Perdida na História

Perdida na História

domingo, 24 de janeiro de 2016

A grande fome

Nos meados do século XIX, a fome na Irlanda transforma-se num cataclismo. Desde esse momento e durante muito tempo, a Irlanda torna-se num país mártir. De imediato, os irlandeses começam a abandonar a terra.

    Entre dois recenseamentos, de 1841 a 1851, a Irlanda perde cerca de 25% da população. Um cataclismo de tal dimensões é único na Europa moderna, e bastante inesperado dado acontecer às portas de Inglaterra, um país aparentemente estável e rico. É sem sombra de dúvida que é a partir de 1844 que a Europa passa por uma fome incrível, uma enorme crise alimentar. Contudo, parece que a Irlanda foi o único país onde a terrível crise alimentar degenera num cataclismo, numa fome terrível durante, pelo menos, cinco longos anos. 

Um equilíbrio precário 

    A amplitude do problema poder-se-á dever às próprias características da Irlanda do começo do século XIX, particularmente frágil. Em 1840, momentos antes da fome, a ilha está extraordinariamente povoada. A população terá duplicada em cerca de 50 anos, sendo então considerado o país mais denso da Europa. Por outro lado, quase todo o território está ocupado pela atividade agrícola, sendo a pressão sobre a terra extremamente forte, e as rendas extremamente altas. O sistema do conacre está bastante divulgado: trata-se do aluguer de um pequeno pedaço de terra apenas pelo tempo de uma colheita. As consequências são particularmente más: cada ano o camponês tem de inquietar-se e incomodar-se a buscar uma nova forma e sítio para sustentar a sua família. A situação dos trabalhadores agrícolas e dos trabalhadores sem terra é cada vez mais precária. Curiosamente, é a batata que permite uma concentração de população tal numa superfície tão fraca. Perfeitamente adaptada ao clima irlandês,  graças à sua elevadíssima produção, este tubérculo permite sustentar uma família de seis pessoas durante um ano, num terreno de aproximadamente 7000m2. Era a verdadeira base da alimentação dos Irlandeses. 

    A batata chegou à Irlanda por volta do ano 1590, tendo sido fácil o seu cultivo já que o clima húmido e temperado propiciava o seu crescimento; além disso, a batata podia ser plantada até mesmo em solo pobre. Servia de alimento para homens e animais. 
    Em meados do século XIX, aproximadamente um terço de toda a terra arável era utilizada no cultivo da batata. Quase dois terços da produção eram usados para o consumo humano. Um irlandês da classe média comia batata todos os dias e quase nada mais. 



A doença inesperada

    O tubérculo milagroso sofre uma dura queda na sua produção quando a doença "da batata" tem lugar. A culpa parece dever-se a um fungo específico, Phytophthorans infestans, que se começa a desenvolver nas folhas da planta e, durante a apanha, estende-se até ao próprio tubérculo. As batatas que parecem sãs à primeira vista, simplesmente apodrecem em poucos dias. Para além disto, o fungo parece ficar latente nos tubérculos e continuar a razia em anos seguintes. À parte disto, a Irlanda junta nestes anos vários factores para a proliferação da praga: pouco gelo, forte humidade, ausência de chuvas violentas, que em outras ocasiões limpariam as folhas. 

Batata infectada com Phytophthorans infestans

Uma desgraça política

    À parte da grande doença da batata, a situação política do país começa a contribuir de forma evidente para o cataclismo do país. Desde o século XVI que este país é governado pela Inglaterra. Parece não se tratar de uma união, mas sim de um claro domínio, traduzido pela ocupação das terras férteis pelos landlords inglese que, apesar de não residirem na Irlanda, retiram de lá todos os lucros possíveis. No momento da grande fome, este distanciamento entre os proprietários e camponeses, impedem que a solidariedade e caridade atuem de forma adequada, numa época em que o estado ainda não é capaz de tomar nas suas próprias mãos a assistência aos necessitados. Precisamente é também devido a membros do Estado, concretamente devido ao afastamento de Londres com responsabilidades  diretas na Irlanda, que se deve a grande inadequação das medidas tomadas. 




