Perdida na História

Perdida na História

terça-feira, 6 de março de 2012

KKK

Cerca de dez mil pessoas. Dez mil pessoas é um número médio apontado para o número de vítimas do Ku Klux Klan. Decorria o ano de 1865 e Jesse James andava a assaltar bancos nos EUA. Saídos de uma guerra sangrenta, os Estados Unidos estavam neste momento tudo menos unidos. Havia uma forte separação entre Norte e Sul. Foi neste clima alucinante que seis indivíduos fundam esta máquina assassina.


A Guerra


      A Guerra de Secessão (ou Guerra Civil Americana)  consistiu no combate entre 11 Estados Confederados do Sul, latifundiário, fidalgo e defensor da escravatura, contra os Estados do Norte, já industrializados, onde a escravidão era mais escassa do que no Sul. Estas diferenças estão entre as principais causas da guerra e têm origem ainda no período colonial.
      Em 1861, ano do início da guerra, o país consistia em 19 estados livres, onde a escravidão era proibida, e 15 estados onde a escravidão era permitida. No dia 4 de Março, antes de Lincoln assumir a presidência, 11 Estados esclavagistas declararam secessão da União, e criaram um novo país, os Estados Confederados da América.




       A guerra estalou quando as forças confederadas atacaram o Fort Sumter, um posto militar americano na Carolina do Sul, no dia 12 de Abril de 1861. A  Guerra termina no dia 28 de Junho de 1865, com a rendição das últimas tropas remanescentes da Confederação, no Sul.





      É também muito importante perceber as facções políticas saídas deste brutal confronto. A Guerra leva a uma divisão em três diferentes partidos muito, muito diferentes daquilo que a maioria das pessoas pudesse pensar: os anti - esclavagistas radicais da União, que formariam o Partido Republicano; os pró-esclavagistas da União, que formariam o Partido Democrata e ainda os separatistas. De facto, ao contrário do que acontece actualmente, a reviravolta absoluta do Partido Democrata acontece já em no século XX, até lá, era um partido muito vocacionado para os ricos e pró-escravatura.  



      É neste cenário que regressamos ao ano de 1865, num Sul destruído pela Guerra, absolutamente humilhado, desesperado pela fome e desemprego. Centenas, milhares de jovens vagueiam pelas cidades e campos sem qualquer ocupação, não há emprego.


Véspera de Natal

      Foi na véspera de Natal que Calvin Jones, Frank McCord, Richard Reed, John Kennedy, John Lester e James Crowe se reuniem para fundar uma associação. Nada de política! Nada de religião! Apenas fraternidade de armas. Relembrar a união que os manteve durante os psicadélicos dias de Guerra. Foi, naturalmente, necessário baptizar a união com um nome.

       Kuklos, que significa "círculo" em grego foi adoptada por Kennedy; já Crowe divide-a em dois : "ku klux". “Observando que os fundadores eram de origem escocesa, lester propôs acrescentar ao nome uma evocação ao "clã", em harmonia com a ortografia adotada” daí o "klan".

      Estando numa época festiva, surge a Crowe a ideia de adoptar uma fantasia tanto para os membros do grupo, como para os cavalos (o seu meio de transporte…), roubando para tal panos, lençõis e capuzes brancos da casa dos seus hóspedes. Nasceu a organização ku klux klan.




Vamos brincar

      Tudo começa como uma mera brincadeira. Era “divertido” desfilarem pelas ruas de Pulaski, de noite, perto das casas dos negros que, sendo iletrados e altamente supersticiosos, acreditavam verdadeiramente que os fantasmas dos confederados mortos na Guerra tinham voltado para os atormentar. O terror descrito por alguns indivíduos é aterrador.



      A brincadeira tem repercussões impensáveis: fazendeiros do sul vêem aqui a verdadeira oportunidade de voltarem a ter de volta os seus escravos! Nem mesmo eles teriam pensado num plano tão perfeito, uma “oportunidade de trazer de volta para o trabalho nas plantações os 4 milhões de negros que Abraham Lincoln tinha liberado com a Proclamação da Emancipação de 1º de janeiro de 1863”. Os negros procuravam na casa dos “senhores” protecção.

