Perdida na História

Perdida na História

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A última dos Ptolomeus

Dotada de qualidades físicas ainda hoje envoltas em mistério e magnificência, esta rainha foi, sem dúvida, das mais astutas e inteligentes personalidades políticas de todos os tempos. A descendente do grande Ptolomeu viria a ser a última rainha do grande Império banhado pelo Nilo: Cleópatra.



A dinastia dos Ptolomeus reinou no Egipto durante quase 300 anos, tendo alcançado o seu grande apogeu no reinado de Ptolomeu II Filadelfo e Ptolomeu III Evertes. O império estendeu-se da Líbia até à Ásia Menor. Os seus sucessores, com a progressiva expansão de Roma pelo Mediterrâneo, viram reduzir-se o território do reino ao Egipto, com Chipre e a antiga Cirenaica. Em meados do século I aC, os romanos centraram a sua atenção no Egipto.


Descendência

Com a morte do soberano, em 51 aC, acedeu ao trono egípcio Cleópatra VII, a filha com então 17 anos de idade; contudo, havia um filho do sexo masculino Ptolomeu XIII, então com 10 anos. Segundo a tradição, celebrou-se o matrimónio entre os irmãos, de forma a preservar a dinastia.



Contudo, a união terá sido tudo, menos pacífica. Desde conspirações para matar, passando por falsos testemunhos, os irmãos estavam claramente em lados opostos quanto a quem deveria mesmo governar o império. Muitos sacerdotes e nobres apoiavam Ptolomeu, contudo, era inegável o génio e a força de Cleópatra.



Os tutores de Ptolomeu, Potino e Aquilas, não aprovavam a regência de Cleópatra pelo que instigaram uma rebelião contra esta, que acabou por fugir do Egipto, fixando-se na Síria no ano 48 aC. Aqui, reuniu um exército para combater o irmão-esposo. Por seu lado, Ptolomeu XIII manda assassinar Pompeu, rival de Júlio César na guerra civil, na esperança de obter a simpatia deste e, possivelmente, o apoio de Roma, num intento que se revelou fracassado.


 Roma, a intermediária ?


Muito atento aos acontecimentos, Júlio César foca-se num país extremamente rico, principalmente no que diz respeito à produção de cereais. De facto, o Egipto passa a ser designado na gíria romana como "o celeiro de Roma", após a conquista. Com o intuito de "compreender as motivações de cada um" e de forma a "mediar e a contribuir para as negociações entre os irmãos", César vai e instala-se no Egipto. Em Alexandria, César ordena que mandem chamar os dois irmãos, tal e qual como se estivesse no seu império romano. Se por um lado a ida de César ao Egipto se prendeu com a perseguição a Pompeu, uma das grandes ideias de César era, sem dúvida, instalar-se no país.



Inteligência

Cleópatra desejava acima de tudo, governar o seu país. Temendo a ideia com que César poderia ter ao falar com o seu irmão-esposo, Cleópatra apressa-se a chegar à presença do poderoso estrangeiro. Da forma mais astuciosa possível, a sumptuosa rainha é levada à presença do romano, escondida. Qual não é o espanto de César quando vislumbra o desenrolar de um tapete à sua frente, ficando no final a vislumbrar uma espectacular figura feminina: Cleópatra.



A história atribui a esta rainha uma grande panóplia de atributos, mas nem todos positivos. Se mais tarde terá, certamente, sentimentos genuínos para com o estrangeiro romano, no início talvez não fosse essa a intenção de Cleópatra. Pessoa extremamente culta para a época, Cleópatra apreciava em grande escala todos os livros, lendo-os todos. Por isso, seria natural que nutrisse por Roma um certo rancor, devido ao facto do incêndio da Biblioteca de Alexandria ter ocorrido durante um conflito entre romanos e egípcios.

Sem dúvida que as negociações correram pelo melhor a Cleópatra. Ptolomeu XIII é afogado no Nilo, após uma batalha contra César. A rainha casa-se, posteriormente, com o seu outro irmão Ptolomeu IV, de 11 anos.

A soberana dedica-se cada vez mais a consolidar a sua posição dentro do Egipto, assim como a reorganizar a economia.



Romance e Interesse

Impressionado com as qualidades encontradas nesta mulher, Júlio César adia a sua partida para Roma. Pretende conhecer o Egipto. Pretende também conhecer Cleópatra.

