Viagem para a Índia
Tudo parece começar no ano de 1750, quando D. João V nomeia D. Francisco de Assis (o Marquês de Távora), para o cargo de Vice-Rei da Índia.
D. José I
Ao regressarem a Portugal, os Marqueses de Távora foram informados por amigos e parentes que a esposa de Luís Bernardo de Távora, D. Teresa de Távora havia se tornado na “amante preferida” do rei D. José I, e que todo o relacionamento era já de conhecimento público.
Indignada com a situação, D. Leonor defendeu a anulação canónica do casamento do seu filho, exigindo que o mesmo não mais convivesse maritalmente com D. Teresa.
A posição adoptada pela Marquesa de Távora relativamente ao casamento do filho mais velho, desagradou grandemente o rei D. José I, o qual mandou o seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, tentar persuadir os Marqueses de Távora de que D. Teresa deveria retomar a vida conjugal normal com o marido Luís Bernardo de Távora. Porém, os Marqueses foram irredutíveis.
Depois, o próprio rei D. José I requereu pessoalmente a D. Francisco de Assis que fosse esquecido o "suposto affair" de D. Teresa, em troca de favores e títulos no governo. D. Francisco de Assis declinou a proposta do rei, irritando-o mais profundamente ainda.
Pouco tempo depois, no dia 1 de Novembro de 1755, "Dia de Todos os Santos", Lisboa sofre um terrível terramoto. A destruição foi cataclísmica: destruição de casas, igrejas, edifícios e palácios, tendo sido sentido quer noutras cidades do Reino, quer noutros países europeus e norte de África. Além do terramoto, a cidade foi submersa por um desmedido maremoto, tendo depois ficado a arder, em chamas, durante seis dias.
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Um dos sacerdotes mais excessivos foi o padre Gabriel Malagrida, o qual chegou a escrever um manifesto intitulado "Juízo da Verdadeira Causa do Terramoto" descrevendo o cataclismo como pena divina aos pecados dos governantes do país, profetizando novos desastres se os culpados continuassem a actuar daquela forma. Tal provocou a ira do rei e do ministro Carvalho e Melo.
Gabriel Malagrida
Marquês de Pombal
Inevitavelmente, os membros da nobreza começaram a, eles próprios, se sentirem incomodados com a realidade de uma pessoa de origem inferior deter cada vez mais poder, prestígio e importância no Reino.
Alguns dias antes, o próprio rei havia estabelecido luto oficial no País, devido à morte de sua irmã, Maria Bárbara, rainha da Espanha. Efectivamente, o período de luto impedia as saídas dos membros da Família Real do Paço. Por esse motivo, o rei não utilizou nem a carruagem nem a escolta reais.
Ao regressar do encontro com a Marquesa-nova, a carruagem toma a estrada de volta ao Paço. Por volta das onze e meia da noite, homens encapuzados abriram fogo sobre a caruagem que transportava o soberano, ferindo-o assim como ao cocheiro. Contudo, o súbdito conseguiu escapar, conduzindo o rei até a casa do Marquês de Angeja, na Junqueira, tendo lá pemanecido até alvorecer. Regressou, então, ao Paço numa carruagem real, escoltado por um corpo de militares.
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As principais represálias sofridas pelo clero foram a queda da Companhia de Jesus, a detenção de figuras exponenciais do alto e baixo clero e até mesmo a morte de alguns.
- a nobreza
No que toca à nobreza, foi criado um órgão denominado Tribunal da Inconfidência, propositadamente para julgar as pessoas às quais se imputavam a culpa da tentativa de regicídio.
Os juízes encarregados do caso jamais conseguiram provar substancialmente inteiramente a culpabilidade dos réus: as provas eram tão débeis e incongruentes que, por vezes, nada mais era do que ilações extraídas daquilo que outros indivíduos teriam dito ou ouvido pelas ruas, e as confissões obtidas de alguns réus teriam sido conseguidas por intermédio de violenta coação física.
