Perdida na História

Perdida na História

segunda-feira, 23 de abril de 2012

De volta à Pátria - parte I

    No ano de 2003 elaborei um questionário que visava um maior conhecimento acerca da vivência dos portugueses que foram para as colónias lusas, assim como um outro, com o objectivo de perceber até que ponto a presença dos portugueses que chegaram às colónias veio alterar o dia-a-dia das populações locais. A dias de celebrar o dia em que Portugal se torna independente de uma ditadura de longas décadas, aqui ficam 6 testemunhos de pessoas que viveram de perto a Guerra Colonial e o seu regresso a Portugal Continental.

Nota: os nomes daqueles que se voluntariaram a participar permanecerão incógnitos, mencionando apenas as suas iniciais

Questionário I

1: Em que colónia esteve presente?
H: Angola
J: Angola
V: Macau e Moçambique
J: Guiné Bissau
MG: S.Tomé, Macau e Moçambique

2: Em que ano partiu para a(s) colónia(s)? Que idade tinha?
H: 1962, 13 anos
J:1973, 17 anos
V:1954, 25 anos
J: 1974, 23 anos
MG: 1951, 13 anos

3: Que motivo o levou a partir?
H: Conhecer novas terras.
J: Por um motivo pessoal e obrigações militares
V: Parti em comissão militar voluntária
J: Militar
MG: Parti a acompanhar a família.




4: Concordava com a política do Estado Novo em relação às Colónias?
H: Em 1962 sim, era uma política de franco desenvolvimento
J: Sim. Naqueles anos as relações eram boas.
V: No geral, concordava.
J: Não.
MG: Era muito jovem para fazer uma avaliação política (caso de Macau e STomé). Em Moçambique de uma maneira geral sim.



5: Com que impressão ficou quando chegou ao territótrio colonial?
H: Boa, melhor que em Portugal
J: Óptimas impressões, quer pela colónia, quer pelo clima, quer pela política que lá se vivia na altura.
V: Quanto a Macau, que o território pouco ou nada tinha de português a não ser a administração e os serviços públicos - tanto civis como militares. Quanto a Moçambique foi diferente pois já se encontravam lá instaladas milhares de famílias portuguesas.
J: Pouco desenvolvida se comparada com a Europa, mas se comparada com África era muito desenvolvida tanto ao nível do comércio, vias de comunicação, habitação, saúde, etc.
MG: Em Macau fez-me muita confusão pois não se ouvia falar português. O português era falado em casa, nas repartições públicas, nas escolas portuguesas e no liceu. Quando cheguei a Moçambique foi uma alegria, toda a gente a falar português.

 Nova Lisboa, Angola

6: Como foi a recepção?
H: Óptima, quer de brancos, quer de negros, onde me assimilei muito rapidamente. Em Angola havia Humanismo de que tanto se fala. Exploração era é em Portugal Continental
J: Foi óptima pois também tinha a vantagem de lá ter família, assim como os portugueses que lá residiam, não discriminando a maioria dos angolanos.
V: Em ambas as colónias, a recepção foi boa.
J: Boa, sem problemas.
MG: Nos três territórios foi boa.

7: Quanto tempo demorou (aproximadamente) a encontrar habitação e emprego?
H: Imediato, havia emprego para todos.
J: Após estadia em casa de familiares, talvez três semanas.
V: Em Moçambique, onde passei á disponibilidade demorei cerca de 6 meses a encontrar emprego, que incluia casa.
J: Nenhum.
MG: Em STomé e Macau estudava; em Moçambique estudei até contrair matrimónio.

8: Qual a relação que os portugueses (vindos de Portugal) tinham com o(s) povo(s) desse(s) território(s)?
H: Óptima, e a prová-lo estão os imensos casamentos com os naturais e perfeita integração.
J: Como em todos os países a onde se encontram portugueses diria que 50% bem, outros 50% sentiam-se inferiores.
V: As relações que os portugueses mantinham com os povos do território, excepto alguns casos de racismo, era boa.
J: Boa.
MG: No geral era boa.

9: Sentia que, de algum modo, houvesse um sentimento de superioridade por parte dos portugueses para com os povos desse território?
H: Com excepção do Norte, não.
J: Sim, houve tempos em que os portugueses exploraram os africanos e julgaram que a colónia já era Portuguesa e também a fim de servir alguns fins políticos.
V: De modo algum. Bastava que possuíssem um nível de educação e instrução adequados para serem aceites pelas famílias portuguesas.
J: De alguma superioridade, eram os detentores do comércio. Alguns arrogantes.
MG: Em alguns portugueses notei isso, mesmo que esses povos tivessem já um nível de educação e instrução, principalmente nas pastelarias e restaurantes de luxo.



