Perdida na História

Perdida na História

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Pedro: o enamorado, justo e doente mental.


     D. Pedro I subiu ao trono de Portugal com 37 anos, em 1357. Era provavelmente já bem conhecido em todo o território nacional, estando muito habituado a percorrê-lo de norte a sul. A ideia geral, era a de ser um príncipe que gostava de confraternizar com o seu povo. Contudo, não é pequena a distância entre a lenda do formoso D. Pedro e a verdadeira natureza do monarca…

O justo

     D. Pedro era obcecado pela justiça. Procurava aplicá-la de forma uniforme e democrática, chamando a si litígios de qualquer natureza. Quer o conseguisse, quer não, este desejo contribuiu bastante para a sua popularidade diante da plebe, assim como para as indulgências gerais ante os seus desatinos, alienações e atrocidades.



     O facto de ser rei não fez com que este monarca assentasse, antes pelo contrário, continuou a vaguear pelo território, incapaz de se demorar em qualquer aldeia ou cidade ou região. Era instável. Esta constante necessidade de mudança indicava sem dúvida, além de instabilidade, um grande nervosismo. Contudo, a verdade é que nenhum monarca português daquele tempo deve ter conhecido tão bem o território nacional de Monção a Faro, de Sintra a Olivença.

Crise, crise, crise

     Uma crise generalizada caracterizou todo o reinado de D. Pedro, explicando muitas das suas medidas: regulamento das pastagens, protecção à agricultura, assim como, moralização exacerbada, discriminação contra os judeus, perseguição a feiticeiras e magos, punições altamente exageradas. Obviamente nada disto impediu a recorrência quer da peste, quer da fome.

     No campo da justiça, este reinado trouxe um conjunto de medidas importantes que continuaram as medidas já implementadas por Afonso IV, tal como a criação de novos concelhos, leis de fomento do comércio marítimo internacional, entre outras. Porém, há registos de episódios de alegada justiça simplesmente anedóticos, como os que se descrevem de seguida…

Adultério: o pecado dos outros

     Apesar de toda a lenda envolta do seu cego amor pela galega Inês de Castro, são várias as fontes que põem em causa a sexualidade do monarca, hoje tida como bissexual. De facto, o monarca havia sido casado com Branca de Castela, mas repudiou-a, argumentando que a princesa tinha um aspecto doentio e frágil. Depois surgem três filhos entre Pedro e Inês de Castro, o que acalmam os rumores.

     Porém, a justiça de Pedro era absoluta (e cega) no que tocava aos seus amores…O cronista Fernão Lopes escreve um capítulo de uma sua obra intitulando-o: “Como El-Rei mandou capar um seu escudeiro porque dormia com uma mulher casada", levantando o véu por entre os rumores que corriam: o monarca tinha ciúmes do seu escudeiro, de nome Afonso Madeira. O escudeiro é descrito como “um grande cavalgador, caçador, lutador e ágil acrobata”, escrevendo Fernão Lopes :"Pelas suas qualidades, El-Rei amava-o muito e fazia-lhe generosas mercês." Mas o escudeira amava uma mulher, Catarina Tosse, esposa do Corregedor, uma mulher "briosa, louçã e muito elegante, de graciosas prendas e boa sociedade". Alegadamente para se aproximar da tal mulher, Madeira fez-se amigo do Corregedor, vindo depois a consumar a traição. 



    D. Pedro descobriu o delito e não perdoou “ o seu amado”, castigando-o brutalmente. O cronista refere enigmaticamente: "Como quer que o Rei muito amasse o escudeiro, mais do que se deve aqui dizer (...)", mas assinala que D. Pedro mandou "cortar-lhe aqueles membros que os homens em maior apreço têm". O escudeiro terá recebido assistência e sobrevivido, mas "engrossou nas pernas e no corpo e viveu alguns anos com o rosto engelhado e sem barba". Este amargo episódio, assim como outros semelhantes, mostram que nem sempre a justiça do soberano era correcta e leal, misturando diversas versas justiça com os seus humores e vontades. Está visto que o adultério alheio o irritava particularmente. Alheio, dado que estando já casado com Constança, continuava a namorar Inês de Castro. Mas isto eram coisas de rei, logo, sagradas.
     Voltando à justiça, sabendo que uma mulher era infiel ao marido, ordenava que a prendessem em flagrante e a queimassem de seguida, imediatamente. Ao amante era aplicada a pena de degola.



     Por processo semelhante, sofreu o bispo do Porto análogo castigo. Uma história curiosa, digo eu. Passando na Invicta Cidade, D. Pedro mandou chamar o bispo à sua presença, fechou-se com ele, ordenou-lhe que se despisse da cintura para cima e, interrogando-o, dispunha-se a espancá-lo exemplarmente. O escrivão, servindo-se do pretexto de entregar cartas ao rei inadiáveis, conseguiu entrar na câmara e distrair o “régio algoz” do desígnio.

