Perdida na História

Perdida na História

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Notícia: A descoberta do (possível) esqueleto de Ricardo III

    Foi noticiado esta semana a descoberta dos restos mortais de Ricardo III de Inglaterra. Ao contrário do que se pensava, Ricardo III vem a aparecer enterrado num local, agora um parque de estacionamento, e não numa capela religiosa, como até aqui se acreditava. 

Ricardo III

    Os responsáveis pela descoberta, que terá ocorrido no ano passado, terão analisado os restos ósseos, podendo confirmar algumas doenças associadas ao monarca, assim como terão procedido à análise de DNA, informação genética, comparando com um reconhecido parente, vivo, do monarca. 

    Já aqui neste blogue falei acerca deste monarca que, de certa forma, acaba por ter um papel importante no desenrolar da História e sucessão inglesa. A saber, foi mencionado no tema ""Titulus regius", Blaybourne e o Mistério Tudor" ( http://perdidanahistoria.blogspot.pt/2011/12/titulus-regius-blaybourne-e-o-misterio.html).


No que diz respeito à notícia, aqui ficam alguns sites onde esta se encontra na íntegra:






Fontes:
http://perdidanahistoria.blogspot.pt/2011/12/titulus-regius-blaybourne-e-o-misterio.html

 http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=67572
 http://www.telegraph.co.uk/history/9540207/Richard-III-skeleton-reveals-hunchback-king.html
 http://www.telegraph.co.uk/history/9745893/Carpark-skeleton-will-be-confirmed-as-Richard-III.html


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Ptolomeu e Duarte Lopes: do imaginário à realidade

Cerca de três séculos antes da descoberta da nascente do rio Nilo, um homem noticia pela primeira vez na História os lagos imaginados por Ptolomeu, revelando um dos mais velhos segredos ao Mundo. Duarte Lopes era português e no século XVI fez História. 

     Decorria o ano de 1591 e um livro causa grande sensação quer em Roma, quer em toda a Europa. O livro era "Relatione del Reame di Congo et delle Circonvicine Contrade", escrito por Fillipo Pigafetta, ditado por Duarte Lopes, que miraculosamente viveu naquele reino da África Ocidental durante seis anos. Não era mito, tinha acontecido.
     O livro era um tesouro de descrições dum reino só imaginado pelos europeus, dando a conhecer terras e gentes, desmistificando ideias e mitos tão antigos como o tempo.  



O reino do Congo

Desconhecido? Nem tanto...

     A verdade é que, à data da viagem de Duarte Lopes, o Congo já não era desconhecido para os portugueses. Quase cem anos antes, em 1483, as caravelas de Diogo Cão haviam já explorado a foz do rio Congo, ou Zaire, o segundo maior de África, a seguir ao Nilo. Regressaram no ano seguinte, tendo subido da foz às cataratas de Livingstone, deixando preventivamente os seus nomes gravados numas rochas junto ao rio.

     Em 1490, Portugal envia uma nova expedição, estabalecendo desde aí relações amistosas com aquele povo, cujos reis se convertem ao Cristianismo, passando a adoptar os nomes de João e Leonor, em homenagem aos reis portugueses. No anos seguintes, os reis do Congo enviam os seus dois filhos para Lisboa com a finalidade de aprenderem português e se "instruírem nos ensinamentos da boa fé".  Portugal não perde a oportunidade, envia para o território franciscanos, dominicanos ou agostinhos com a finalidade de evangelizar e/ou comerciar, estabelecendo-se em São Salvador do Congo, ou Banza, a capital daquele reino. 





Rei João, do Congo

Entreajuda fora da Europa

     Os governos portugueses e do Congo eram já bastante amistosos, daí que não seja de estranhar que Portugal fosse em auxílio desta Nação aquando de necessidade. Em meados do século XVI, os jagas invadem e mudam o rumo ao Congo. 

"Era gente cruel e homicida, de grande estatura e de semblante horrível, nutrindo-se de carne humana, feroz a combater e de ânimo valeroso (...)selvática nos costumes e no viver do dia-a-dia."

