Perdida na História

Perdida na História

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Amigos de Peniche!

Expressão idiomática em Portugal, significa, sem dúvida,  um "falso amigo", "desleal"... Contudo, existe um possível fundamento histórico para esta expressão...

     Tudo terá tido início na crise de sucessão portuguesa, em 1580, quando D.Filipe II de Espanha consegue a coroa portuguesa, em detrimento do Prior do Crato, D.António.
     Decorria o ano de 1589, quando no dia 26 de Maio desembarca numa praia perto de Peniche (praia da Consolação) 6 500 soldados ingleses comandados por Robert Devereux, 2º duque de Essex. Faziam parte de uma vasta expedição comandada por Francis Drake e pelo almirante John Norreys, com ordem de Isabel I de Inglaterra, para colocar António Prior do Crato como rei de Portugal, restaurando a soberania portuguesa.

D. António


Francis Drake



     Além de respeitar a Aliança Luso-Inglesa (ver neste Blog “Tratado de Windsor”), Isabel I tinha um segundo objectivo (ou seria o seu principal propósito?...) impedir que Espanha se reconstituísse em termos navais, recuperando o seu poderio naval após a derrota da Armada Invencível, com a finalidade de evitar uma nova tentativa de invasão espanhola a Inglaterra.

     A Praça-forte de Peniche começou por ser tomada pelos homens de Essex, com o inicio da acção militar, com sucesso. A guarnição portuguesa, sob comando espanhol, não opôs qualquer resistência, tal como seria de esperar.  Enquanto as tropas que se apearam rumavam por terra a Lisboa, o resto da armada, lideradas por Francis Drake, seguiu para Cascais. A finalidade da invasão era cercar Lisboa por terra e por mar, assim como ocupar os Açores de modo a abater a rota da prata espanhola.

Peniche


     A palavra foi passando, com unanimidade:

«Vêm aí os nossos amigos, que desembarcaram em Peniche...»

     Contudo, nem tudo correu como esperado. As forças inglesas tiveram um comportamento deplorável, saqueando Atouguia da Baleia, Lourinhã, Torres Vedras, e Loures. Já perto de Lisboa, as forças que se movimentaram por terra colocaram-se inicialmente no Monte Olivete (actualmente, freguesia de São Mamede) mas deslocaram-se para a Boa Vista, Bairro Alto e depois para a Esperança, quando D. Gabriel Niño abriu fogo com os canhões do Castelo de São Jorge. Por outro lado, não veio a artilharia prometida por Isabel I, limitando em larga escala a resposta inglesa.

     Já em Cascais, Francis Drake aguardava a entrada terrestre em Lisboa para cercar a cidade no rio Tejo; porém, os homens de John Norreys foram inúteis no ataque à capital bem fortificada e melhor defendida, onde os espanhóis tinham fortalecido a guarnição. As cadeias estavam repletas, as execuções de resistentes sucediam-se. Entretanto, os portugueses dentro das muralhas, que estavam prontos a batalhar e sabiam do desembarque inglês interrogavam-se:

«Que se passa com os nossos amigos que desembarcaram em Peniche? Quando chegam os nossos amigos de Peniche?»

     O empenho dos portugueses no acto militar também falhou. Para obter o auxílio militar de Inglaterra, D. António recorrera ao fundamento de que as populações portuguesas se sublevariam ao seu lado contra os espanhóis, pelo que talvez nem fosse forçoso lutar. Porém, a ocupação assentava numa repressão selvagem, reforçada com a ameaça da invasão… e a revolta popular não ocorreu.

      Cerca de um mês após o desembarque, a expedição inglesa regressa, deixando incrédulos o povo português, sempre na dúvida do que afinal seria feito dos “amigos de Peniche”. Refira-se que muitos soldados ingleses foram atacados pela peste, pelo que nenhum dos objectivos foi cumprido no desembarque inglê a Portugal.
    

      A partir deste momento da História, a expressão “amigos de Peniche” passa a significar amigo que não cumpre o que promete, amigo que nos deixa ficar mal, amigo desleal. Ao contrário do que se possa pensar, nada se relaciona com os habitantes de Peniche, mas sim com os aliados de Portugal.


 “Amigo de Peniche” bem doce…

     Fazendo alusão à injusta fama dos habitantes de Peniche, foi criado um pastel doce típico da cidade de Peniche. Quando vendidos em caixas,é lá também incluída uma folha de papel descrevendo a origem da expressão amigos de Peniche.


4 comentários:

  1. Expressão interessante essa dos "amigos de Peniche", por vezes as pessoas nem conhecem a sua própria cultura. Confesso que fiquei surpreendido com toda esta historia.
    Já agora parabéns pela excelência de todo o Blog.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade, a maioria das pessoas desconhece a origem da expressão e jamais pensariam nesta origem. Agradeço a amabilidade e o facto de ter visitado o meu Blogue, seja bem vindo/a.

      Eliminar
  2. Alguém sabe dizer-me onde os posso comprar?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá! Segundo apurei, dado tratarem-se de doces típicos da região, várias pastelarias de Peniche vendem este doce. :)

      Eliminar