Junção de catástrofes

    Em Agosto de 1845, quando a colheita se anuncia excelente, surgem pela primeira vez os sintomas da doença da batata. Em Outubro, na altura da colheita, não restam dúvidas: o essencial da colheita está perdido. E com ela o principal recurso alimentar do país. Só nos primeiros meses de 1846, as reservas esgotam-se. Para os mais pobres, a situação é um desastre já que não tem absolutamente acesso a nenhum alimento. Torna-se um pesadelo quando a própria colheita de 1846 não pode sequer ser aproveitada. O mesmo acontecerá nos anos seguintes. 
    Perante a falta deste alimento, o povo é forçado a consumir as reservas de cereais, destinadas à exportação. Não conseguem portanto obter dinheiro, não conseguindo pagar a renda. Expulsos, vão engrossar as filas dos sem-abrigo. 



    Por outro lado, nos registos do inverno de 46-47 registam-no como glacial. Apesar de ser uma situação inusitada na Irlanda, a neve começa a cair desde Outubro. Só em Cork, em cada semana de Dezembro são registados cerca de 100 sem-abrigos. 
    A catástrofe segue com a subida do preço das sementes, devido às más colheitas em toda Europa, impedindo o governo inglês de importar massivamente a "sua" cota parte de colheitas de cereais, agravando a situação também em Inglaterra. 
    Os organismos absolutamente débeis pela fome, as doenças começam a formar parte do quotidiano da Europa. A disenteria mata milhares de crianças, o escorbuto aparece devido à falta de vitamina C, normalmente contida na batata.
    Em 1847 é declarada uma epidemia de tifo. Em 1849, de cólera. No total, por cada individuo morto pela fome, morrem dois vitimados pelas doenças. 

Um governo desarmado?

    Em 1845, em Novembro, pressionado pelas alarmadas noticias que chegam da Irlanda, decide finalmente comprar cereais aos Estados Unidos. O problema é que se recusa a renovar a compra depois de esgotadas as provisões na Primavera. Ora é precisamente nesta altura que começa a verdadeira fome. Todas as tomadas de decisão do governo Inglês parecem fora de tempo e de contexto. Será necessário esperar pelos meados de 1847 para que surjam as primeiras sopas de distribuição de sopa aos pobres. 



    Perante a amplitude do desastre, assim como, frente à incapacidade governamental, para muitos a única solução é partir. Um milhão de irlandeses emigra durante a grande fome. Outro milhão em 1850. 
      Em 1847, navios com destino ao Canadá eram designados por "tumbas”, ou navios-caixão. Dos cerca de 100 000 emigrantes, mais de 16 000 morreram no mar, ou momentos depois de desembarcar. Cartas enviadas a amigos e parentes na Irlanda relatavam as horríveis e desumanas condições das viagens, mas nem isso deteve grande uma considerável quantidade de pessoas de emigrarem.

   Considerando o número de emigrantes, juntamente com o número de falecidos, a queda demográfica é muito significativa. De forma irónica, os registos da época parecem indicar que foi a diminuição populacional que ajudou a travar a grande catástrofe, já que a pressão agrária diminuiu drasticamente, diminuindo o fator de impacto da grande fome. Contudo, a doença da batata continuou por alguns anos mais. 

   O governo criou leis que cancelavam todas as dívidas contraídas em consequência da fome. A população começava a crescer de novo. Embora a praga afetasse algumas colheitas nos anos seguintes, tal não poderia ser comparado aos anos de horror que resultaram na perda de mais de um quarto da população da Irlanda devido à grande fome.








Fontes:
http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/102002726#h=32
https://www.ego4u.com/en/read-on/countries/ireland/great-famine
http://www.historylearningsite.co.uk/ireland-1845-to-1922/the-great-famine-of-1845/
Circulo de Leitores, 2000, Memória do Mundo - das origens ao ano 2000. 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

DNA do "primeiro" Sevilhano

Tenho o prazer de publicar aqui no meu blogue a notícia referente a uma investigação levada a cabo no laboratório onde estou actualmente (Laboratorio de Genética Forense y Genética de Poblaciones, Madrid). 

Neste caso em concreto, a amostra do inviduo, o "pirmeiro Sevilhano", foi analizada pela minha colega Dra Sara Palomo. A informação obtida será agora publicada em revistas científicas internacionais.

Espero muito em breve poder também partilhar notícias relativas à nossa investigação de DNA da população Fenícia Antiga de Cádiz e do "primeiro Asturiano" cujo fenotipo (ou seja, aspecto exterior, como a cor da pele, cor dos olhos e do cabelo) foi  determinado através de análises genéticas, em colaboração com a Univ. Santiago de Compostela. 





sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Documentário: “FUNDEADOURO ROMANO EM OLISIPO”

Gostaria de partilhar convosco uma notícia relativa a um documentário de “FUNDEADOURO ROMANO EM OLISIPO”O porto de Lisboa em época romana.