     Por outro lado, em Avis, um fidalgo foi degolado por ter agredido um porteiro que fora a sua casa executar uma acção de penhora. Enforcado foi um escrivão do tesouro que desviara uma pequena quantia.

     Se a sua ânsia de deambular de terra em terra se devia ao seu gosto em contactar com o povo, por outro lado, o que o movia ardentemente era o seu desejo de levar justiça a todos os cantos. Ao mesmo tempo que aplicava a justiça, mostrava-se afável com os que o serviam.
     
    Bastantes vezes açoitava com as próprias mãos malfeitores que eram trazidos à sua presença; repreendia-os em tom desabrido, na sua “difícil elocução de gago”, ameaçando com o chicote enquanto interrogava.

Hábil político?

     No que diz respeito à nobreza, o monarca nada fez para travar os seus excessos e influências. Pelo contrário. De facto, aumentou as quantias que recebiam, a concessão de sucessivas mercês, engrandecimento de vários senhores, apontando um grande passo atrás relativamente à política de D. Afonso IV e D. Dinis.

     No que concerne à Igreja, D. Pedro não parecia afeiçoar-se ao clero português. Perseguiu-o. Todo um conjunto de medidas indica muito pouca simpatia com o clero quer regular, quer secular. A D. Pedro se deveu também o começo das nacionalizações das ordens religiosas militares ao investir o filho bastardo João no mestrado de Avis. Tal filho bastardo será mais tardiamente D. João I, mestre de Avis, rei de Portugal, pai da Ínclita geração. Ora a mãe de D. João não era, obviamente, D. Constança, mas sim uma dama galega, D. Teresa. Mais uma vez, não terá sido adultério, mas acto sagrado…

    Quanto a política exterior, o monarca auxiliou Castela contra Aragão, vindo-se a revelar um hábil estratega aquando de evitar querelas com os ingleses, apoiantes do monarca deposto em Castela. Realmente, neste campo o rei parece ter-se rodeado de bons conselheiros, mantendo o reino em paz no difícil jogo a que obrigavam as discórdias internas do país vizinho.

O humor de D. Pedro

     Como já referido, o monarca não era de perfeita saúde mental. Tinha um carácter desigual e excessivo. Desmesurado nos arrancos com que exercia a justiça (?), desmedido nas paixões, como no caso de Inês ou do pajem, exagerado nos júbilos quando o humor lhe pedia que descesse à praça e se “imiscuísse nas alegorias populares, bailando e tangendo com a arraia miúda”.
     


    De facto, dos reis portugueses terá sido aquele que mais inspirou novelistas e poetas. O seu feitio chocante, as taras que o governavam, o episódio de Inês, o castigo que infligiu aos alegados assassinos de Inês, entre outros.

     São também curiosas as descrições acerca das noites em que o assolavam terrores nocturnos, levando-o a deixar a câmara e a mandar reunir as gentes nas ruas para improvisar, a horas tardias, bailes e cantigas populares: se o rei não conseguia dormir, porque haveria os servos e a plebe de conseguir?    

     O povo gostava dele. Mas temia-o. Seduzia-o um rei que não desdenhava de se lhes juntar nas festas, que justiçava quer o poderoso, quer o pobre (não interessava muito se havia ou não justiça, desde que houvesse castigo…), assim como um rei que evitava a todo o custo guerras com o exterior.

O episódio do casamento

      Em 31 de Agosto de 1339, o ainda príncipe Pedro casa-se com Constança Manuel, nobre castelhana. No séquito da rainha, entre muitas mulheres está Inês de Castro, galega, filha do altamente poderoso Pedro Fernão de Castro.

D. Constança 

     Quando nasce o primeiro filho do casal, D. Luis, a rainha convida Inês para madrinha do príncipe recém-nascido. Segundo os preceitos Católicos, toda e qualquer relação carnal entre os pais da criança e os padrinhos deverá ser vista como  pecado do incesto. Ora o pequeno infante morre com uma semana e Inês começa a ser mal vista em Portugal. Efectivamente,  se a criança morreu devido ao pecado ninguém sabe, mas a verdade é que Pedro há muito que traía Constança com a galega Inês e já todo o reino falava do assunto. 

Inês de Castro

    Além do escândalo, às claras, da rainha andar a ser traída, os influentes irmãos de Inês de Castro há muito que circundavam o ainda príncipe Pedro, por forma a requisitar-lhe benefícios em favor de Castela.
    Todo este pecaminoso envolvimento entre Pedro e a galega estava a trazer grande constrangimento a Portugal, principalmente ao rei D. Afonso IV seu pai, dado estar a influenciar a política interna portuguesa, relativamente a reinos espanhóis. Desta forma, Afonso IV manda exilar Inês, a qual tinha já três filhos com o príncipe. Mas a influência sobre o príncipe não cessou e, em 1355, Afonso IV manda executar a galega Inês, por forma a fazer voltar à facção portuguesa o filho.