      Deixou de ser brincadeira. Os “cavaleiros brancos” perseguiam agora com um único intuito: aterrorizar, “utilizando diversos dispositivos para dar credibilidade aos seus poderes sobrenaturais: ossos de esqueletos escondidos sob os tecidos com que se cobriam, para apertar a mão dos antigos escravos alforriados, abóboras habilmente recortadas, que colocavam e retiravam rapidamente, para evocar a lenda do cavaleiro sem cabeça (…)”.




      Convém nunca esquecer o ambiente que se vivia no Sul: um ódio profundo ao Norte, que continuava as suas políticas anti-esclavagistas; uma pobreza seguida de perto pela fome. É neste cenário que a KKK, nomeadamente os seus seis elementos, é vista como salvadora da Pátria e dos valores: adquire uma impensável notoriedade na região.

Elementos

      Se no início temos os seis amigos, rapidamente a sociedade tende a aumentar. Para evitar denúncias, o segredo torna-se um componente essencial, largamente auxiliado pelo anonimato garantido pelo capuz e reforçado pelo uso de títulos esotéricos e ritual iniciático: numa seleção no mínimo estranha, o infeliz candidato a membro era punido pela sua curiosidade, sendo fechado num túnel, dentro de um barril e empurrado para rolar.

      Aquilo que apenas os seis começaram por fazer, rapidamente grupos organizados começam também a executar: organizam-se, cobrem-se, surpreendem e matam negros.
      No começo de 1867, em Nashville, no Texas, os seis de Pulaski, sentindo-se ultrapassados pelos acontecimentos, tentam retomar o controlo das operações. Adoptaram uma proclamação dos princípios fundamentais da KKK: uma "instituição cavalheiresca, humanitária, misericordiosa e patriótica" (incompreensível, não?).



      Elaboraram organograma à semelhança de uma hierarquia medieval fantasiada. “Cada estado tornou-se um reinado governado por um Grande Dragão; cada distrito era um domínio, dirigido por um Grande Titã; cada condado ou província ficava sob a autoridade de um Grande Gigante. Tudo constituía o "Império Invisível", dominado pelo Grande Feiticeiro. As funções mais modestas eram ligadas a títulos como Grande Monge, Grande Escriba ou Grande Turco.

      Acima de tudo, a KKK era a organização responsável pela liberdade dos brancos.

Ideais

      O dever sagrado de qualquer membro da KKK seria "a manutenção da supremacia da raça branca na República". Um objectivo justificado pela “sacrossanta psicologia" : "os negros são verdadeiramente homens?” e por uma teologia estranha: "O Criador, elevando - nos dessa forma acima do nível ordinário dos humanos, quis nos fornecer, sobre as raças inferiores, um poder que nenhuma lei humana pode nos retirar de maneira permanente".

      Quanto a política, não haviam dúvidas: juravam fidelidade à Constituição americana, da qual se viam herdeiros exclusivos, por serem brancos; porém, o klanista prestava também juramento de "se preservar das leis do governo federal, cujo poder era declarado "arbitrário e ilícito"”.

      A verdade é que a KKK nunca teria ido tão longe se não estivesse largamente apoiada por altos dignitários, dos quais a maior parte eram antigos oficiais confederados. Previsto para ser o primeiro Grande Feiticeiro da KKK, o general Robert Edward Lee, o ex-comandante-chefe dos exércitos do Sul, declinou o convite, mas aceitou ser o presidente "invisível".


Robert Edward Lee
Nathan Bedford Forrest

      Era necessário um presidente. Era necessário tornar a KKK oficial. Em 1867, uma estrela lendária foi aclamada: o general Nathan Bedford Forrest. Sabia-se que havia acumulado uma grande fortuna como traficante de escravos, assim como os seus feitos eram também eles famosos: “as suas tropas massacraram os soldados negros que se renderam em Fort Pillow, gritando "Matem os negros!"”. Era o homem de que a KKK necessitava. Deva-se dizer que foi brilhante na sua actuação. Em 1869 procede solenemente à dissolução da “irmandade”. Na realidade foi um bluff colossal, sabido por todas as pessoas: colocando o “império” numa clandestinidade cada vez maior, a irmandade desaparecia aos olhos da lei, crescendo cada vez mais e mais.


Forrest



Vamos a votos!

      Além das mutilações, chicotadas e assassinatos, a KKK era particularmente influente nos momentos eleitorais. O método parecia eficaz: obrigavam negros, através de visitas surpresas a meio da noite, acompanhadas por chicotadas e ameaças de morte, ou a abster-se ou a votar no partido Democrata, tendo em conta que no século XIX o Partido Republicano estava largamente associado aos inimigos do Norte.