Apresento de seguida o trailer e a respectiva nota informativa no link: 
http://www.portugalromano.com/site/documentario-fundeadouro-romano-em-olispo/





Fonte: PortugalRomano.com

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Em Memória de Auschwitz


Na semana em que se comemoram 70 anos da libertação daquele que foi um dos maiores crimes cometidos pelo Homem na Europa, deixo aqui a minha profunda homenagem a todos aqueles que não tiveram a oportunidade de serem libertados e a todos aqueles que conseguiram sobreviver ao inferno. Uma grande saudação e homenagem aos grandes heróis sobreviventes dos Campos de Concentração.


1.Drone da BBC revela o campo de concentração de Auschwitz como nunca tinha sido visto antes
Fonte: BBC News




2.  Cerimónia de Homenagem






3: A História nunca contada dos Portugueses em Auschwitz
Fonte: Publico

http://publico.pt/portugal/noticia/a-historia-nunca-contada-dos-portugueses-nos-campos-de-concentracao-1659681

" O destino, desconhecido para os passageiros do comboio n.º 813, era o campo de concentração de Auschwitz, na Polónia. A bordo ia Michael Fresco, um judeu português, nascido em Lisboa, a 15 de Setembro de 1911. Enquanto Michael era deportado para Auschwitz, Luiz Ferreira, um funileiro da região de Guimarães, emigrado em Lyon, já tinha sido “apanhado” pelo regime(...)"


4: Investigação inédita detecta 70 portugueses nos campos de concentração nazis
Fonte: Publico


"(...)Há certas categorias cuja punição era o campo de concentração(...)".





















domingo, 28 de dezembro de 2014

São Mamede Infesta

Na atualidade, a freguesia de São Mamede Infesta, em Matosinhos (distrito do Porto) é uma localidade com bastante movimento, mas longe do grande movimento das grandes cidades. Contudo, São Mamede Infesta, ao contrário do que se possa pensar, é uma localidade muito muito antiga, possivelmente já com História mesmo antes da fundação da Nação. 

Tempos Remotos

     Datará possivelmente do período Neolítico, os primeiros povoamentos nesta terra. Existem indícios arqueológicos de monumentos megalíticos na freguesia de Custóias. Mais tarde, os Fenícios estabeleceram reitorias na Península, a partir do séc. X a.C., tendo navegado até à foz do Douro e, mais tarde, outros povos chegaram a esta parte do Norte de Portugal, dada a sua conexão quer com o Oceano Atlântico, quer com o rio Douro, como por exemplo os Celtas. 

Guerra e o Império Romano

     As guerras Púnicas entre Roma e Cartago, trouxeram para a Península Ibérica as legiões romanas, a partir de 218 a.C. Depois da derrota dos cartaginesas em 206 a. C., Roma considerou a Península como seu domínio militar, para combater os vários levantamentos dos povos indígenas [1].

     No ano de 197 a.C. foram enviados para a Península Ibérica Semprónio Tudiano e M. Hélvio, a fim de dividir o território ocupado em duas províncias: a Hispânia Ulterior (ocidente) e a Citerior (oriente) [1].

     Os indícios que chegaram até hoje revelam que só no ano de 138 a. c. se efetuou a primeira grande campanha militar romana no atual território português. Tal iniciativa esteve a cargo do governador da Hispânia Ulterior, Décio Júnio Bruto [1]. Segundo Estrabão, sabemos que Júnio Bruto avançou para norte, contornando as regiões montanhosas do interior. Tal decisão mantinha a sua força o mais perto possível do litoral, a fim de receber reforços por via marítima. Este itinerário seria depois, provavelmente, escolhido para a estrada que viria a ligar Olissipo (nome romano dado à actual cidade de Lisboa)  a Bracara (nome romano dado à atual cidade de Braga), passando provavelmente por território que hoje é S. Mamede de Infesta. Júnio Bruto foi até ao rio Minho, tendo voltado para trás [1]. Por outro lado, Caio Júlio César foi governador da Hispânia Ulterior no ano de 61 a C. tendo efetuado uma expedição naval à Galiza, passando pela foz do rio Douro.

