Perdida na História

Perdida na História

sábado, 22 de outubro de 2011

Cartagineses

Conhecidos por serem um povo muito envolvido no comércio, pouco se sabe acerca das suas origens e modo de vida. Apesar da incógnita, o povo de Cartago influenciou em grande escala grandes acontecimentos do Mundo Antigo.


O nascimento de Cartago

     Diz a lenda que a cidade de Cartago foi fundada pela princesa fenícia Dido que, ao desembarcar na costa africana, pediu ao chefe local para construir ali uma cidade. Ele disse que poderia construir num pedaço de terra que a pele de um boi cobrisse e assim foi. Dido terá mandado cortar a pele em tiras muito pequenas de forma a cobrir uma área muito mais vasta. A lenda refere ainda que Dido terá preferido sacrificar a própria vida do que casar com o chefe tribal local.

Dido

      Ora, nenhuma das duas histórias consegue ser provada, nem tão pouco quem realmente terá fundado a cidade. Possivelmente, a cidade poderá ter sido fundada por fenícios provenientes da cidade-estado Tiro, em 814 aC. Mais tarde, depois de Nabucodonosor, rei da Babilónia, ter subjugado Tiro, os fenícios e os carianos terão fugido, vindo a ocupar um enorme acampamento, possivelmente a base da futura grande cidade.  



A cidade

     Embora Cartago já não exista, sabe-se que nasceu do que actualmente é Tunes e que os cartagineses chegaram a ser poderosíssimos comerciantes no mar Mediterrâneo. Eram implacáveis na sua forma de domínio e afundavam, sem hesitar, todas as embarcações que cruzassem as suas águas sem autorização.



      Negociavam importações de vários reinos e terras, recebendo a prata e o chumbo de Hispânia e da Sardenha, a madeira de Atlas e o trigo da Sicília. Perante as fontes antigas, os cartagineses correram todo o Mediterrâneo, entraram na Baía de Biscaia, chegaram ao rio Níger, atravessaram o deserto do Sahara, assim como, terão atingido o Canal da Mancha.

      A sua influência fez-se sentir em larga escala no Mediterrâneo Ocidental. Pelas inscrições, sabe-se que chegaram a Atenas, Delos, Tebas e Mênfis, assim como terão imitado os gregos quer na arquitectura, quer no próprio vestuário.

Características

Não se sabe muito acerca do seu carácter.  Contudo, alguns historiados chamaram-lhes "comedores de papa" e disseram que não eram "bebedores".Já Plutarco, o grande historiador romano refere:

"Os cartagineses são duros e tristes, submissos para os seus chefes e desumanos para os súbditos, cobardes perante o medo, cruéis na fúria, teimosos nas decisões e austeros, não dão importância às diversões nem aos momentos gratos da vida".

     Certamente, esta era a visão de um cidadão romano que, comparativamente à sua civilização, os cartagineses lhe pareceram inferiores. Porém, tal não é inteiramente correcto. Crê-se que não eram cobardes, visto terem sido grandes exploradores, assim como, sabe-se que consumiam pratos com especiarias e doces e que bebiam vinho por belas taças, pelo que dificilmente seriam muitos austeros.

      Eram fortes e resistentes e usavam vestes compridas; cobriam geralmente a cabeça com uma espécie de fez e com um turbante e os homens usavam, habitualmente, barba. Quanto ao cabelo, ou era liso ou encaracolado, comprido, com uma franja ou apanhado com uma fita. Usavam jóias valiosas e quer homens quer mulheres usavam perfume.



     Curioso é também o facto de não ser invulgar o uso de tatuagens. As mulheres, por seu lado, utilizavam o estilo grego nas suas vestimentas, com túnicas suavemente apanhadas na cintura.

Sacrifícios?

     A sociedade cartaginesa tinha a mulher num elevado estatuto e a maioria dos homens casava apenas com uma mulher. As crianças tinham uma boa instrução prática.
    
     Pensa-se que os historiadores tenham exagerado relativamente aos terríveis rituais cartagineses, de sacrifício de crianças e, embora eles tenham existido, sem dúvida, é natural que essa prática apenas ocorresse em momentos de grande tensão.
    
     Por exemplo, no ano 310 aC, Cartago viu-se ameaçada de invasão e os cartagineses pensaram que teriam ofendido o seu deus: Crono. Já haviam sacrificado crianças e doentes e outras tinham sido "compradas com esse objectivo", mas para aplacar a fúria de Crono, 200 crianças de famílias nobres foram colocadas, uma a uma, nas mãos da gigantesca estátua do deus, em bronze, e de lá rebolavam para o fogo. Os restos mortais das crianças incineradas eram guardados em urnas de barros e, posteriormente, enterrados.

Os exploradores

      Além de grandes comerciantes, os cartagineses eram também grandes exploradores. Algures entre o ano 500 aC e 420 aC, o almirante cartaginês Hanão organizou uma expedição para efectuar comércio marítimo em torno da costa africana, possivelmente para fundar colónias a sul. Muitos historiados crêem que ele terá chegado até à Serra Leoa e ao Golfo da Guiné, mas não é provável  que tenha estabelecido rotas permanentes de comércio. Não existe prova concreta que tenham comerciado além de Marrocos.
      Porém, a viagem à Serra Leoa é descrita com algum pormenor. Conta-se que Hanão passou no estreito de Gibraltar com sessenta navios de 50 remos cada. Navegou para lá da Serra Leoa e fundou as cidades de Mogador e Agadir, onde construiu templos. Terá pensado, ao ver-se frente às tribos locais, ter encontrado os "inóspitos etíopes".



      Viu crocodilos e hipopótamos na Gâmbia. Curiosamente, deixou um espantoso relato acerca de uma ilha cujos habitantes eram "muito cabeludos". Provavelmente eram ... chimpanzés.    

Roma

      O grande poder marítimo dos cartagineses viria a ser duramente destruído quando entraram em guerra com Roma devido à Sicília. Inicialmente, eram superiores aos Romanos no mar, mas as Guerras Púnicas acabaram de vez com a "nação" cartaginesa.



      A primeira, em 264 a 241 aC destruiu-lhe o seu domínio no mar. Depois, entre 218 e 201 aC, os cartagineses atravessaram os Alpes com Aníbal e os seus famosos elefantes, derrotando ferozmente os romanos, ameaçando, inclusivé, Roma. Efectivamente, os elefantes não foram uma grande ideia, pois mediam entre 2,10 a 2,50 metros, pelo que não conseguiam transportar grandes cargas. Embora tivessem constituído um elemento surpresa, a maior parte dos 27 morreu antes de chegar à Península Itálica.




      Aníbal defendeu-se no sul de Itália, mas, em 204 aC, os romanos comandados por Cipião, invadiram África  e, dois anos mais tarde, derrotam Aníbal na Tunísia. Os romanos avançaram, e chegaram mesmo a vencer o irmão de Aníbal, Asdrúbal.  



O fim

     A Terceira Guerra Púnica, de 149 aC a 146 aC, destruiu por completo Cartago, através de um cerco. Catão, o Imperador Romano, profere as famosas palavras:

"Delenda Carthago" (Cartago tem de ser destruída)

     Efectivamente, as palavras foram mesmo postas em prática. A cidade foi destruída e arrasada e até o solo foi revolvido.



Mais tarde, os Romanos instalam ali uma colónia: Júlia Cartago.

Moedas cartaginesas:






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