       Além da sua actuação eleitoral, os negros tinham agora também a liberdade de se associarem, de se juntarem em grupos. Ora tal prática era absolutamente indigesta para a KKK. Muitos dos negros tinham-se juntado à Loyal League, que cultivava o pensamento igualitário de Lincoln e autorizava seus membros, a partir de 1867, a portar armas. Se a associação era impensável, o porte de armas por parte da população negra era a verdadeira heresia! Assim, durante os primeiros meses de 1868, “o Grande Feiticeiro percorreu seus estados convocando para a mobilização”.





      Respondendo a um jornalista, Forrest explicou: "Os negros faziam reuniões noturnas, iam e vinham, tornando-se extremamente insolentes, e todo o povo do Sul, em todos os estados, estavam muito preocupados". O que Forrest não explicou foi o motivo pelo qual “os seus próprios militantes, em nome da "preocupação" dos cidadãos americanos, tiravam ilegalmente prisioneiros negros de suas celas e pendurando-os em árvores.

      A KKK atacava morbidamente os negros que tinham conseguido juntar alguns bens no pós-guerra, sempre em nome do raciocínio segundo o qual eles eram “preguiçosos, inconstantes e economicamente incapazes e, por natureza, destinados à escravidão. A Klan "mantinha a ordem". Natural e social.” . Note-se que a actuação da KKK não se limitou aos negros. Todos aqueles considerados anti-americanos tinham visitas surpresa: judeus, católicos, prostitutas e sobretudo indivíduos vindos do Norte, tais como professores e mais tarde todos os emigrantes europeus e comunistas.




      A situação descontrolou-se. Registaram-se tiroteios, chicoteamentos, linchamentos que acabaram por degenerar em anarquia total, com alguns grupos do KKK a lutarem entre si. Forrest sai discretamente da organização…

      A KKK não recuava. Nada a conseguia travar. Um caso caricato aconteceu em pleno tribunal, onde o senador republicano Stephens foi brutalmente apunhalado. Terá sido perante tal que no dia 20 de Abril de 1871, o presidente Ulysses S. Grant assinou um acto draconiano (o mesmo que excessivamente severo), que colocou, definitivamente, o grupo na ilegalidade. Passou a ser autorizada o uso da força para dissolver núcleos de associados da KKK, tendo, seis meses mais tarde, sido decretada a lei marcial em nove condados da Carolina do Sul.

       Apesar de ter sofrido uma dura derrota, a KKK desmembra-se por forma a não ser apanhada: White League, Shot Gun Plan, Rifle Club, entre outros.

Horror no século XX

      Em 1915 acontece aquilo por que muita gente se recorda desta organização. Nas Montanhas Rochosas dos EUA, o reverendo William Simmons queimou uma grande cruz à frente de 15 dos seus companheiros da KKK.









      A KKK desenvolve-se a partir de 1920, com a entrada em cena de dois novos associados de Simmons: Edward Clarke, ex-jornalista e Elizabeth Tyler, um viúva milionária. Clarke tornou-se chefe do estado-maior da KKK, não fosse ele um expert em publicidade. Fixa o quartel-general em Atlanta, “reinstaurou, grosso modo, as antigas subdivisões e o ritual clássico de iniciação, multiplicou os desfiles em que queimava cruzes, deu um salário aos que exerciam uma função no seio da KKK”.

      Num ano “o Sul foi "reconquistado" e, novidade, o Norte ficou seriamente tentado, em particular os estados de Indiana, Oklahoma e Oregon”. De facto, Republicanos e burgueses das cidades ficaram aliciados.
      O número de membros oscilou entre os 3 e os 5 milhões… MILHÕES! Com tal colossal apoio, a KKK diversifica as suas actividades: publicou jornais e folhetos, comprou imóveis, assumiu o controle da Lanier University. Mais tarde, a KKK tem um novo presidente: um dentista franco-maçom (32.° grau) Hiram W. Evans, de Dallas, que se torna Feiticeiro Imperial e aproveita igualmente para expulsar Clarke e Tyler.





      Em 1924, a KKK organiza um desfile descomunal em Washington. As massas ficam impressionadas.






Fortalecido pela relativa neutralidade da polícia e pelo apoio de diversos magistrados locais, a Klan, copiosamente armada, multiplicou os seus actos de crueldade.”