      Os registos fazem crer que, no sec. I, teria existido uma “villa ” Decio e um templo dedicado a Júpiter, onde hoje está localizado o Mosteiro de Leça do Balio, em São Mamede de Infesta. Também na Quinta dos Alões, foi descoberta uma ara com a seguinte inscrição: “Flavus, filho de Rufo, cumpriu de boa mente o voto a Júpíter Optímus, Maxímus”[1]. Tais descobertas não são efetivamente de estranhar, já que S. Mamede de Infesta era atravessada pela estrada que ligava Olissipo a Bracara. Dessa via existe o local onde ela atravessava o rio Leça, na Ponte da Pedra, onde hoje existe a velha ponte medieval. Efectivamente, encontraram-se na Quinta do Dourado um marco miliar romano, onde se encontra gravado o nome do imperador Adriano. Este marco miliar está no cemitério paroquial, junto da igreja matriz, transformado em cruz.

      Decorria o ano 212, e o imperador Caracala, pelo édito com o seu nome, concedeu a cidadania romana a todos os povos do império. Sob Diocleciano, entre 284 e 288, passa a existir uma nova reorganização se das províncias hispânicas, sendo formada uma nova província, a Galécia. Esta província tinha como fronteira a sul, o rio Douro, indo pelo norte até à Galiza. Nesta época, as vias de comunicação eram elementos de coesão de toda a estratégia romana na península. A via que ligava Olisipo a Bracara era certamente a mais importante rota do Norte ao Sul do atual território português [1]. Esta via tinha também conexão à Serra do Gerês.  



Ponte da Pedra

      É com a grande ligação com a Maia (grande território agrícola) e o Porto (grande território comercial) que São Mamede vê o seu número de habitantes crescer gradualmente.  

     Uma outra construção reveladora da importância que as vias de comunicação desde sempre assumiram em S. Mamede de Infesta é a Capela do Lugar do Telheiro. Segundo contos antigos, na viagem de Lisboa para Pádua, Santo António terá pernoitado debaixo de um telheiro, readquirido aí forças para se recolocar ao caminho. Foi esse telheiro que ganhou nome de Lugar e honras de Capela [1].

       No livro do Tombo da Baliagem de Leça, em 1566, São Mamede de Infesta possuía os seguintes lugares: Aldeia de Baixo, Ermida, Outeiro, Carril Branco, Laranjeira, Casal da Igreja, Casal das Devesa. Eirado, Moalde, Casal do Meio e Casal da Poupa. Em 1643, já se chamava São Mamede da Ermida e era constituída pelos seguintes lugares: Eirado, Corujeira, Ermida, Laranjeira, Aldeia da Igreja, Telheiro, Carril Branco, Tronco, Moalde, Casal da Poupa, Asprela, Arroteia, Casal de Baixo, Deveza, Outeiro, Alagoa, Cidreira e Cavada [2]. 

      A importância do Couto de Leça no início do século XVI justifica que, em 4 de Junho de 1519, o rei D. Manuel lhe atribua uma carta de foral. Leça é constituída em município, para fins administrativos, com julgado próprio e com três freguesias - Leça, Custóias e São Mamede. Cada uma das freguesias elegia dois vereadores e os seis elegiam outro, que servia como juiz ordinário do julgado [2].

Guerras Liberais

     São Mamede de Infesta participou em diversos momentos históricos, sendo as Guerras Liberais um deles. Após o desembarque das tropas de D. Pedro, 8 de Julho de 1832, a cidade do Porto foi ocupada sem grandes confrontos no dia 9. Efetivamente, as tropas miguelistas cercaram a cidade durante um longo ano (1832 a 1833), tendo o rei D. Miguel utilizado a casa da Quinta da Pedra para sua residência [2]. Contudo, em São Mamede de Infesta estava um grande e forte dispositivo de combate. 

     Em 30 de Maio de 1834, é extinto o couto de Leça, juntamente com todas as ordens religiosas do País, por decreto de D. Pedro e do ministro Joaquim António de Aguiar, sendo o município incluído juntamente com a Freguesia de S. Mamede de Infesta, no Concelho de Bouças. Os terrenos pertencentes ao Couto de Leça, foram anexados à coroa, sendo posteriormente leiloados a partir de Abril de 1835, devido à grave situação económica do País

Um rio importante

     São diversas as referências ao rio Leça em textos com antiguidade considerável. 