10: Em termos de desenvolvimento, como se encontrava esse território?
H: Em franco desenvolvimento, com cidades amplas, limpas e modernas
J: Bastante desenvolvidos razão porque eram administrados pela maioria portuguesa.
V: Moçambique era um território que vivia da agricultura e turismo. Não tinha, e continua a não ter, riquezas naturais mas era o 1º produtor mundial de caju e grandes produtos de algodão, sisal, chá, entre outros.
J: Pouco desenvolvido, à excepção da capital.
MG: Quanto aos dois primeiros não me posso manifestar pois era muito jovem. Em Moçambique era um território que viva da agricultura, comércio, prestação de serviços e turismo. Era o 1º produtor mundial de castanha de caju e algodão. Tinha portos bem apetrechados e óptimas linhas de caminhos de ferro que transportavam mercadorias dos cais para os territórios vizinhos.



11: O que pensa dos movimentos de guerrilha nas colónias portuguesas?
H: Terrorismo movido por EUA (CIA) e URSS (KGB) com fundamentos políticos e destrutivos como está hoje demonstrado em toda a África pela política de terra queimada.
J: Na minha opinião, só serviram para distabilizar o país.
V: Foram o produto das ideias comunistas, tanto em voga na altura
J: Traduziam o descontentamento dos naturais em relação a alguma arrogância de alguns comerciantes exploradores que só pretendiam criar alguma riqueza pessoal e voltar para Portugal continental.
MG: Quiseram copiar o exemplo dos outros vizinhos (Congo) com ideias comunistas muito mal aplicadas no terreno.

12: No caso de ter sido militar nesse território, que ideia tem sobre o motivo que o levou a combater nesse local?
H: Defesa da Pátria Portuguesa.
J: Na lógica só serviu para interesses dos governos além de uma melhor organização nas colónias.
V: Em Moçambique não fui combatente.
J: Tentar manter os interesses portugueses em África em colaboração com os naturais.
MG: ----------



 13:No caso de não ter sido militar, o que pensa sobre a acção militar portuguesa nas províncias ultramarinhas?
H: ------
J: ------
V: A acção militar portuguesa em Moçambique foi tão boa que a situação estava completamente sob controlo.
J: -------
MG: A acção militar não foi má, pois no exército havia médicos, enfermeiros, professores, mecânicos etc etc que na região onde estavam aquartelados colaboravam com os nativos, ajudando-os nos seus problemas diários.

14: Acha que se combatia em igualdade de situação, isto é, em termos de armamento, conhecimentos estratégicos e militares? Porquê?
H: Nós, portugueses éramos a tropa mais bem treinada e conseguimos combater o terrorismo no seu covil e vencer. Com um mínimo de baixas, basta dizer que em 12 anos tivemos 30 mil baixascom 80% de acidentados, na maior parte por descuidos pessoais.
J: Com respeito à situação de igualdade os portugueses tinham melhor armamento assim como superioridade em termos de técnica de Guerra e superior formação.
V: Não. As forças portuguesas estavam muito melhor apetrechadas tanto em termos de armamento como em termos de conhecimentos estratégicos e militares. A guerrilha tinha, porém, um melhor conhecimento das terras e boa adaptação à vida no mato.
J: Não. Fraca adaptação ao clima, ao terreno, alimentação e água por parte dos militares portugueses. Bom armamento que os movimentos de libertação possuíam e guerra de guerrilha que praticavam.
MG: Desconheço.




15: Com que sentimento os portugueses não militares ficaram aquando do conhecimento que haviam tropas portuguesas a combater nesse território?
H: Sentimento de quase normalidade, pois o fenómeno quase não se sentiu em mais de 75% do território.
J: Eu próprio em particular não via a tropa como combatentes mas sim como uma formação policial para tentar uma melhor relação entre Portugueses e Africanos assim como qualquer estrangeiro.
V: Os portugueses que não eam militares sentiam-se protegidos pelas tropas, pois nada de anormal se verificava nas principais cidades.
J: Concordância e oposição. Para uns os territórios ultramarinos tinham de ser defendidos, mas para outros que viam portugueses a morrer, devíamos negociar e entregar esses territórios.
MG: Os portugueses sentiam segurança. Nas cidades não se verificavam atentados, bastava a presença deles.