      Os negros, ou aqueles que se confraternizavam com eles, homens da lei, políticos e pastores viam os seus cabelos serem rapados, eram marcados na testa com as três iniciais KKK, açoitados ou ainda cobertos por asfalto, no qual colocavam penas. Apresentando-se, novamente, como justiceira da moralidade pública, a Klan punia as mulheres adúlteras, os médicos aldrabões, as prostitutas, marginais, sem-abrigos. O cenário era repleto de crimes hediondos, como o de “criminosos moídos por um trator”.



      O descontrolo tinha regressado aos EUA.

      É votada nalguns estados, como Louisiana, uma lei antimáscara (proibição de usar máscaras fora do Dia de Todos os Santos e do carnaval).

      Nos anos 1930, a idealogia Nazi exerceu um grande fascínio sobre a KKK. Porém, toda esta paixão acaba quando Pearl Harbor é atacado pelos Japoneses (aliados dos Alemães), verificando-se uma enorme afluência aos alistamentos no exército por forma a combater o “perigo amarelo”.

O último prego no caixão?

      Sabe-se que muitas acções dos patrões contra os empregados e sindicalistas na grande crise de 1929-30 tiveram por trás a mão da KKK. Nos anos que se seguiram, a KKK observou um progressivo declínio. Pensa-se que o que terá feito a organização recuar, terá sido a acção do Internal Revenue Service (Receita Federal Americana), em 1944,  tendo cobrado 605 000 dólares em impostos atrasados. Apesar da esmagadora fortuna, a KKK começou-se a desmoronar, falando-se até em falências.

Renascimento?

      Nos anos 1950, a promulgação da lei contra a segregação nas escolas públicas despertou novamente algumas paixões antigas, voltando-se a observar cruzes acesas. Seguiram-se confrontos violentos, casas dinamitadas e novos crimes (29 mortos de 1956 a 1963, entre eles 11 brancos, durante protestos raciais).






      As acções anti-comunismo, combate aos índios ou mesmo anti-catolicismo marcaram esta época dos KKK, contudo, a sua força de outrora… já não era a mesma.




      De facto, o soldado negro, durante a II Guerra Mundial, provou ser tão capaz de combater o inimigo e tão capaz de defender a Pátria como o soldado branco. A sociedade americana viu isso.

      Contudo, entre 1980 e 1986 registaram-se oficialmente 3 000 ameaças, agressões ou mortes.
      Actualmente, já no século XXI existem mais do uma facção da KKK. Efectivamente, ao pesquisar para este post consultei pelo menos dois sites ditos oficiais de duas dessas facções. Num deles, é apontado como principal “vocação” a fraternidade e o amor entre todos os irmãos brancos; já num outro site, de uma outra facção, os membros mostram-se mais "activos", dizendo-se vítimas de anos de “incompreensão”,  dando grande relevo ao seu passado (não referem massacres…), dando bastante ênfase a relatos de racismo contra indivíduos brancos (que também existe, como todos sabem), apelando à união dos brancos.



      Na "terra dos sonhos", na "terra das oportunidades", como é ainda possivel existir algo assim? Ainda mais curioso é o facto do presidente americano actual ser negro. Como é possivel continuar a co-existir num mesmo país tantas "américas" diferentes e escondidas?

Dois testemunhos:

 Os brancos de classe baixa (…) têm sólidos preconceitos contra o negro, porque lhe faz concorrência como mão de obra não qualificada e, quando colidem, essa gente organiza-se em Klan, ataca os negros que encontra e maltrata-os (…). Por exemplo, um branco arrenda uma terra a um negro. Outro branco quer a mesma terra, mas o dono prefere dá-la ao negro. Para punir o negro, o branco que pretende a terra junta um grupo de vizinhos e, mascarados, chicoteiam o negro e deixam-no meio morto.”