    Estávamos no ano 1809 e o general Soult, que comandava as tropas francesas na invasão ao Porto, escolheu a margem do rio Leça para instalar as suas tropas, tendo-se albergado no palácio das suas margens, onde terá desenhado o seu plano invasor [1].

    Anos mais tarde, em 1833, época de outras contendas, um reduto das tropas miguelistas ficou sitiado no Lugar do Telheiro, para cortar a estrada que ligava Porto a Braga [1].

     As potencialidades urbanísticas e a riqueza dos recursos naturais levaram a que, tanto no fim do século XIX como nos dois primeiros quartéis do século XX, S. Mamede fosse reconhecida como uma “lindíssima estância” (segundo o jornal Lidador) onde abundavam os passeios de barco, os piqueniques, os bailes de Domingo e as tertúlias que frequentemente lá se desenrolavam [1].





Igreja de São Mamede de Infesta




Origem do nome

      O nome atual “São Mamede de Infesta” não reflete a denominação que este local sempre teve; efetivamente, é em 1706 que esta freguesia adquire esta denominação. Nas Inquirições de 1258 e de 1527, o nome era São Mamede. Porém, em documentos mais antigos, a localidade era designada por São Mamede de Tresores (o termo Tresores vem de três orres, ou vales, que efetivamente ladeiam a freguesia) [1]. 
    
      O termo atual “Infesta” aparece na “Corografia Portuguesa” do Padre Carvalho da Costa e tem variado muito, pois também se acha S. Mamede da Ermida e S. Mamede da Hermida da Infesta, nas Constituições do Bispado do Porto de 1735 e noutros documentos do séc. XVIII e S. Mamede de Moalde no “Catálogo e História dos Bispos do Porto” de Rodrigo da Cunha, em 1623 e na ” Nova História da Ordem de Malta ” de José Anastácio Figueiredo. 

     “Infesta” é um termo arcaico que significa subida, podendo ser bem aplicado a esta localidade já que a localidade se encontra numa elevação que domina o rio Leça. 

      Contudo, o nome de origem será Sanctus Mamethus. Assim sendo, pensa-se que Moalde será, possivelmente, o mais antigo lugar da freguesia de S. Mamede de Infesta. A primeira vez que é nomeada foi no ano de 994 e em 1008, sob a forma de villa Manualdí, isto é, quinta ou herdade de alguém chamado Manualdo [1]. 

     Por outro lado, o nome da localidade "Seixo" será igualmente um lugar muito antigo desta freguesia, pois já nas Inquirições de D. Afonso III em 1258, se menciona o seu nome. Este lugar foi desmembrado da freguesia de Ramalde em 1895, sendo anexado a S. Mamede.






Estação Ferroviária de São Mamede Infesta

Excerto de um vídeo com imagens de São Mamede Infesta, ano de 1930 (publicado em "youtube")

https://www.youtube.com/watch?v=GQzPXcVHSCI


Fonte: 
http://www.uniaojf-sminfesta-srahora.pt/cidades/historia/
http://paroquiasmamedeinfesta.blogs.sapo.pt/430.html

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Notícia

Partilho aqui uma notícia que surgiu hoje acerca da descoberta de "Duas cariátides descobertas no maior túmulo antigo na Grécia". Noticia publicada pelo Jornal "Publico".

"Supõe-se que o túmulo seja da época de Alexandre, o Grande, e pertença a uma figura importante."

"Duas cariátides hieráticas, estátuas de mulheres vestidas com trajes drapeados, foram descobertas na entrada do misterioso e maior túmulo antigo encontrado na Grécia, em Anfípolis, onde elas guardam o acesso, anunciou no domingo o ministério da Cultura grego." (Fonte: Jornal "Publico") 

No sábado, "a retirada de terra da frente do segundo muro que encerra o túmulo revelou, sob a arquitrave em mármore, entre as pilastras, duas cariátides, de excelente construção, também em mármore”, lê-se no comunicado do ministério. (Fonte: Jornal "Publico") 

Nas fotos divulgadas, vê-se a sair da terra, até meio do busto, duas figuras femininas, cujos cabelos tombam sobre os ombros, vestidas com uma túnica com mangas. As cabeças das estátuas sustêm um entablamento." (Fonte: Jornal "Publico") 






Outras fontes deste mesmo tema: 