     Tal não acontece. D. Pedro revoltar-se-ia pelo menos duas vezes contra o pai e quando sobe ao trono não cessa a procura pelos alegados assassinos da galega, matando-os de forma estranha: manda arrancar os corações aos dois homens, sendo que a Pedro Coelho fê-lo pelo peito e a Álvaro Gonçalves pelas costas; depois, manda queimar ambos, em frente ao palácio, de modo a que o Soberano pudesse assistir enquanto almoçava.

     Anos mais tarde, em 1360, D. Pedro jura solenemente perante as Cortes que se havia casado com a galega Inês fazia nessa altura sete anos. Não se lembrava da hora, nem do dia, nem tão pouco do mês. Testemunhas? O rei traz à presença das Corte o bispo de Évora e Estevão Lobato, um criado do rei. Nenhuma das testemunhas sabia a dita data do casamento.

Ilustração relativa ao casamento mencionado pelo rei com a galega Inês

     Porém, a ser verdade, Inês seria igualmente rainha de Portugal. Como tal, conta a tradição popular que o rei manda desenterrar a rainha (Inês de Castro, entenda-se), procede à sua coroação, obrigando de seguida a que todos os nobres beijem a mão do cadáver há muito em decomposição.
    
Ilustração relativa ao rei e ao cadáver de Inês de Castro

    Facto é que ambos os corpos estão sepultados juntos, no Mosteiro de Alcobaça, em dois soberbos túmulos mandados erigir pelo soberano Pedro.

Túmulo de D. Pedro


Túmulo de Inês de Castro

     Quanto a Constança, a História nunca se preocupou muito com o que sucedeu à verdadeira e consagrada rainha de Portugal. Morreu no dia 13 de Novembro de 1345, diz o povo que de desgosto,  vergonha, tristeza e abandono. Dias antes, a 31 de Outubro tinha nascido o futuro rei de Portugal, D. Fernando. A rainha Constança nunca chegou a ver Pedro sentado no trono, morrendo com 27 anos. O seu túmulo está no museu do Carmo, em Lisboa.

D. Constança

     Para o futuro fica apenas a brilhante história de amor entre um formoso príncipe (louco) e uma linda dama galega. Permanece nos cânones por não lhes ter sido permitido continuar a relação. Não importam as razões, não importa quem foi traído, não importam as loucuras perpetuadas por este rei louco. Fica para a História como o rei cuja amada foi morta, o belo casal Pedro e Inês. 

 Fontes:
Ribeiro, A;  Saraiva, JH (2004) História de Portugal – A afirmação do País – da conquista do Algarve à regência de Leonor Teles, Volume 2, Quidnovi
Oliveira Marques, AH; Carneiro, R; Teodoro de Matos, A (2001) O milénio Português – Século XIV O tempo das Crises, Circulo de Leitores SA

sábado, 1 de dezembro de 2012

O dia em que Portugal perdeu a Independência



Um rei alucinado

     Desde tenra idade Sebastião era uma criança problemática, em termos de saúde. Já em novo, padeceu de alguns ataques súbitos, possivelmente epilepsia. Porém, era de absoluta necessidade “restabelecer” este jovem, afinal, tratava-se do Rei de Portugal, coroado em 1557. 

    Apesar de uma saúde precária, Sebastião acreditava veemente ter sido o escolhido por Deus para grandes feitos, para grandes vitórias. Desde cedo manifestava grande fervor quer religioso, quer militar, uma combinação um tanto ou quanto perigosa…




     Dado os ferozes ataques de piratas na rota portuguesa para o Brasil, quer os frequentes assaltos de Muçulmanos aos territórios portugueses em África, nomeadamente Norte de África, a Coroa Portuguesa decide investir não na conquista de novos territórios, mas na manutenção das colónias já conquistadas e adquiridas. Quanto ao Rei, continuava a sonhar com batalhas, conquistas e a difusão da Fé, realmente convicto de ser o capitão de Cristo numa nova cruzada contra os mouros do Norte de África.

A Batalha dos três Reis

     Sem casamento, sem descendentes, D. Sebastião começa a preparar uma magnífica expedição militar a Fez, após uma brava Batalha em Tânger (1574). O soberano aplica uma parte significante da riqueza do Império Português para equipar uma desmedida frota, assim como um grande exército. Quanto ao exército, terá sido este uma má escolha, dado incluir 2 000 voluntários de Castela (liderados por Alonso de Aguilar), 3 000 mercenários alemães e da Flandres (comandados por Martim da Borgonha) e ainda 600 italianos. 
     Curiosamente, no que diz respeito à parte portuguesa, tal não terá sido isento de alguma corrupção, o que fez com que o exército expedicionário, de cerca de 15 000 a 23 000 homens, fosse pouco disciplinado, mal preparado, inexperiente e com pouca coesão. 