16: Sentiu que a sua estadia e integridade pessoal ficaram ameaçadas? Justifique.
H: Não, pelo que já justifiquei na pergunta anterior.
J: Nunca me senti ameaçado excepto quando as colónias foram entregues motivadas por uma fuga muito apressada por parte dos portugueses.
V: Apenas após o 25 de Abril senti a minha segurança ameaçada, em virtude da bagunçada que se seguiu com as tropas só a pensarem em voltar para casa e a não quererem saber de mais nada.
J: Sim, aquando dos bombardeamentos a que estive sujeito.
MG: Não senti nada. Vim para Portugal em Junho de 1974. Já tinha as férias marcadas desde Janeiro desse ano.


17: Sentiu alguma mudança de comportamento, tanto da parte dos portugueses como da parte dos residentes locais?
H: Não.
J: Na altura da chegada ao Ultramar a convivência era de óptimas relações excepto quando foi a independência de Angola.
V: Sim. Os portugueses começaram a ter medo e os povos do território deslumbrados com a liberdade começaram a ter atitudes e exigências anormais.
J: Sim. Aquanda da saída total das tropas portuguesas da Guiné.
MG: Como respondi na pergunta anterior, não voltei a Moçambique.

18: Partiu para Portugal por vontade própria ou foi obrigado a abandonar aquele território?
H: Fui obrigado e desarmado pelo exército português a mando da URSS.
J: Um pouco de cada porque na altura da independência já nada havia a fazer em Angola.
V: Parti por vontade própria.
J: Terminei a minha comissão de serviço com a entrega da Guiné a 1 de Outubro de 1974.
MG: Vim por vontade própria.



19: Como reagiu à ideia?
H: Como é de calcular, mal.
J: Muito mal.
V: Os 17 anos de vivência em Moçambique levaram-me a reagir assim, pois antevi que o futuro dos meus filhos e os seus estudos não teriam qualquer hipótese de viabilidade.
J: Com tranquilidade e alguma nostalgia.
MG: Com muita mágoa, pois lá estudei, casei, nasceram os meus dois filhos. Quando estudava tinha colegas africanos, indianos, timorenses, tornamo-nos amigos e perdi o contacto com quase todos.

20: Com que sentimento partiu daquele território?
H: Com raiva contra os vendilhões de Pátrias.
J: Com sentimento de mágoa porque gostava daquele país.
V: Parti com tristeza e com pena da população, pois antevi que a "descolonização exemplar" não seria nada boa para ela. E assim sucedeu. De país próspero passou em pouco tempo a ser o "país mais pobre do mundo".
J: --------
MG: Com muita tristeza e pena da população pelo que iriam passar e sofrer.

21: Que patrimóno deixou para trás?
H: Todos os meus bens ficaram saqueados pelas tropas portuguesas em Mocamedes, no porto de mar, onde se encontravam despachadas.
J: Todos os haveres.
V: Não deixei nada para trás, pois consegui vender tudo o que não trouxe para Portugal.
J: Nenhum.
MG: Não deixei nada para trás: o que não trouxe, vendi.



22: Como viajou para Portugal?
H: De avião e à minha custa
J: De avião.
V: Viajei de avião.
J: Barco - navio Niassa.
MG: Vim de avião.

23: Em que altura chegou a Portugal?
H: Dezembro de 1975.
J: Depois do 25 de Abril
V: Após o 25 de Abril.
J: Após o 25 de Abril.
MG: Após o 25 de Abril.

24: Qual a recepção que encontrou em Portugal, perante a sua situação de retornado?
H: Má, com critérios diferentes áqueles que hoje efectivamente exploram o povo africano.
J: Nunca me considerei retornado unica e simplesmente imigrante pois nunca recebi qualquer ajuda.
V: A recepção em Portugal, por parte da família foi boa. Porém, para a população em geral éramos considerados como os "exploradores dos pretos" que vinham agora tirar os empregos de cá.
J: Saí do exército, só estive 6 meses no Ultramar.
MG: Por parte da familia foi boa. Quando fui trabalhar ouvia por vezes alusões muito desagradáveis referentes aos retornados.



25: Aquando da sua chegada, onde ficou alojado?
H: Em casa de familiares.
J: Em casa paterna.
V: Em casa de familiares.
J: Em casa dos pais.
MG: Em casa de família.