- http://www.bbc.com/news/world-europe-28758920


- http://news.discovery.com/history/archaeology/female-sculptures-guard-mysterious-tomb-in-greece-140907.htm




sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Idade de poucas trevas

     Ao pesquisar na Internet sobre o tema "Idade média"deparei-me com um post que me pareceu bastante interessante, dado ir de encontro com aquilo que eu penso. A chamada "Idade das trevas", estará bastante deturpada pelo passar dos séculos, por diversos motivos. O principal deles, segundo a minha opinião, terão sido as  más escolhas tomadas pela Igreja Católica (nomeadamente a criação do Tribunal do Santo Ofício, entre outros), assim como a falta de documentação autentica que não chegou aos nossos dias. Idade Média para a maioria das pessoas menos avisadas é sinónimo de escuridão, de processos retrogradas (comparativamente com a Antiguidade Clássica), obscurantismo e punição religiosa, censura e outras tantas descrições. Se por um lado será inegável que foram tempos muito, muito conturbados, é também verdade que apenas se tem dado ênfase às calamidades da Humanidade desse tempo. Não se fala na invenção dos óculos. Não se fala na invenção da rotação de culturas. Não se fala da invenção de milhares de outros objectos ou de ideias completamente inovadoras, porque possivelmente já fazem parte do quotidiano actual. Aqui falaremos de alguns "mitos" que ao longo dos séculos românticos posteriores à Idade média foram sendo criados, principalmente para mostrar superioridade ao Passado. 

1. "As pessoas medievais acreditavam que o mundo era plano".


Poder-se-ia pensar que os povos medievais tinham a ideia do mundo ser plano. Possivelmente sim. Contudo, no século XIX esta ideia foi disseminada com grande veemência, tentando demonstrar o quanto primitivos seriam os medievais. Contudo, imagens como a que chegaram até hoje desses tempos, demonstram o invés, que possivelmente já se tivesse as ideias claras quanto à geometria terrestre. 


2. "A Primae Noctis era uma realidade geral"


Decorria o século XIX em França, quando esta ideia se tornou gradualmente popular, acreditando que os senhores feudais medievais teriam inacabáveis direitos sobre os seus "súbditos", incluindo o direito irrevogável de passar a primeira noite após o matrimónio com a noiva do casal. Contudo, se não se tiver em conta os relatos do século XIX ou os filmes de Hollywood, não chegaram ao conhecimento da actualidade documentos que relatem tais práticas na Idade Média. Assim sendo, tanto poderá ser ou não verdade. 

3. "Os Vikings usavam cornos nos seus chapéus de guerra"


Durante as diversas escavações arqueológicas levadas a cabo em locais identificados com esta população - Vikings, nunca se encontraram ornamentos parecidos com chapéus com cornos ou chifres. Possivelmente nem sequer trariam vantagem no campo de batalha. Já no século  XIX, vários artistas plásticos escandinavos começaram a representar dessa forma os líderes vigorosos deste povo. Uma vez mais, à parte a ficção cinematográfica, até hoje não se registaram evidências arqueológicas deste tipo. Será também mito a sujidade associada a este povo, já que Irene Berg Sørensenum, do site Science Nordic, após uma árdua pesquisa, conseguiu demonstrar que este povo era bastante asseado, preferindo roupas perfumadas e coloridas, envergando vários tecidos importados das diferentes partes por eles conhecidas.

4. "Na Idade já existiam elaborados aparelhos de tortura"


Aqui está um ponto que não será de todo mito. Neste caso, existem centenas de relatos onde são descritas as diferentes formas de tortura. Um dos muitos casos infelizes é mesmo o do Tribunal do Santo Ofício que registava as suas práticas. Contudo, muitos dos aparelhos atribuídos a esta época medieval foram inventados mais tarde, por exemplo no Renascimento.

5. "As mulheres utilizavam cintos de castidade"




As histórias românticas narradas sobre este período, contam que os senhores seguiam para as Cruzadas, assegurando-se que as suas esposas e damas estariam bem seguras dentro de um cinto de castidade. A verdade é que nunca se teve conhecimento, nem sequer em gravura da época, de tão sinistro aparelho. Os primeiros relatos acerca da utilização deste instrumento na Idade Média surgem, uma vez mais, no século XIX aquando do boom do fascínio sobre os instrumentos de tortura da Idade Média. Uma vez mais, a inexistência de prova, não prova que tal não existisse ou fosse utilizado. Contudo, exceptuando uma vez mais as obras cinematográficas e os relatos do século XIX, não existe na actualidade conhecimento de tais práticas medievais.