A "elite" do exército era composta pelos "aventureiros", nobres portugueses veteranos nas guerras de África e do Oriente, e pelos "mercenários" estrangeiros, veteranos das guerras do norte da Europa. A força expedicionária terá reunido também 500 navios”.

     A expedição parte a 25 de Junho de 1578, passa por Tânger, por terra, “havendo quem preferisse que se fosse por mar, para permitir maior descanso às tropas e o necessário reabastecimento em víveres e água”. A chegar a Alcácer Quibir, encontra o exército de Mulei Moluco, largamente superior, quer em número, quer em experiência. 

     

     Esta batalha ficou conhecida como a Batalha dos Três Reis: D. Sebastião, o seu aliado sultão Mulei Moluco (Abd Al-Malik da dinastia Saadi) e o opositor, Sultão de Marrocos Mulay Mohammed (Abu Abdallah Mohammed Saadi II, da dinastia Saadi), com apoio otomano.

Portugal desaparece?

     Para Portugal foi o desastre. O rei parte para a guerra sem esposa, sem descendentes, sem jovens parentes portugueses e não mais regressa. Grande tumulto em Portugal, quando o sucessor de D. Sebastião, o seu tio-avô o Cardeal-Rei D. Henrique, igualmente sem descendência, morre anos depois. Abre-se uma profundíssima crise. São apontadas quatro hipóteses de sucessão: Catarina de Portugal, (neta de Manuel I de Portugal, esposa de João I, Duque de Bragança); o seu filho adolescente Teodósio; António, Prior do Crato (neto de Manuel I, tido pela sociedade da época como ilegítimo) ou ainda Filipe de Habsburgo, Rei de Espanha, (também neto de Manuel I, por via feminina)




     Ganha Filipe de Habsburgo, Rei de Espanha, começando em Portugal um profundo e deprimente século de domínio espanhol. Foram três os Filipes espanhóis reinantes no território nacional: Filipe I de Portugal (1580-1598), Filipe II de Portugal (1598-1621) e Filipe III de Portugal (1621-1640) até à tão esperada Restauração da Independência, a 1 de Dezembro de 1640.

Portugal, novamente.

     Filipe I quando toma posse, nas cortes de Leiria, em 1580, assegura velar pelos interesses do País, respeitando as leis, os usos e os costumes nacionais. Obviamente, com o passar do tempo, essas promessas foram sendo desconsideradas, os cidadãos nacionais perderam privilégios e passaram a uma situação de subalternidade relativamente a Espanha. A situação torna-se agonizante, começando a existir conspiração em todos os recantos do país. Tornava-se, portanto, urgente, crucial, retomar para mãos portuguesas o território Português. Nesta conspiração, não só os nobres estavam interessados, mas a própria Igreja sentia que, além da perda de poder, a própria nacionalidade, o espírito português estava cada vez mais a desaparecer…lentamente, mas profundamente.  

     O texto seguinte demonstra bem o sentido português:

Parece não haver dúvida de que a ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da independência plena de Portugal após 60 anos de monarquia dualista. Cinco séculos de governo próprio haviam forjado uma Nação, fortalecendo-a até ao ponto de rejeitar qualquer espécie de união com o país vizinho. (…)A independência fora sempre um desafio a Castela e uma vontade de não ser confundido com ela. (…) Para a maioria dos Portugueses, os monarcas habsburgos não eram mais do que usurpadores, os Espanhóis, inimigos, e os seus partidários, traidores.” 

     Efectivamente, desde D. Afonso Henriques até ao último rei português D. Sebastião, muitos foram os ataques, intrigas, guerras e batalhas sangrentas encetados por Espanha para tomar Portugal. Nunca conseguidos até a 1580.

A Cultura abandona-nos…

     Durante o período castelhano, a cultura espanhola infiltra-se rapidamente no território, não deixando espaço para pensar ou refletir sobre o caso. A perda da individualidade cultural era sentida pelos portugueses, com reacções distintas a favor da língua Pátria, assim como, da sua expressão em termos de prosa e poesia. Porém, os que assim pensavam, sabiam que os seus esforços seriam estéreis sem a recuperação da independência política.




A economia foi estrangulada.