Foi em Saqqara que César viu pela primeira vez uma múmia de perto. A crença na vida após a morte e a possibilidade da imortalidade com a preservação do corpo, poderá ter sido uma ideia a atrair César que já estava a envelhecer. O nobre casal passou por Tebas, Karnak e Luxor, locais de grande admiração do glorioso Antigo Egipto. Durante o longo passeio, César observou também os grandes campos de trigo, alimento suficiente para alimentar todo o seu exército. Contudo, Cleópatra pretende de César apenas uma promessa: O Egipto continuará livre e sempre sob domínio e governação egípcia.




O romance entre estas duas personalidades é bem conhecido. Contudo, na época, ninguém em Roma o aceitava. Cleópatra era vista como alguém de fraco valor, sendo-lhe atribuídas todo o tipo de alcunhas.
            Entretanto, nasce o filho de ambos: Ptolomeu XV Cesário.

Posteriormente, para seu infortúnio, Cleópatra segue César até Roma, onde foi sua convidada e participou no seu triunfo; contudo, a rainha nunca teria sentido antes tanta represália, desprezo e desrespeito. A rainha não era querida pelo povo de Roma.



Um assassinato

Após o homicídio de César, em Março de 44 aC, Cleópatra regressa ao Egipto e, ao fim de um mês, morre o seu irmão-esposo, Ptolomeu XIV.

A rainha, já sozinha, procura um outro protector, tendo-o facilmente encontrado em Marco António, que então ostentava o poder de Roma no Oriente.

Abastada e adorável, perspicaz e alegre, altiva e afectuosa, Cleópatra foi ao encontro de António, a Tarso, a bordo de seu magnífico navio real, luxuosamente preparado para receber o triúnviro. A recepção terá durado quatro dias. Arrebatado pelos encantos da soberana, António decidiu passar o inverno de 41 a.C. a 40 a.C. no Egipto, em sua companhia. Nos meses seguintes, em Alexandria, ele levaria uma vida de fausto e prazeres.



A rainha conseguiu conquistá-lo e mudá-lo para o Egipto mas, ao mesmo tempo que nasciam os seus filhos gémeos, Alexandre e Cleópatra, Marco António contrai matrimónio em Roma com a irmã de Octávio, o Imperador Romano do Ocidente.

As relações de Marco António com a soberana egípcia eram um vexame para toda Roma, principalmente para o Imperador, cuja irmã era "a mulher mais infeliz de todo o Império"; a relação termina rapidamente, e Marco António volta a procurar Cleópatra, aumentando o território egípcio e tiveram mesmo um outro filho: Ptolomeu Filadelfo.


Ódios em Roma

A relação de Marco António com a rainha egípcia era, sem dúvida, um pedra no sapato de Octávio. Na Primavera do ano 32 aC, obrigou o casal a retirar-se da baía de Áccio, na Grécia, onde a frota egípcia foi derrotada. Marco António e Cleópatra fogem para o Egipto, para Alexandria. Aqui, a sua frota e o próprio exército são completamente aniquilados por Octávio (em 30 aC).



Romeu e Julieta, dos tempos Antigos

Sem qualquer certeza, uma das versões aponta o suicídio de Marco António para a falsa notícia que terá recebido do assassinato de Cleópatra. O que é facto, é que este governador romano morre efectivamente. Dias depois, Cleópatra suicida-se. Não é certo, ainda na actualidade, onde se encontram os restos mortais de ambos.



Os dois filhos gémeos de Cleópatra perderam-se por completo na História. Quanto a Cesário, o imperador romano assassinou-o, impedindo qualquer hipótese de prosperidade política.
           Quanto a Alexandria deixou de ser um lugar dedicado ao saber, passando a ser uma mera província romana no Egipto.


O Celeiro de Roma

O Egipto é conquistado. Passa a ser mais uma das vastas províncias romanas. Tem como soberanos os imperadores de Roma, que consideram o país como uma fonte inesgotável de receitas tributárias. Muitas vezes tiveram de enfrentar a ira do povo, que pediam liberdade, tendo também, mais tarde, reprimido as manifestações religiosas, sobretudo as cristãs. Porém, os romanos sentiam também uma grande admiração e fascínio por aquela "terra de magos e de mistérios". Efectivamente, além de muitas obras de arte terem sido transferidas para Roma, alguns imperadores fizeram o oposto: apostaram na construção e enriquecimento de algumas divindades, fazendo sempre inscrever o seu nome em caracteres hieroglíficos dentro do cartucho real.



Por muito irónico que pareça, Cleópatra não era egipcia. Ao ser descendente de Ptolomeu, Cleópatra tinha linhagem e ancestralidade grega. Contudo, terá sido um dos governantes do Egipto que mais se terá esforçado para manter o país longe da captura inimiga.

Busto atribuído a Cleópatra VII


Fonte:
Guidotti M e Cortese V; Atlas ilustrado do Antigo Egipto
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=853

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