6. "As pessoas da Idade Média apenas bebiam vinho porque a água não era potável"


Se por um lado é possível que existissem vários poços de água infectados e outras fontes de água poluídas, é também verdade que existia um número bem superior ao actual de fontes de água potável. Efectivamente, gravuras e relatos escritos contam da pratica dos povos medievais misturarem água no vinho para o tornarem menos forte. Se por um lado é verdade que não existia controlo de alcoolemia, é também de referir que não é provável que todos os indivíduos fossem alcoólicos crónicos, dado que a ser assim nunca teriam chegado até à actualidade o vasto legado (benéfico) medieval, como as construções em pedra.

7. "As pessoas da Idade Média pensavam que o tomate era venenoso".

Tal mito é, de facto, puro mito. Não existe forma conhecida de tal ser possível, já que a introdução do tomate na Europa aconteceu depois da Descoberta da América, tendo este sido trazido, mais precisamente, da América do Sul. Após a sua introdução no continente europeu, a sua utilização foi crescendo cada vez mais, dado o seu acessivel e fácil cultivo, assim como as vantagens nutricionais deste alimento, nomeadamente a vitamina C. 

8. "As pessoas da Idade Média não utilizavam talheres"



Tal não passará, uma vez mais, de mito. Não existe motivo para a população medieval não comer com estes utensílios, já que facas e colheres eram utensílios do quotidiano medieval e já o garfo foi introduzido pelo Império Bizantino no século VI e na Itália no século XI. Acreditar que não tinham acesso devido à extrema pobreza poderá ser um argumento, contudo, existem ainda na actualidade situações de igual pobreza, pelo que tal não tem de generalizado ao ponto de ser típico da Idade Média. 

9. "A população medieval era, por norma, suja"



Tais conjecturas não deverão, igualmente, ter grande fundamento. Existem diversas gravuras e relatos de que as pessoas tinham o gosto pela higiene. Contudo, possivelmente não tinham acesso a perfeitas condições para poderem ter uma higiene impecável, como banheiras dentro de casa. Em escavações arqueológicas, chegaram até à actualidade pentes e outros instrumentos de higiene, demonstrando que a higiene não estava apenas destinada a escalões superiores. 

10. "As mulheres medievais não tinham direitos"


Uma pessoa conhecedora da História da Idade Média europeia poderá contestar esta ideia. A mulher medieval não era de todo uma "escrava do seu senhor". Era frequente a mulher medieval herdar, vender propriedades, comprar propriedades, dirigir negócios e em termos legais, a mulher medieval usufruía de igual constância na lei. Por exemplo, era comum existirem mulheres a governarem regiões, tendo-se assistido a tal em várias ocasiões na Península Ibérica. Curiosamente, ao longo dos períodos da História, a mulher europeia foi paulatinamente perdendo grande parte de todos esses direitos que usufruía na Idade Média. 

11. "A população medieval obedecia cegamente à Igreja e eram bastante pios".


É uma ideia bastante generalizada, dado o impacto da Igreja Católica nesta sociedade, associado à falta de escolarização do povo. Contudo, chegaram à actualidade documentos de várias regiões que afirmam que não seria bem assim. Se por um lado, grande parte da população obedecia sem escrutinar os ensinamentos da Igreja, existia também uma grande fracção da população que, à semelhança do que ocorre hoje, interpretava a mensagem da Igreja e actuava segundo o seu próprio critério.  Existem vários documentos onde vários teólogos medievais se queixam da falta de adesão do povo aos ensinamentos e práticas da Igreja. 


Penso que a Idade Média foi um dos Períodos da Humanidade mais conturbados. Guerras, falta de alimentos, doenças e principalmente falta de informação terão sido, na minha opinião, os maiores entraves para um sociedade medieval diferente. Não foi uma época totalmente de trevas. Efectivamente, com todas as dificuldades inerentes, foi uma época que deixou ao mundo descobertas, invenções e ideias absolutamente incríveis. Se a Idade Média tivesse sido uma época de trevas, nunca essas pessoas teriam tido o engenho, a perseverança e a genialidade de criar, construir e dar a conhecer ao mundo [europeu] de então, Novos Mundos.


Fontes:
http://www.tecmundo.com.br/mega-curioso/27580-mito-ou-verdade-os-vikings-usavam-capacetes-com-chifres-.htm
http://www.medievalists.net/2014/06/27/15-myths-middle-ages/
http://www.medievalists.net/