     A partir do século XVII a economia portuguesa está, decididamente, moribunda. O outrora Império Português atravessava agora um sério perigo com a entrada em campo de holandeses e ingleses. Portugal perdera, então, o monopólio comercial na Ásia, África e Brasil, resultando daí que todos os nobres, clero ou burguesia recebiam cada vez menos receitas. Quanto aos Espanhóis, estes insurgiam-se fortemente contra a presença portuguesa nos seus territórios, utilizando diversos processos, entre os quais a Inquisição, “situação que suscitou grande animosidade nacionalista tanto em Portugal como em Espanha, aprofundando o fosso já cavado entre os dois países.”

     Já no território nacional, a situação era agonizante, com os altíssimos preços dos produtos (cereais, carvão, azeite, entre outros) e a constante escalada de impostos. Havia cada vez mais um fosso sem fundo para a pobreza. Onde residia a culpa? A resposta estava na boca de todos os portugueses: Espanha, a causa de todos os males.

     À parte todos estes problemas, surge um outro detalhe nesta nossa submissão a Espanha. Com este domínio sobre nós, Portugal perde a sua posição de isenção nas guerras europeias, dado que em muitas guerras que Espanha participava, agora obrigava exércitos portugueses a combaterem por si, contra outras Nações. Os portugueses começam a pensar no porquê de combater por Espanha em guerras que nada lhe diziam. Lutar por lutar, que fosse... contra Espanha. 

1 de Dezembro

     No 1º dia de Dezembro de 1640, 40 fidalgos entram no Paço da Ribeira, onde reside a Duquesa de Mântua, representante de Espanha, matam o seu secretário Miguel de Vasconcelos e vêm à janela proclamar D. João, Duque de Bragança, rei de Portugal. 
     Acabava assim, abruptamente, 60 anos de domínio espanhol sobre Portugal. A tão desejada revolução foi recebida com gáudio em todo o País. Restava, porém, defender as fronteiras de Portugal de uma represália espanhola. Para tal, todos os homens dos 16 aos 60 anos foram mandados se alistar e fundidas novas peças de artilharia.



     D. João, duque de Bragança, foi aclamado como D. João IV, entrando em Lisboa dias depois. Por quase todo o Império metropolitano e ultramarino as notícias da mudança do regime e do novo juramento de fidelidade foram recebidas e atendidas sem qualquer dúvida. Apenas Ceuta permanece fiel à causa de Filipe IV, III de Portugal.



     A reorientação do reinado terá sido feita tendo em conta prioridades: reorganização do aparelho militar, restauração de fortalezas das linhas defensivas na fronteira, fortificação das guarnições e obtenção de material e reforços no estrangeiro. 

“Paralelamente, uma intensa actividade diplomática junto das cortes da Europa – no sentido de obter apoio militar e financeiro, negociar tratados de paz ou de tréguas, e conseguir o reconhecimento da Restauração – e a reconquista do império ultramarino. A nível interno, a estabilidade do regime dependeu, antes de mais, do aniquilamento de toda a dissensão a favor de Espanha”.

D.João IV

     Portugal não tinha um exército moderno, as forças eram escassas, especialmente na fronteira terrestre, as suas coudelarias haviam sido extintas e os seus melhores generais lutavam pela Espanha algures na Europa. 

“Do lado português, tudo isto explica por que motivo a guerra se limitou em geral a operações fronteiriças de pouca envergadura. Do lado espanhol, é preciso lembrar que a Guerra dos Trinta Anos (até 1659) e a questão da Catalunha (até 1652) demoraram quaisquer ofensivas de vulto." 

     O Tratado de Lisboa é assinado em 13 de Fevereiro de 1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, onde este último reconhece a independência d Portugal.

Feriado

     O dia 1 de Dezembro fica para a História de Portugal como o dia em que Portugal afirma finalmente a sua independência de Espanha, éramos uma Nação. 
     Desde o século XIX este dia torna-se feriado nacional, em memória de todos aqueles que sofreram 60 anos de tormento e domínio espanhol e que tiveram a coragem de voltar a tomar as rédeas desta nobre Nação. É, efectivamente  o feriado nacional mais antigo em Portugal, tendo passado pela I República, pelo Estado Novo, pela Nova Democracia. 




     Contudo, em nome da crise actual, em 2012 é proclamado que os trabalhadores precisam de produzir mais, trabalhar mais. Assim, o Governo de Portugal decide acabar com alguns feriados nacionais, quer religiosos, quer laicos. Desta forma, este dia 1º de Dezembro de 2012 poderá ser o último dia em que se celebra a nossa independência, dado que este dia deixará de ser feriado. Para muitos, o dia em que essa decisão foi tomada, foi o dia em que Portugal voltou a perder a independência. 


Fonte:
http://ebicuba.drealentejo.pt/ebicuba/dezembro1/dezembr1.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Restaura%C3%A7%C3%A3o_da_Independ%C3%AAncia
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/Restauracao/RI.htm



quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A Alemanha está arruinada.

     Os preços enlouquecem. Saída com uma enorme ferida da 1ª Guerra, a Alemanha ameaça explodir quando a loucura do dinheiro não permite avaliar o real preço das coisas. Numa época em que as notas são utilizadas para aquecer fornos, para fazer wallpapers, para acender aquecedores, numa época em que é necessário ir às compras com cestos e cestos de dinheiro...a Alemanha está arruinada. 

      No século XIX, o fenómeno inflação não era conhecido. Contudo, torna-se recorrente entre 1914-1918. Enquanto no início nada mais é do que uma certa restrição económica, por vezes a inflação degenera ao ponto de constituir um verdadeiro cataclismo. Quando a inflação sobe acima de um determinado ponto, os preços já nada significam, todo o conjunto do sistema económico ameaça afundar-se. À Alemanha de 1923 cabe a triste honra de abrir um ciclo de catástrofes económicas que, curiosamente, ainda hoje não terminou.  

O país de joelhos

      Em 1919 a Alemanha , signatária do Tratado de Versalhes (contra a sua vontade), não acaba a Guerra apenas derrotada. Em parte, está arruinada. A Guerra impôs aos país, tal como aos outros beligerantes, um colossal sacrifício financeiro. O que diferencia a Alemanha da França e Inglaterra é o facto de não poder pedir empréstimo aos USA. Procurou obter dinheiro através da "estampagem de notas", ou seja, emitindo um considerável número de moeda. Tal aumento de dinheiro em circulação vem alimentar a inflação do pós-guerra, dado que passa a existir uma enorme quantidade de dinheiro em circulação e um número muito reduzido de bens disponíveis. 




      A situação era crítica, mas não fica por aqui, dado que a este flagelo soma-se o peso das reparações: dada como responsável pela Guerra, a Alemanha terá de "reparar" os danos materiais que causou. Em Londres, por exemplo, em 1921 os vencedores fixam uma soma astronómica de 132 milhões de marcos-ouro, ou seja, metade da riqueza do país. Era tal e qual como se fosse necessário pagar uma nova guerra após assinar a paz, o preço a pagar era asfixiador. 



      Para o governo alemão, à frente de um país moribundo, a situação é considerada insolúvel. Desta forma, em 1923, insatisfeitos pelo atraso nos pagamentos, franceses e belgas invadem o Ruhr, o verdadeiro pulmão industrial alemão. A Alemanha mergulha, então, na catástrofe monetária. 

Conhecer o abismo alemão

      Perante o desmoronamento das finanças alemãs, a partir de 1922 a espiral inflacionista alemã acelera, acelera...O marco deixa de ter qualquer valor. Mas é necessário manter uma tabela de valores e, neste caso, será a moeda estrangeira dólar que toma o lugar do marco. Para que se tenha noção daquela realidade, 1 dólar era equivalente a 8 000 marcos. 

Crianças brincam com...dinheiro.

      À semelhança dos especuladores, também os consumidores se apressam e antecipam ante a subida dos preços. Os assalariados exigem o aumento paralelo dos vencimentos, alimentando cada vez mais a inflação. No começo de 1922, o dólar vale 200 marcos; no final de 1922 é trocado por 10 000 marcos. Cumulativamente, o processo torna-se caótico com a ocupação do Ruhr e, em Julho de 1923 são precisos um milhão de marcos para um dólar, 160 milhões no final de Setembro e vários mil milhões em Novembro.

      Não há duvidas de que já nos meses de verão, com o colapso do governo Cuno, derrubado por uma greve geral em Berlim, em agosto, a crise política assumia proporções revolucionárias.


Pilha de notas alemãs.

      O Partido Social-Democrata alemão e seus sindicatos filiados, que haviam fornecido a principal viga de sustentação à ordem capitalista no período do pós-guerra, rapidamente perdiam apoio dentro da classe trabalhadora para o Partido Comunista Alemão (KPD). Mas em nenhum estágio desse período o KPD avançou uma estratégia revolucionária pré-determinada e desenvolveu as táticas para implementá-la.


      Tal pareceria anedótico, não se tratasse da vida de milhares de pessoas. Para assegurar o funcionamento "normal" das trocas comerciais nas lojas, são necessárias cada vez mais notas. Trezentas fábricas de papel consagram toda a produção à alimentação de 150 topografias onde funcionam, dia e noite, 2 mil prensas de notas. Isto não basta. Os municípios e empresas passam a ter direito a produzir moeda. São precisos montes e montes de notas para comprar um pacote de manteiga, são precisos 50 mil milhões de marcos para comprar um selo. Para os alemães de então, este processo terá sido brutalmente traumatizante. Nunca esqueceram. 

Mulher usa notas para acender o fogão.


Colapso.