26: Passado quanto tempo encontrou habitação própria e emprego?
H: Um ano após.
J: Continuo em casa paterna e empregado.
V: Casa, arranjei ao fim de 6 meses e emprego ao fim de um ano e meio.
J: Concluí a licenciatura.
MG: Encntrei casa ao fim de 6 meses. Emprego ao fim de dois anos.

27: Que memória tem sobre os tempos vividos após o 25 de Abril, situação social, política...
H: Memórias de vergonha de ser português.
J: --------
V: A situação a princípio foi de caos, mas à medida que a situação política foi estabilizando e que a sociedade foi começando a absorver a vaga de retornados que, aliás, não se revelaram exploradores mas sim gente de trabalho e com iniciativa, tudo voltou à normalidade.
J: Uma grande confusão.
MG: Memórias de anarquia... desde o 28 de Setembro, o juramento de Bandeira de uns mancebos com o cabelo comprido e braço no ar, de um militar de alta patente sempre a falar e a não dizer nada e a pedir para se trabalhar no 5 de Outubro e esse dinheiro seria para...nunca soube. A população a criticar os retornados por virem para cá tirar o emprego aos de cá.



28: Hoje, passados já alguns anos, que memória e que sentimentos tem relativamente ao território colonial onde se encontrou e às situações por que se viu obrigado a passar?
H: Muita saudade dos povos e de tristeza pela situação em que colocaram África e tudo graças aos nossos miseráveis políticos.
J: Considero a colónia um país formidável mas ainda com bastante instabilidade criada com políticas diferentes embora seja um país no qual eu gostaria de viver.
V: Guardo memórias de uma vida diferente, em grandes espaços e como não havia desemprego a convivência social era muito especial. Os sentimentos mais profundos são de tristeza, pena e saudade.
J: Entrega vergonhosa, sem negociação aceitável.
MG: O convívio entre todos, os grandes espaços, as largas avenidas, as árvores exóticasque davam sombra às ruas, as praias e o pôr do sol. Sinto saudades, muita tristeza quando vejo na TV locais onde vivi e estão pouco cuidados.





Todos os testemunhos aqui presentes são verídicos, tendo o conteúdo das respostas sido rigorosamente transcrito para aqui. O facto de ter colocado aqui estes testemunhos, não significa que concorde com tudo o que foi referido; "------" siginifica que a pessoa não respondeu à questão.


 Confesso que muitas respostas me surpreenderam, quer em 2003, quer agora que as voltei a reler.  Se, por um lado, se nota bastante revolta nalguns, está também presente um sentimento de perda e saudade.Mais uma vez, agradeço imenso a colaboração de todas as pessoas que me ajudaram na altura a elaborar um excelente trabalho no âmbito escolar, mas que acima de tudo me permitiram registar testemunhos reais e vivos de quem realmente viveu a Guerra Colonial.

Obrigadaontes das imagens:
http://25abrilalfandega.blogspot.pt/2010/06/osretornados.html
http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/1982/historias-felizes-de-quotretornadosquot
http://retornadosdafrica.blogspot.pt/2008/11/os-retornados-do-ex-ultramar-na.html
http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=socguerr

sábado, 21 de abril de 2012

Miragens de uma tragédia

Cem anos. Há um século o transatlântico SS Titanic afunda-se. Uma nova descoberta levanta o véu. O possível motivo que terá levado um navio que estava mesmo nas vizinhanças a ignorar o pedido de ajuda do Titanic, terá sido exactamente o mesmo motivo que terá feito com que os vigias apenas tivessem visto o tão famoso iceberg minutos antes da colisão. 



 
      Um estranho fenómeno óptico talvez explique a razão para o embate do Titanic no iceberg, assim como, o não ter recebido qualquer auxílio de um navio que na altura estava bastante perto. Isto foi trazido a público pelo historiador inglês Tim Maltin, agora aqundo do centenário da tragédia.



     Maltin descobriu que as condições atmosféricas naquela área, naquela noite, eram extremamente propícias à ocorrência de refração. Este novo estudo vem comprovar aquilo que os barcos que passaram pelo local relataram, inclusivé o barco que não terá prestado auxilio ao Titanic, o California. De facto, já em 1992 o Governo Inglês levou investigações a cabo que terão demonstrado que este fenómeno pouco usual  poderia ter sido a causa do naufrágio. Contudo, tal explicação não ficou completa até Maltin ter explorado exaustivamente os relatos dos sobreviventes, assim como diários de bordo dos navios que passaram por ali naquela noite ou no dia seguinte.