Fusilaram um homem de cor chamado Joe Kennedy e espancaram a sua mulher, de cor clara. Acusavam Joe Kennedy de ter casado com essa mulata; não queriam que ele desposasse uma mulher tão branca; e espancaram-na por se ter casado com um negro tão preto”.
G. Hodgson, “Carpetbaggers” et Ku Klux Klan, Julliard – Gallimard, Paris 1966
Fontes:
 Astier et al., (2000), Memórias do Mundo, Circulo de Leitores
As muitas vidas da Ku Klux Klan, por Paul-Eric Blanrue,
 http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/as_muitas_vidas_da_ku_klux_klan_6.html
"O manual das sociedades secretas", Bradley M, Fubu

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Fogo Grego

Mísseis, aviões, tanques de guerra, bombas atómicas, projécteis... Tudo isto faz parte do vocabulário bélico da actualidade. Já na Antiguidade, havia também formas extremamente eficazes de aniquilar o inimigo, com a desvantagem de não de se conseguir ultrapassar com eficácia o detalhe da distância. Contudo, uma misteriosa arma já conhecida pelos Romanos e utilizada pelos Bizantinos parecia ser muito eficaz a longo alcance. Contudo, este povo terá levado consigo o segredo do Fogo Grego.


      Em tempo de Guerra, era comum lançar das ameias e muralhas grandes quantidades de óleo ou azeite em ebulição contra o inimigo que, teimosamente, escalava o castelo ou muralha. Porém, o fogo grego era particularmente diferente.

      Algumas vezes mencionado em fontes Romanas, o fogo grego teve o seu ponto alto de utilização pelos Bizantinos. Após esse povo, o fogo grego extingue-se por completo das referências históricas, tornando-se num verdadeiro mito.

“Fire foi o "termo grego" atribuído à mistura até que o tempo das Cruzadas Europeias chegasse. Alguns dos nomes originais eram conhecidos e incluíam: "fogo líquido", “fogo da marinha", "fogo artificial" e "fogo romano". O último foi usado devido ao facto  dos muçulmanos (contra quem a arma era mais usada) acreditarem que os bizantinos eram romanos e não gregos. Os próprios bizantinos usavam o Fogo Grego raramente, presumivelmente por causa do medo que tinham da fórmula secreta da mistura cair em mãos inimigas".


Composição

      Historicamente, são várias as especulações acerca da sua composição. Os bizantinos encobriram ou destruíram a fórmula, para evitar que caísse nas mãos dos seus adversários.
      Pensa-se que esta poderosíssima arma fosse composta por uma complexa mistura à base de petróleo e outros componentes, como cal viva (óxido de cálcio), nafta, enxofre e salitre (nitrato de potássio)e, possivelmente, outros componentes. Era inflamável, não se misturando com a água e gerava uma chama difícil de apagar. O Fogo Grego foi muito empregado na Ásia. Supõe-se que outra substância incendiária, que talvez pudesse ter sido utilizada como "ingrediente secreto", pode ter sido o magnésio que queima debaixo da água, sendo um dos principais constituintes das bombas incendiárias da actualidade.

      Os bizantinos, do império, combatiam lançando o líquido inflamado sobre os navios inimigos, usando pressão. Alguma coisa semelhante a um lança-chamas. Os turcos tiveram muita dificuldade em tomar Constantinopla em face do uso do fogo grego, mas na sétima tentativa a cidade caiu. Os turcos venceram em Constantinopla porque eram mais evoluídos tecnologicamente: usaram uma arma mais poderosa do que o fogo grego: a pólvora. (…)”.

Mitologia: Prometeu

      Conta a lenda que Prometeu, um dos Titãs, devolveu o fogo aos humanos que dele tinham sido privados por Zeus. Este havia castiga Prometeu por ter beneficiado os humanos na repartição dos lotes de um sacrifício, prendendo-o a um mastro para ser torturado por uma águia, que durante o dia lhe devorava o fígado, mas este regenerava-se durante a noite.


      Mais tarde é o herói Hércules quem liberta Prometeu, matando a águia. Desta forma, terá sido Prometeu a ensinar os homens a usar o fogo, sendo desta forma que os Gregos explicam o aparecimento do fogo na terra.


“Durante a Idade Média tornou-se célebre uma substância de misteriosa composição, conhecida como fogo grego”. O fogo grego era expelido por um sifão, sendo muito utilizado em batalhas navais pelos bizantinos, antepassados dos gregos modernos.

     “Os testemunhos da época descreveram-no como um prodígio, uma vez que os incêndios que provocava não podiam ser apagados com água, que, pelo contrário, se limitava a difundir as chamas e a fazê-las crescer.”