Assim, asseverou que o desacato havia sido praticado por incitamento dos padres jesuítas, tendo como cúmplices os nobres Marquês de Angeja, o Conde de Avintes, os Condes da Ribeira Grande, Óbidos e São Lourenço, os Marqueses de Távora pai e filho, José Maria de Távora e o Desembargador Costa Freire. Porém, por ordem do ministro, o conteúdo dessa "confissão" não serviu para culpar a totalidade das pessoas nele envolvidas, mas apenas algumas...
Ademais, a Marquesa Leonor de Távora nunca esteve presente no Tribunal e nem tão pouco foi investigada pelos juízes, pois nem se sabia que ela estava entre os acusados. De facto, só quando o desembargador Eusébio Tavares de Sequeira (incumbido pelo próprio rei de proceder à defesa dos incriminados) requereu a Carvalho e Melo o processo para redigir a defesa, é que verificou que ela era um dos principais acusados.
As provas apresentadas em tribunal eram simples:
a) As confissões dos assassinos já executados,
b) A arma do crime pertencia ao duque de Aveiro e
c) O facto de apenas os Távora poderem saber das ocupações do rei nessa noite, uma vez que ele regressava de uma ligação com Teresa de Távora, presa com os outros.
-Ao Duque de Aveiro e ao Marquês de Távora (pai) seria aplicada a pena de lhes serem quebrandos os ossos das pernas, braços e peito a golpes de maça, estando os seus corpos atados às rodas, após o que seriam queimados, sendo as cinzas jogadas ao mar.
Pena igual aplicar-se-ia aos criados Manuel Álvares e João Miguel, assim como ao cabo Brás Romeiro.
- António Álvares e José Policarpo de Azevedo seriam atados em postes altos e queimados em vida, tendo suas cinzas o mesmo destino das dos outros réus.
-Gabriel Malagrida, o padre jesuíta amigo e confessor da marquesa de Távora, foi queimado vivo alguns dias depois e a ordem dos jesuítas declarada ilegal, curiosamente a 3 de Setembro de 1759, exactamente um ano depois do atentado ao rei. Todas as suas propriedades foram confiscadas e os jesuítas expulsos do território português, na Europa e Colónias (o filme "A Missão" retrata a expulsão de uma comunidade jesuíta da floresta brasileira).
Todos foram condenados a desnaturalização de Portugal, exautoração das honras e privilégios da nobreza a que tinham direito e total confisco de bens.
No tocante, especificamente, à família Távora, ficava de futuro proibido o uso do sobrenome Távora; determinava-se que suas armas fossem picadas e raspadas onde quer que se encontrassem; o restante das mulheres deveriam ser separadas dos filhos (os quais ficavam obrigados a professar) e encerradas em conventos; as suas casas deveriam ser arrasadas e salgado o chão onde se erguiam para eterna lembrança desse castigo.
Futuro
Após a morte do rei D. José I e da saída do Marquês de Pombal do governo português, a nova rainha D. Maria I ordenou que se procedesse a um inquérito sobre a actuação do ex-ministro e autorizou a revisão do processo dos Távora.
Os juízes que contemplaram a petição de revisão da sentença condenatória dos Marqueses de Távora, filhos e genro, o Conde de Atouguia, consideraram-nos inocentes face às provas; regenerando-se a memória da família Távora, devolvendo-se, na medida do possível, os títulos e bens a que tinham direito.
D.Maria terá ficado muito perturbada com este caso. Foi no seu reinado que a pena capital foi abolida de Portugal (excepto em caso de Guerra). Fomos um dos primeiros países do Mundo a fazê-lo.
Se por um lado é verdade que poucos países terão tido um político tão capaz, tão elucidado e tão competente como o Marquês de Pombal. Se Lisboa renasceu das cinzas após o dia 1 de Novembro de 1755, muito é devido à actuação deste homem.
Por outro lado, poderá ser também verdade que, devido ao seu ódio, terão sido brutalmente assassinadas centenas de pessoas, inocentes.
A dúvida persiste.