As descobertas de Maltin

      O Titanic estava a navegar a partir das águas da Corrente do Golfo, entrando naquela noite nas gélidas águas da Corrente do Labrador, onde a corrente de ar arrefecia bastante de baixo para cima. A pressão de ar extraordinariamente forte conseguia manter o ar livre de nevoeiro.

 Fonte: http://www.smithsonianmag.com/science-nature/Did-the-Titanic-Sink-Because-of-an-Optical-Illusion.html?c=y&page=1&navigation=previous#IMAGES

      Por outro lado, uma inversão térmica refracta anormalmente a luz e consegue criar uma miragem: os objectos aparecem muito mais altos e mais perto do que na realidade são e estão, antes também de um falso horizonte.  

 Fonte: http://www.smithsonianmag.com/science-nature/Did-the-Titanic-Sink-Because-of-an-Optical-Illusion.html?c=y&page=1&navigation=previous#IMAGES



      O operador de rádio de um outro navio, o California, comunica ao Titanic a presença de gelo. Contudo, naquela noite sem qualquer luar, não se visualizava qualquer contraste, não se via “onde acabava o mar e começava o céu”. Este facto aliado a um mar calmo, sem ondas a bater nas rochas ou icebergs, conseguiu criar uma camuflagem perfeita entre o horizonte verdadeiro e o falso, criando uma capa invisível sobre o iceberg. De facto, o alarme soa tarde de mais, já o navio estava a poucos metros de distância do iceberg. 

Fonte: http://www.smithsonianmag.com/science-nature/Did-the-Titanic-Sink-Because-of-an-Optical-Illusion.html?c=y&page=1&navigation=previous#IMAGES


      A juntar a tal desgraça, o navio California fica também ele envolvido num manto de camuflagem e miragem. Mesmo antes do embate entre o Titanic e oiceberg, o Titanic está a navegar dentro do campo de visão do California – “mas parecia demasiado pequeno e demasiado perto, não podia ser o Titanic”. O capitão do California, Stanley, sabia que na área apenas o Titanic tinha rádio, pelo que aquele pequeno navio, aquele pequeno barco não devia ter rádio.

Fonte: http://www.smithsonianmag.com/science-nature/Did-the-Titanic-Sink-Because-of-an-Optical-Illusion.html?c=y&page=1&navigation=previous#IMAGES


       Assim, Lord Stanley decide avisar o pequeno barco através de sinais luminosos, por código morse, que se estaria a aproximar de perigo. Quanto ao Titanic, já em grandes apuros, envia também ele sinais de Morse àquele que lhe parece ser um barco nas imediações. Ambos os navios não recebem qualquer resposta. O ar estratificado anormal distorceu os sinais. Nenhum obteve resposta.

Fonte:http://www.smithsonianmag.com/science-nature/Did-the-Titanic-Sink-Because-of-an-Optical-Illusion.html?c=y&page=1&navigation=previous#IMAGES

 
      E o que dizer a respeito dos rockets? Foguetes a bordo do Titanic especialmente fabricados para um pedido de ajuda? Os foguetes foram efectivamente disparados a 600 pés para o ar. Contudo, qualquer um que os avistasse, como foi o caso do California, achou-os demasiados baixos para um navio como o Titanic. Aqueles que estavam a bordo do California, asseguraram em tribunal que viram os sinais de fogo, mas que não podiam ser do Titanic e, sem certezas do que estariam a ver, ignoraram. 

Fonte:http://www.smithsonianmag.com/science-nature/Did-the-Titanic-Sink-Because-of-an-Optical-Illusion.html?c=y&page=1&navigation=previous#IMAGES


      Quando o Titanic afundou, por volta das 2horas da manhã, já no dia 15 de Abril, a tribulação a bordo do California simplesmente pensou que o pequeno navio, o pequeno barco tinha zarpado e continuado a sua viagem. 

    O historiador, que durante seis longos anos estudou todos os depoimentos dos sobreviventes, dá finalmente razão aos tripulantes, quando estes afirmaram que “o iceberg apareceu do nada, naquela noite calma” O historiador é muito firme ao afirmar “ hoje sabemos que eles tinham razão”. O investigador apercebeu-se que o Titanic sofreu uma enorme fatalidade, dado que logo na sua viagem inaugural passou por uma tempestade climática pouco comum. Houve, de facto, teorias em que se apontou como causa uma possível embriaguez do capitão, ou a própria direcção do leme estar danificada. Contudo, além de se ter mostrado que tal não correspondeu à verdade, perceberam-se também que, se o navio não tivesse virado quando viu o iceberg, se o navio tivesse chocado de frente, possivelmente não teria afundado, dado que os danos teriam sido muitíssimo inferiores.