     Estes povos partiram da nascente do rio Congo em direcção a oeste, invadindo Lunda, o Congo e parte de Angola, espalhando o horror entre os povos. Foram detidos pelos portugueses, chamados em auxílio de D. Afonso, rei do Congo. 
     Desta forma, quando Duarte Lopes chega ao Congo, em finais de 1578, estavam já bem cimentadas as relações entre Congo e Portugal, apesar deste reino africano apenas ainda fazer parte do imaginário fantástico europeu...



A estadia de Duarte Lopes

     O explorador estabelece-se em Banza, a cidade real, a "150 milhas do mar", onde na altura viveriam cerca de 100 mil pessoas. Dentro das muralhas. ficava a Cidade dos Portugueses e os paços reais, construídos à volta da Igreja principal de Santa Cruz. Nesta cidade, Duarte Lopes terá vivido cerca de seis anos, em que durante esse tempo terá conhecido quase todo o reino que ocupava, naquela época, grande parte do norte de Angola. 

O livro

      Quando descreve a Filippo, Duarte refere-se às seis províncias congolesas: Bamba, Sonho, Sunde, Pango, Bata e Pemba. Descreve os hábitos dos indígenas, as suas formas de vestir, a sua História, os seus produtos e os animais que povoavam a região. 







     Fantasia ou não, o facto é que algumas descrições do livro de Filippo parecem mesmo saídas de uma mitologia. De facto, o capítulo referente às amazonas do reino de Monomotapa é considerado por alguns especialistas como inverosímel, juntamente com o excerto relativo aos anziques. Este povo, que habitava as terras a norte do Congo, teria pouco contacto com as restantes tribos, pelo que tudo o que se contava sobre os seus costumes seriam apenas conjecturas, segundo o próprio Duarte Lopes.

      Contudo, os relatos de Filippo referem que os anziques teriam "açougues de carne humana, como nós aqui de vaca (...), porquanto comem os inimigos que cativam na guerra; e os seus escravos vendem-nos, se podem obter melhor preço; se não, entregam-nos aos magarefes, que os cortam em peças e vendem para assar ou cozer." Se por um lado os relatos de Filippo parecem particularmente fiéis àquilo que os portugueses descreviam na Europa, e mesmo aos relatos de Duarte Lopes, estas partes do livro "Relatione(...)" parecem povoadas de imaginação a mais, levando alguns autores a acreditar que, talvez, Filippo tenha pretendido tornar o seu livro mais ambicioso e particularmente atractivo. De facto, aquando do lançamento, o livro torna-se um fenómeno, sendo traduzido e reeditado em múltiplas línguas. 






 Duarte Lopes desaparece

      Já em 1586, Duarte Lopes chega a San Lúcar de Barrameda, na foz do Guadalquivir, seguindo para Sevilha , na época um crucial centro de comércio, onde diversos cartógrafos portugueses se haviam estabelecido.  Dali, parte para Portugal e depois para Madrid, para a corte de Filipe II de Espanha, I de Portugal.  Usando o "hábito de burel grosseiro" dos peregrinos, cumprindo um voto feito durante a viagem, parte para Roma em 1589, com a finalidade de transmitir a Sisto Vos recados do rei do Congo, que pedia que lhe fossem enviados missionários para não deixar esmorecer a fé Católica. É nesta viagem a Roma que Duarte conhece Filippo, e lhe descreve as maravilhas que terá testemunhado no Congo imaginado por Ptolomeu. Duarte vira com os seus próprios olhos os grandes lagos. 

Missionários em África

     Nesse mesmo ano, Duarte Lopes abandona Roma, desejoso de voltar para África. Em Madrid, redige um relatório da sua permanência no Congo, citado por Ilídio Amaral, abundante em informações sobre comércio de escravos, de importância vital na economia de então. A partir deste momento, Duarte Lopes desaparece na História, perdendo-se-lhe o rasto para sempre. 


Estátua de Duarte Lopes, Portugal


Fontes:
Baseado nos textos de Rosário Sá Coutinho, (2003), National Geographic
http://www.euacontacto.com/cultura-e-entretenimento/3693-grandes-portugueses.html