      Dada a sua natureza, compreende-se agora o porquê do fogo grego só poder ser apagado recorrendo a substâncias pouco ortodoxas: areia, vinagre e urina. Apagá-lo com água seria o mesmo que tentar apagar com água um fogo com origem em óleo a ferver.
      Acredita-se que tenha sido inventado em 673 por um refugiado arquitecto sírio, chamado Kallinikos de Heliópolis Alguma coisa terá mudado desde os tempos remotos de Kallinikos, pois esta arma não foi mais utilizada. Se por um lado se sabe que os Romanos tentaram incessantemente aplicar esta arma, sabe-se que não o conseguiram reproduzir, provavelmente porque no territótio Romano não havia um dos elementos essenciais: a naphtha (ou nafta), um derivado do petróleo.

      Porém, historiadores actuais, como James Partington, acreditam que o Fogo Grego tenha sido inventado pelos químicos de Constantinopla, que tinham herdado as descobertas da escola química da Alexandria. A tecnologia permitiu planear um mecanismo, usando uma bomba que descarregava jactos de líquido em chamas (atirador de chamas).
      A receita para esta arma foi tão bem guardada que, após 50 anos da sua invenção, a informação foi perdida até mesmo pelos seus inventores. Enquanto as armas incendiárias tinham sido usadas durante séculos (petróleo e enxofre, ambos tinham sido usados, inclusive nas Cruzadas), o Fogo Grego era muito, muito mais potente. Muito semelhante a uma Bomba do mundo moderno.
      Em combate, as forças bizantinas bombeavam a mistura de um amplo reservatório, através de estreitos tubos de latão. Tais tubos concentravam o líquido pressurizado num poderoso jorro. Depois, os soldados acendiam um pavio na saída do tubo de latão para inflamar o jorro de fluido quando esguichava. O jorro do fluido levava o fogo a dezenas de metros pelo ar.

      Lê-se que os bizantinos montavam tais armas ao longo das muralhas de Constantinopla, bem como na proa da maioria dos seus navios. Como a substância inflamável era à base de óleo, continuava a queimar mesmo quando entrava em contato com a água, tornando-a uma arma particularmente eficiente nas batalhas navais.

      Alguns historiadores ingleses dizem que a Armada Invencível de Felipe II sucumbiu perante Francis Drake, que alegadamente terá criado uma fileira de barris de fogo grego incendiados na Batalha do Canal da Mancha. No entanto, tais afirmações não serão bem verdade, já que esta armada terá sido mais destruída pelas tempestades,  do que propriamente na batalha, além de se tratar de uma época na qual o uso da pólvora fazia que possuíssem armas também elas muito destrutivas.

A eficácia do Fogo Grego era incontestável; entretanto, dependia das circunstâncias em que era utilizado. Por exemplo, era menos eficaz no mar aberto do que em passagens estreitas do mar. O Fogo Grego não podia ser considerado uma invenção que resolvesse todos os problemas marítimos do império Bizantino. A guerra naval continuou a ser baseada na arte tradicional da estratégia marítima, a que o Fogo Grego adicionou uma arma eficaz para os Bizantinos.”


Fontes:
O Fogo Grego. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-02-22].
Nelson Lage da Costa - A POLÊMICA - O FOGO GREGO: Uma Especulação Sobre a Alquimia dos Componentes Usados na Preparação da Arma Bizantina

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Homem que recusou a saudação Nazi

Apesar de se estar a tornar numa verdadeira "notícia" na actualidade, o sucedido ocorreu em 1936 e revela um homem de, no mínimo, muita coragem.


      August Landmesser seria apenas um trabalhador dos estaleiros de Hamburgo, mas viria a ter o seu lugar na História pela sua coragem. Pertenceu ao partido dirigido por Hitler entre 1931 e 1935, contudo, o seu casamento com Irma Eckler, judia, levou a que fosse de imediato expulso do partido, tendo em conta que "profanado" e "desonrado" a raça ariana. 
      Tal como seria de esperar, a situação não fica apenas pela sua mera expulsão: Landmesser é preso, e as filhas nascidas durante o casamento são separadas (Ingrid fica ao cuidado da avó materna e Irene é enviada para um orfanato). Quanto à esposa, é detida e posteriormente é simplesmente eliminada pela Gestapo.

      À semelhança com o ocorrido com outras pessoas, Landmesser sai da prisão e é de imediato enviado para o palco da Grande Guerra. Desaparecido em combate, é mais tarde dado como presumivelmente morto.