 Viagem inaugural do California, 1900

      No que diz respeito a um diário de bordo específico, de um navio chamado Paula, Maltin dá bastante ênfase ao que refere como algo bastante estranho: é prática comum, ainda na actualidade, os navios medirem a temperatura do mar com regularidade. No diário do Paula, Maltin lê que a água naquele dia variou entre os 1,4 até aos 13 graus Celsius. Tal amplitude térmica parece impossível, não estivéssemos nós já na posse do conhecimento da existência deste fenómeno, que ocorre ainda hoje. O navio Marengo relata no seu diário temperaturas igualmente estranhas. Marengo terá estado no local do acidente no próprio dia, possivelmente antes do acontecimento.

      Maltin esteve diversas vezes em pequenas embarcações que frequentam a Corrente do Labrador e, na actualidade, os próprios pescadores temem o fenómeno que não lhes é desconhecido: as miragens no mar, onde uma rocha ou mesmo uma ponta de gelo passa despercebida. Com base em imagens captadas de miragens nesta Corrente, Maltin calcula que o iceberg poderá ter estado cerca de 20 minutos invisível.

ver: http://natgeotv.com/uk/titanic-case-closed/galleries/recreate-the-scene  

      Por outro lado, tendo verificado o navio agora no fundo do mar, Maltin estima que em poucos segundos o casco lateral do navio foi rasgado, ao longo de 200metros. 

      Cerca de 1700 pessoas faleceram neste desastre que, aparentemente, poderá não ter tido culpa humana. Contudo, além das vitimas mortais, muitas outras pessoas viram a sua vida arruinada para sempre. O Capitão Lord Stanley ficou para sempre com a sua reputação manchada, dado que após as comissões de inquérito, a opinião geral é que ele teria sido negligente, teria simplesmente ignorado os pedidos de ajuda do Titanic. Neste momento os seus relatos acerca da impossibilidade daquele ser o Titanic, devido ao tamanho, acerca de não ter recebido respostas aos seus avisos enviados por código Morse, fazem todo o sentido.  

    No final, é o navio Carpathia quem acaba por responder aos apelos do Titanic, chegando ao local e transportando para os EUA os sobreviventes.

 bote salva-vidas com alguns dos sobreviventes

Multidão à espera da chegada do Carpathia, Nova Iorque EUA









Fontes:
http://www.smithsonianmag.com/science-nature/Did-the-Titanic-Sink-Because-of-an-Optical-Illusion.html
http://www.telegraph.co.uk/science/science-news/9158258/Titanic-sank-due-to-mirage-caused-by-freak-weather.html
http://natgeotv.com/uk/titanic-case-closed/facts

sexta-feira, 6 de abril de 2012

A morte de Sócrates

Ainda hoje este processo está envolto em polémica. Um professor é acusado de corromper a juventude.O paradoxo neste caso resulta do facto de todas as circunstâncias se desenrolarem numa cidade cuja tolerância é proverbial na Antiguidade. A morte de Sócrates permanece por vezes como um tabu na História: levanta a eterna questão de saber em que medida um professor pode exercer uma má influência sobre os seus alunos.


"O processo e a condenação de Sócrates testemunham o perigo que a ignorância faz correr ao saber, que o mal faz correr à virtude. Mas este perigo não é senão aparente, pois, na realidade, é o justo que triunfa dos seus carrascos se bem que seja vítima deles, o triunfo de Sócrates sobre os seus juízes data do dia da sua execução."
( in Jean Brun, página 80)

Acusado: Sócrates

      O processo contra o filósofo tem inicio em 399 quando um indivíduo chamado Meletos apresenta uma queixa no cartório do arconte-rei - magistrado superior encarregado dos casos de assassinato e sacrilégio:

"Sócrates é culpado de não reconhecer os deuses reconhecidos pelo Estado e de introduzir divindades novas; é culpado também de corromper jovens. A pena pedida é a morte."

      É ao tribunal de Helieia que cabe julgar esta graphe asebeias, ou acusação impiedosa. Recrutados por por sorteio, os heliastas ou juízes de Helieia são em número variável de 201 a 2501, segundo a importância do processo. Para julgar a morte de Sócrates serão 501. Cada uma por sua vez, acusação e defesa tomam a palavra, sendo o tempo limitado pela clepsidra ou relógio de água.





      Uma vez que em Atenas não existia Ministério Público, a acusação é sempre feita por um particular. Meletos, que apresentou queixa contra Sócrates, é uma personalidade bastante insignificante, filho de um poeta trágico.
      Meletos era um poeta trágico novo e desconhecido de cabelo raro, barba escassa e nariz adunco, era o acusador oficial, porém nada exigia que ele como acusador oficial fosse o mais formidável, hábil ou ameaçador, mas somente aquele que assinava a denúncia. Apresentava a classe dos poetas e adivinhos.  O mais estranho é Meletos parecer não conhecer bem quem está a acusar, dado que muitas vezes confunde Sócrates e os seus ensinamentos com os de um outro imponente filósofo da época, Anaxágoras.

       Efectivamente, o principal agente de acusação é Anytos, rico proprietário de uma oficina de curtumes, influente pelas suas relações e pela sua vida política ateniense. Um terceiro acusador, o orador Lícon, pouco intervém nos discursos.
      Pouco se sabe de Lícon. Era um retórico obscuro e o seu nome teve pouca utilidade e autoridade no decorrer da condenação de Sócrates. Representava a classe dos oradores e professores de retórica. Talvez Lícon pretendesse a condenação de Sócrates, devido ao seu filho ter-se deixado corromper moralmente, filosoficamente e sexualmente por Callias, e Callias era um associado de Sócrates.



A defesa

      As acusações de impiedade e de corrupção da juventude traduzem bem os movimentos de opinião que o comportamento de Sócrates suscita.
      Curiosamente, Sócrates não era uma figura esbelta: era um homem idoso, com mais de setenta anos; baixa estatura; feio e quase disforme; proveniente de um meio bastante modesto, onde o pai era escultor e a mãe parteira; e sem fortuna, visto não levar dinheiro pelo seu trabalho como professor.



      Todo o problema começa com a sua ironia que, apesar de bem vista aos olhos dos amigos, acaba por se tornar algo temível aos olhos daqueles que passam a ser seus inimigos. Sócrates põe em causa convicções adquiridas. A sua famosa técnica de "maiêutica", ou iluminação dos espíritos, é imparável e valeu-lhe muitas inimizades.

      Para sua defesa, Sócrates recusa toda a defesa alheia. Demonstra que a sua vida falará a seu favor, ao mesmo tempo que submete os acusadores a um inquérito duro, conforme o seu hábito.
A impiedade é o primeiro ponto de acusação. Meletos afirma que Sócrates nega a existência dos deuses. Absolutamente mentira, responde Sócrates. Afirma que respeita a religião nacional. O "demónio" que o inspira não é senão uma das aparências dos deuses reconhecidos:

"Será que estou a introduzir divindades novas, quando declaro que uma voz divina se me faz ouvir para me indicar o que devo fazer?" 




      O segundo ponto de acusação recai sobre a sua influência nos pupilos e juventude. É verdade que Sócrates recruta jovens, nobres, de famílias abastadas que normalmente são mais desprendidos relativamente às crenças nacionais. De facto, o caso da mutilação das estátuas de Hermes e da paródia aos mistérios de Elêusis foi imputado ao mais fiel seguidor de Sócrates, Alcibíades.





      Então Sócrates inquiriu o acusador Meletos acerca de quem é que melhorava a cidade. Meletos citou primeiro os juízes; depois gradualmente, acabou por dizer que todos, excepto Sócrates, melhoravam a cidade. Então Sócrates congratulou a cidade pela sua boa fortuna e referiu que era melhor viver entre homens bons do que entre maus; e portanto não podia ser tão irracional que devassasse os concidadãos intencionalmente; mas se era sem intenção, Meletos devia instruí-lo e não persegui-lo. Sócrates também destacou que entre os assistentes havia discípulos seus e pais e irmãos deles; nenhum foi chamado a testemunhar que ele corrompia a juventude.


Sócrates tenta afastar Alcibíades do prazer

      Opôs-se a seguir o costume de apresentar os filhos chorosos para comover os juízes. Tais cenas tornavam ridículos o acusado e a cidade. A sua função era persuadir os juízes e não pedir-lhes um favor.

      "Diz-nos Meletos, se conheces um jovem que pela minha influência se tenha transformado de piedoso em ímpio, de moderado a violento, de temperamental em pródigo, de sóbrio em bêbado, de trabalhador em preguiçoso, ou, enfim, escravo de qualquer outro prazer..."

E prossegue Sócrates:

      "Tal como os doentes dão mais ouvidos aos médicos do que aos pais e que, para chefiar a guerra, se escolhem os melhores estrategas, também a minha reputação enquanto professor faz com que, no domínio da filosofia, os jovens confiem mais em mim do que nos próprios pais." 

A morte

      Defendendo sempre a forma e o conteúdo dos seus ensinamentos, Sócrates percebe que o seu destino está traçado. Assim, desde o início do seu julgamento o filósofo deixa bem patente que a morte não o atemoriza.




      Dos 501 heliastas, 280 pronunciam-se a favor da culpabilidade do acusado. De acordo com o costume, perguntam a Sócrates qual a pena que prefere: "Ser alimentado no Pritaneu", responde o filósofo, reclamando dessa forma a maior recompensa que o Estado pode oferecer aos cidadãos. É condenado a beber cicuta.


cicuta

      Só passado um mês a pena pode ser aplicada. Como todos os anos, a galera sagrada- conhecida por galeria salaminiana- conduzira a Delos a delegação encarregada de celebrar o aniversário da luta entre Teseu e o Minotauro e, durante a sua ausência, nenhuma execução pode ter lugar em Atenas.

      Na sua cela, Sócrates passa o mês a filosofar com os seus amigos. Estes tentam convencê-lo a evadir-se e fornecem-lhe os meios para tal mas, fiel às suas convicções cívicas, o velho homem recusa por não querer infringir as leis da cidade.



      No dia seguinte ao da chegada da trirreme sagrada ao Pireu, Sócrates bebe o veneno sem sinal de transtorno, depois de ter dissertado sobre a imortalidade da alma. Reconforta os amigos chorosos e desolados. Estiveram presentes todos os amigos de Sócrates excepto Aristipo, Xenofonte (estava na Ásia) e Platão (estava doente), Xantipa e seus filhos.
      Recusou ser vestido depois de morto por uma rica túnica que Apolodoro lhe havia trazido, preferia o seu manto que havia sido bastante bom até ali e que continuaria a sê-lo depois da sua morte.


    Assim que começou a sentir as pernas pesadas deitou-se, tal como lhe havia recomendado o carcereiro. O veneno iria subindo progressivamente, até que quando chegasse ao coração seria o fim. Sócrates proferiu então:

"Críton, somos devedores de um galo a Asclépio; pois bem pagai a minha dívida, pensai nisso".

      Críton ainda lhe perguntou se não teria mais nada a dizer, mas estas foram as suas últimas palavras. Sócrates após um último sobressalto morreu e o seu amigo Críton fechou-lhe os olhos.
      Os relatos afirmam que a morte o surpreende no momento em que os últimos raios de sol desaparecem por detrás das encostas do Himeto.


Testemunhos

      Tanto o historiador Xenofonte como o discipulo e amigo Platão que o acompanham nos seus últimos dias de vida, consagram-lhe várias obras, muitas referentes aos seus últimos dias de vida.
      Há filósofos que acreditam que Sócrates recusou-se a defender perante o tribunal popular indo de encontro à sua condenação porque o seu demónio nada lhe disse para se afastar da condenação.

      Existem ainda autores que consideram que a descrição da morte de Sócrates no Fédon de Platão é completamente inconsistente com os efeitos conhecidos da cicuta. Pensam portanto que no relato da morte de Sócrates alguém estava a mentir.

"Para dizer a verdade, discípulos, propriamente não tive nenhum. Se alguém quiser ouvir-me quando falo, quando me desobrigo do meu ofício, jovem ou velho, não recuso esse direito seja a quem for. Não sou desses que só falam quando são pagos e que não falam de maneira nenhuma quando não lhes pagam. Não, estou á disposiçãodo pobre como do rico, sem distinção, para que eles me interroguem ou, se preferirem, para que eu os interrogue e eles escutem o que tenho a dizer-lhes. Depois disto, se algum deles se portar bem ou mal, com que direito pode isso ser imputado às minhas lições, se eu não prometi nem dei lições a ninguém?"
Platão, Apologia de Sócrates, 33    

Fontes:
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/socrates/mortedesocrates.htm
Astier et al, (2000), Memória do Mundo, Cículo de Leitores