São incalculáveis os efeitos sociais e políticos duma situação destas. Perante a aberração monetária, a Alemanha recupera o primitivo sistema de trocas. Assim, os camponeses recusam entregar por moeda os seus produtos, levando a graves problemas de abastecimento das cidades. Instala-se a fome. Verificam-se centenas de tumultos sociais. A política não aguenta muito mais. No Outono, instala-se a anarquia. 




Anarquia.

      No dia 1 de Outubro, a "Reichswehr negra" do major Buchrucker tenta tomar o poder. Em 8 de Novembro, um pequeno partido dirigido por um tal Adolf Hitler tenta impor-se aquando do golpe da "Cervejaria de Munique". Na Saxónia e na Turíngia assiste-se à formação de pequenos governos de sociais-comunistas que recusam a autoridade do poder central. 
      Em Novembro, Berlim e Hamburgo são palcos de combates de rua. A somar a toda esta anarquia, dada a ocupação francesa, são proclamadas a "República do Reno" ou ainda a "República do Palatinato". A Alemanha está prestes a explodir. 



      Para a burguesia alemã, a política de resistência passiva contra a ocupação francesa e a inflação da moeda apenas criaram uma crise política duradoura e aprofundada — com ameaças à estabilidade da ordem burguesa vindas da direita, na forma dos fascistas, e a ameaça mais séria da esquerda, na forma do KPD.
      Observou-se, então, uma viragem táctica foi feita por ambos os lados. O governo francês concordou com a mediação internacional para os pagamentos de reparação, de modo a alinhá-los com a capacidade da Alemanha em pagar, enquanto que as elites dominantes alemãs agiram para estabilizar a moeda e aceitar a obrigação de realizar pagamentos de reparação. 








Escassez de produtos alimentares.


 Solução, mas por pouco tempo...

      A partir de 1923, o novo governo Stresemann reúne todos os partidos, exceptuando os considerados extremistas. Consegue vencer, uma após outra, as convulsões e combates de rua, mas é ao estabelecer a confiança na moeda que este governo consegue controlar minimamente a situação. 
      Parece ser um facto consumado que em Novembro de 1923, graças a um tratamento de choque, o crédito e a criação monetária são duramente restringidos e são decretadas duras medidas orçamentais.
      Curiosamente, só com o apoio inglês e americano (que de forma alguma desejam uma revolução na Alemanha) é que a confiança na economia alemã é lentamente restituída e romperem o ciclo vicioso das antecipações negativas. 


      De facto, uma comissão foi estabelecida sob a direção do americano Charles Dawes, para considerar meios para equilibrar o orçamento alemão, estabilizando a moeda e desenvolvendo um sistema viável de pagamentos de reparação anuais. O plano fornecia um calendário de pagamentos anuais começando em 1 mil milhão de marcos de ouro no primeiro ano e atingindo 2,5 mil milhões no quinto ano, com variações de acordo com as mudanças na situação económica mundial e respectivo preço do ouro. Assim, uma Agência de Reparações deveria ser estabelecida em Berlim para supervisionar o processo e um empréstimo de 800 milhões de marcos deveria ser levantado para o governo alemão, com uma garantia fornecida por títulos das ferrovias alemãs.



      Este plano Dawes e a restabilização da economia alemã viram a criação de uma nova moeda, o Reichsmark, convertido do antigo marco na razão de 1 "trilhão" para 1, em Agosto de 1924. Sob o acordo, o Reichsbank  tornava-se independente do governo alemão, mantendo uma reserva de ouro e moedas estrangeiras, seguindo um regime de altas taxas de juros como base para seu programa deflacionário. O Plano Dawes era tão necessário para a estabilidade da economia dos Estados Unidos quanto para as economias da Alemanha e do resto da Europa. O sistema de reparações sozinho, como originalmente pensado, era inviável. 



      Contudo, a paz não reina mais na Alemanha e a sociedade não é mais a mesma. Se lhes contassem, nenhum alemão acreditaria no que estaria para vir nos vinte anos que se seguiram...






      Ao todo, a inflação durou pouco mais de um ano. Contudo, os seus efeitos serão de muito longo alcance. A subida dos preços, o descrédito do governo republicano, criaram o clima ideal para, mais tarde, a instauração do governo hitleriano. Efectivamente, mesmo depois da 2ª Guerra Mundial, a Alemanha passa a ter uma forte preocupação de protecção da moeda nacional e da produção nacional. Nunca uma inflação marcou tanto uma nação. 





      Enquanto as pessoas não perceberem que o dinheiro não serve para comer, enquanto não perceberem que o dinheiro é apenas e só um meio de troca de bens e serviços, vamos continuar a ser escravos de pedaços de papel e metal.

Fontes:
http://www.wsws.org/pt/2009/sep2009/ptnb-s18.shtml
Astier et al., (2000), Memória do Mundo, Círculo de Leitores
O vídeo foi utilizado apenas como meio de ilustração do tema, sem que daí resulte qualquer proveito próprio.


sábado, 8 de setembro de 2012

A arte rupestre dos Açores


Descobertas arqueológicas recentes levantam a incrível possibilidade de as ilhas dos Açores poderem já ter tido ocupação séculos antes de os navegadores portugueses lá terem chegado. Alguns, referem mesmo que os Açores terão feito parte da perdida Atlântida...

Açores

      Nuno Ribeiro, presidente da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA) explica que as investigações efectuadas por investigadores dos Açores, Reino Unido, Estados Unidos, Espanha e Alemanha revelaram descobertas arqueológicas relevantes no sentido de demonstrarem a possibilidade de na ilha da Terceira ter existido ocupação humana prévia à chegada dos portugueses.


Ilha Terceira

      "Foi encontrado agora um local de arte rupestre com características que nos levam a crer que remontará à Idade do Bronze", afirma Nuno Ribeiro, em declarações à Lusa em Ponta Delgada, numa conferência na Universidade dos Açores sobre o tema " Ocupações Humanas pré-portuguesas nos Açores: Mito ou Realidade?" 

      O investigador referiu ainda que nos últimos anos terão sido descobertos em diversas ilhas dos Açores vestígios de estruturas que "indiciam pela sua arquitectura e construção serem de origem pré-portuguesa".

      Por outro lado, o investigador português refere ainda outras descobertas que solidificam a convicção duma civilização antiga:  "Temos um epígrafo da época Romana, segundo dois investigadores que convidamos a interpretar a inscrição, um sítio de arte rupestre, estruturas megalíticas, enfim, um conjunto importante de estruturas espalhadas pelas ilhas que precisam de ser interpretadas de outras formas", afirmou. 




      No ano 2011, o investigador anunciou a descoberta de "um conjunto significativo de mais de 5 monumentos do tipo hipogeu (túmulos escavados na rocha) e de, pelo menos, 3 santuários proto-históricos escavados na rocha e possíveis condutas de água". Já no Portuguese American Journal, é referido que estas descobertas poderão estar associadas aos Cartagineses, sendo que os Templos talvez fossem uma oferta à deusa Tanit. 
      Por outro lado, os investigadores não têm qualquer dúvida relativamente à existência de santuários; contudo, falta ainda uma parte crucial no trabalho, nomeadamente a datação das descobertas. 
      
      Contudo, dado o momento difícil que Portugal atravessa, a investigação poderá estar comprometida dada a possível falta de verbas para o prosseguimento dos trabalhos, dado ser necessária a autorização do Governo Regional para efectuar escavações e datar com rigor os elementos já identificados nas ilhas. 


hipogeu

      "O nosso grande problema nesta fase é que o Governo dos Açores não nos autorizou os trabalhos arqueológicos no ano passado, por falta de financiamento e este ano por não se enquadrar num decreto de lei". 



      Um dos grandes problemas de todas estas limitações impostas prende-se com o facto dos  vestígios e locais arqueológicos estarem ao abandono. Por outro lado, o investigador refere ainda que "na ilha do Corvo, enquanto lá estive a passar férias, vi obras a serem feitas no aeroporto sem qualquer acompanhamento arqueológico, a 300 metros tinha sido encontrada uma estrutura com uma planta que, no Alentejo, foi enquadrada com sepulturas".

    


      Estas descobertas têm sido divulgadas através de artigos científicos e apresentadas em congressos internacionais de arqueologia, obtendo uma "grande aceitação junto da comunidade científica internacional", comprovando uma vez mais a qualidade e excelência da investigação em Portugal.  

     Pondo de parte a Ciência, muitos curiosos referem já serem "óbvias" tais descobertas, já que o arquipélago dos Açores "fazia parte da Atlântida, continente que submergiu no fundo do Oceano Atlântico, ficando apenas este arquipélago como memória das maravilhas do Antigo. A antiguidade dos Açores existirá portanto à cerca de 1 000 000 anos ". Confesso já ter ouvido que, não os Açores, mas sim a ilha da Madeira uma parte da mítica Atlântida. 


Atlântida

Atlântida submersa



Fontes:

http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/acores-arqueologia-arte-rupestre-tvi24-ilha-terceira/1370653-4071.html
http://portuguese-american-journal.com/carthaginian-temples-found-azores/
http://www.verportugal.net/Acores/Ponta-Delgada/Noticias/Arte-rupestre-descoberta-nos-Acores=005193 
http://boasnoticias.pt/noticias_Arque%C3%B3logo-diz-ter-achado-arte-rupestre-nos-A%C3%A7ores_12342.html