O Homem que recusou usar a saudação nazi

      A história poderia até parecer vulgar nos tempos da Grande Guerra, não fosse o caso deste simples trabalhador se ter recusado a fazer a saudação nazi, num baptismo de mar de um navio-escola da Marinha alemã. O insólito ficou registado para a posteridade na fotografia:




      Apesar deste momento heróico, a história trágica desta família foi divulgada nos anos 90, quando a fotografia juntamente com um livro escrito por Irene é difundido: “Irene Eckler: Uma Família Separada pela Vergonha Racial”.        Apesar dos anos passados, só actualmente está a ganhar importância e a dar a volta ao Mundo, graças às redes sociais.


      Quanto à família, as duas irmãs acabaram por se reunir bastantes anos depois do falecimento dos pais. Quanto a Irene, terá visitado Hamburgo para falar com familiares da mãe que tivessem sobrevivido ao Holocausto, com a finalidade de reunir todas as informações possíveis acerca do seu passado nos tribunais locais. Desta pesquisa nasceu o livro que poderá eternizar August Landmesser, o homem que recusou a saudação nazi.  



Fontes:

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A Terra das Serpentes

A Península Ibérica é, há muitos séculos, palco de ocupação de diversos povos. No que diz respeito a Portugal, ao contrário do que se poderia pensar, é também uma terra presente na Mitologia grega. O que seria, então, Ophiussa?

Uma terra longínqua

      Apesar da grande distância que separa a Grégia do território português, na Antiguidade Clássica o povo grego atribuía ao território português a designação de Ophiussa, ou seja, Terra das Serpentes. Segundo algumas fontes, os ofís (na altura, o povo que vivia no actual território português) estavam estabelecidos na região norte do território, podendo-se estender até à parte da Galiza. Outros estudiosos apontam a Foz do rio Douro e a Foz do rio Tejo como as terras ocupadas por estes indivíduos.

      Algumas investigações arqueológicas vieram demonstrar a existência de alguns objectos muito antigos onde estariam presentes alguns desenhos alusivos a serpentes.

      Efectivamente, o timbre de muitos Reis Portugueses apresentava um dragão, por veze com semelhanças de um grifo, teria sido inspirado em imagens e mitos muito antigos referentes a uma Serpente alada, a "Serpente Real". Mais tarde, este símbolo terá sido também utilizados pelos Imperadores do Brasil.



      Quanto ao culto da Serpente Real, pensa-se que terá sido um legado de povos celtas que terão estado presentes na Europa que, possivelmente, estariam muito ligados ao culto "Ofi". Curioso mesmo é uma tradição egipcia que refere que "as serpentes egipcias de Carnac e Luxor teriam emigrado para a Europa".



      Portugal terá aparecido como nome entre 930 e 950 da Era Cristã, tendo sido mais difundido a partir do século X.  Fernando I de Leão e Castela, o Magno, denomina oficialmente o território de Portugal, quando em 1067 o oferta ao filho D. Garcia. Contudo, já no século V, durante o reinado dos Suevos, Idácio de Chaves já escrevia sobre um local chamado Portucale.

      Cale, actualmente Vila Nova de Gaia, seria já designada por Portucale no tempo dos godos, havendo num diploma de 841 uma primeira menção à província portugalense.

      Por outro lado, outras fontes afirmam que Portugal terá tido origem em Portogatelo, nome dado por um chefe Grego chamado Catelo, após o seu desembarque e estabelecimento junto do actual Porto.

      A primeira vez que o nome de Portugal aparece como elemento de raiz heráldica, é numa carta de doação da Igreja de São Bartolomeu de Campelo por D. Afonso Henriques em 1129

O Símbolo de Ophiussa

      Se por um lado a ligação da Serpente ao culto Cristão está muito ligado ao pecado atribuído a Eva e ao próprio Satanás, por outro lado a serpente é também vista como símbolo da vontade de Deus, personificado em Moisés, assim como Sabedoria e Cura, daí ser o símbolo da medicina, visto a capacidade de trocar de pele estar associada à cura e rejuvenescimento

Outras designações

      Ao longo dos séculos Ophiussa não terá sido a única designação atribuída ao território nacional. Aqui ficam alguns exemplos:

      Lusitania, nação Galaico-Portuguesa, Portucale, Portugalliae, Lusitaniae,Regno Portugalensium, Portugalis; Portugalliae et Algarbiae; Purtugall, Burtughāl (termo árabe); Ocidental Praia Lusitana ou Pátria Lusitana (Os Lusíadas); Luxitania e Portugraal (Port of Grail) são designações atribuídas a Portugal na vertente Esotérica e na Literatura Metafísica.

Fontes: