-valia na altura da venda. Mas, como os preços param de subir, acaba a mais-valia e, portanto, o reembolso certo! A solvência dos devedores é preocupante, exigindo-se pagamentos imediatos. Para reembolsar, os devedores vendem títulos, aumentando ainda mais a oferta, baixando as cotações: desencadeia-se uma espiral diabólica.



5ª feira negra

        São vendidos quase 13 milhões de acções: duas vezes mais do que aquilo que alguma vez se vendeu num só dia. Os cinco principais bancos nacionais tentam travar o movimento, um dos seus representantes compra, em 5 minutos, acções por 30 milhões de dólares, acima da cotação. É um balão de oxigénio, mas que apenas dura algumas horas. Ao fecho, a situação está ainda mais agravada. Na 2ª feira, os bancos lançam a esponja e deixam de apoiar as cotações. Na 3ª feira, são vendidos 16 milhões de acções, as cotações, descem ainda mais, sempre mais, trocam-se acções a um dólar. Um dólar. A cotação mínima.
        Em 22 dias o índice Dow Jones dos valores industriais cai mais de 40%.



      A situação cria de imediato um imenso pânico entre os portadores de acções e os corretores. Quinta- feira de manhã, na Wall Street, onde se situa a bolsa, circulam os piores rumores, há cenas de histeria: o economista e historiador americano John Galbraith fala de : "louco e desenfreado pandemónio para vender" e de " pavor cego e sem piedade". Especuladores, grandes e pequenos, milionários e seus motoristas estão absolutamente arruinados; antes do meio-dia, a crer nos números oficiais, uma dúzia de pessoas suicida-se, algumas lançando-se de uma janela.
      Conta-se que no Waldorf Astoria, o hotel mais luxuoso da cidade, o porteiro fora obrigado a perguntar aos clientes que pediam um quarto:

 " Excelência, é para dormir ou para saltar?"

Catástrofe

      Apesar de todas as boas palavras do presidente Hoover, que vê a "prosperidade à esquina da rua", os especuladores arruinados esvaziam as suas contas bancárias e os bancos não conseguem aguentar, uma vez que os outros depositantes pedem também para serem reembolsados. Mais de 600 estabelecimentos abrem falência em 1929, mais de 1 300 em 1930. Os poucos bancos sobreviventes restringem enormemente o crédito.  Por outro lado, os especuladores arruinados já não são consumidores: a crise bolsista passa a crise económica generalizada.


      O desmoronamento do edifício financeiro não é a única causa da crise, mas serviu como detonador duma situação já explosiva.

      A produção e o consumo descem, as empresas abrem falência: mais de 22 000 em 1929, mais de 26 000 em 1930, mais de 28 000 em 1931. Em 1932, o rendimento nacional americano é metade do que era antes da crise, tal como a massa salarial: o desemprego total ou parcial atinge 25% da população activa.


 
      Obviamente, quem não tem emprego, não consegue comprar, se não consegue comprar o comércio não vende, logo, as lojas fecham, pelo que as fábricas não têm motivo para produzir: mais despedimentos, mais desemprego, mais fecho de estabelecimentos (semelhanças com a actualidade?). 







       Os produtos industriais descem 30%, os produtos agrícolas descem 60%. Os agricultores são muitissimo atingidos. Muitos ficam totalmente arruinados, expropriados, tornando-se pedintes e errantes, tal como descreveu John Steinbeck em "As Vinhas da Ira".



A peste alastra-se

     A fuga dos capitais americanos leva à falência os sistemas bancários internacionais. Depois, os USA tomam medidas proteccionistas e o comércio mundial desmorona-se. Os países exportadores agrícolas são brutalmente atingidos. No Brasil, por exemplo, o café tornado inútil é queimado nas locomotivas, já não interessa o que compromete o equipamento industrial e o desenvolvimento.

     Todos os países são afectados. O desemprego traz miséria, como algumas nações não estavam habituadas a ver. Não existem indemnizações. No fim de 1932 contam-se em média 40 milhões de desempregados no sector industrial.  



Sopa dos pobres

     A miséria atingiu cidades e campos, ninguém escapou, lançando no desespero enormes camadas da sociedade americana, criando um clima de tensão favorável ao desenvolvimento da criminalidade e do racismo. Uma nova multidão de pobres ocorriam aos refeitórios populares onde esperavam receber sopa e pão: a sopa dos pobres. Houve registo de violência quando, por exemplo, a sopa terminava e a
última pessoa que tinha tido direito era uma pessoa negra ou de uma etnia diferente.







Ventos de Mudança?

      As consequências, inevitavelmente, tocam a política. As equipas dirigentes perdem as eleições  (republicanos nos USA  e direitas francesas, ambos em 1932, assim como em 1936).
Organizam-se marchas dos desempregados tanto nos USA como em Inglaterra, e até nos países fascistas como Itália se observam manifestações. Sobretudo, o fracasso do liberalismo económico leva alguns a pôr em causa o liberalismo político e a procurar soluções: defende-se uma planificação e a intervenção estatal nos USA (New Deal) e na França (Frente Popular); ganha-se uma nova paixão pela URSS cujas características desconhecem o desemprego. De facto, um número crescente de eleitores adere aos movimentos de inspiração fascista, depois aos delírios nazis. Na Alemanha, a crise e o desemprego deram a mão a Hitler, que sobe ao poder como um salvador.



      O desmoronar das trocas comerciais fragmenta o mundo em blocos concorrentes. A França e a Inglaterra fecham-se nas suas colónias; o Japão ganha mercados com as conquistas militares; a Alemanha cria uma clientela cativa na Europa do Leste. A ideia de comunidade internacional torna-se anacrónica.

      O mundo não é mais o mesmo. Em 1939, estala um dos maiores descalabros da Humanidade: a 2ª Guerra Mundial.  




2 comentários:

  1. "PARA MUDAR UM REGIME POLITICO, APROVEITA-SE UMA CRISE ECONÓMICA.SE NÃO HOUVER CRISE Á MEDIDA DOS INTENTOS, CRIA-SE!!"
    ...assim foi em 1929 com a ascensão do fascismo e nazismo...e assim é exactamente hoje com a ascenção de toda uma serie de ideologias que por receio e cobardia estavam escondidas, mas que aproveitam uma crise criada por actos criminosos tipificados em Lei, actos estes transformados em "politicas" para não serem puniveis, e usam "a crise" para mudar o regime...ou para tentar...ou:para tentar. Para começar querem mudar as leis laborais, e para acabar querem que quem trabalha e produz seja escravo.NINGUÉM TENHA A MINIMA DUVIDA SOBRE ISTO!!
    ...mas também acontecerá se nós deixarmos...

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  2. só mudar as datas e realmente.... onde é que já vi isto?.. assustador eles andam aí novamente (...os vampiros)

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