Perdida na História

Perdida na História

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A Alemanha está arruinada.

     Os preços enlouquecem. Saída com uma enorme ferida da 1ª Guerra, a Alemanha ameaça explodir quando a loucura do dinheiro não permite avaliar o real preço das coisas. Numa época em que as notas são utilizadas para aquecer fornos, para fazer wallpapers, para acender aquecedores, numa época em que é necessário ir às compras com cestos e cestos de dinheiro...a Alemanha está arruinada. 

      No século XIX, o fenómeno inflação não era conhecido. Contudo, torna-se recorrente entre 1914-1918. Enquanto no início nada mais é do que uma certa restrição económica, por vezes a inflação degenera ao ponto de constituir um verdadeiro cataclismo. Quando a inflação sobe acima de um determinado ponto, os preços já nada significam, todo o conjunto do sistema económico ameaça afundar-se. À Alemanha de 1923 cabe a triste honra de abrir um ciclo de catástrofes económicas que, curiosamente, ainda hoje não terminou.  

O país de joelhos

      Em 1919 a Alemanha , signatária do Tratado de Versalhes (contra a sua vontade), não acaba a Guerra apenas derrotada. Em parte, está arruinada. A Guerra impôs aos país, tal como aos outros beligerantes, um colossal sacrifício financeiro. O que diferencia a Alemanha da França e Inglaterra é o facto de não poder pedir empréstimo aos USA. Procurou obter dinheiro através da "estampagem de notas", ou seja, emitindo um considerável número de moeda. Tal aumento de dinheiro em circulação vem alimentar a inflação do pós-guerra, dado que passa a existir uma enorme quantidade de dinheiro em circulação e um número muito reduzido de bens disponíveis. 




      A situação era crítica, mas não fica por aqui, dado que a este flagelo soma-se o peso das reparações: dada como responsável pela Guerra, a Alemanha terá de "reparar" os danos materiais que causou. Em Londres, por exemplo, em 1921 os vencedores fixam uma soma astronómica de 132 milhões de marcos-ouro, ou seja, metade da riqueza do país. Era tal e qual como se fosse necessário pagar uma nova guerra após assinar a paz, o preço a pagar era asfixiador. 



      Para o governo alemão, à frente de um país moribundo, a situação é considerada insolúvel. Desta forma, em 1923, insatisfeitos pelo atraso nos pagamentos, franceses e belgas invadem o Ruhr, o verdadeiro pulmão industrial alemão. A Alemanha mergulha, então, na catástrofe monetária. 

Conhecer o abismo alemão

      Perante o desmoronamento das finanças alemãs, a partir de 1922 a espiral inflacionista alemã acelera, acelera...O marco deixa de ter qualquer valor. Mas é necessário manter uma tabela de valores e, neste caso, será a moeda estrangeira dólar que toma o lugar do marco. Para que se tenha noção daquela realidade, 1 dólar era equivalente a 8 000 marcos. 

Crianças brincam com...dinheiro.

      À semelhança dos especuladores, também os consumidores se apressam e antecipam ante a subida dos preços. Os assalariados exigem o aumento paralelo dos vencimentos, alimentando cada vez mais a inflação. No começo de 1922, o dólar vale 200 marcos; no final de 1922 é trocado por 10 000 marcos. Cumulativamente, o processo torna-se caótico com a ocupação do Ruhr e, em Julho de 1923 são precisos um milhão de marcos para um dólar, 160 milhões no final de Setembro e vários mil milhões em Novembro.

      Não há duvidas de que já nos meses de verão, com o colapso do governo Cuno, derrubado por uma greve geral em Berlim, em agosto, a crise política assumia proporções revolucionárias.


Pilha de notas alemãs.

      O Partido Social-Democrata alemão e seus sindicatos filiados, que haviam fornecido a principal viga de sustentação à ordem capitalista no período do pós-guerra, rapidamente perdiam apoio dentro da classe trabalhadora para o Partido Comunista Alemão (KPD). Mas em nenhum estágio desse período o KPD avançou uma estratégia revolucionária pré-determinada e desenvolveu as táticas para implementá-la.


      Tal pareceria anedótico, não se tratasse da vida de milhares de pessoas. Para assegurar o funcionamento "normal" das trocas comerciais nas lojas, são necessárias cada vez mais notas. Trezentas fábricas de papel consagram toda a produção à alimentação de 150 topografias onde funcionam, dia e noite, 2 mil prensas de notas. Isto não basta. Os municípios e empresas passam a ter direito a produzir moeda. São precisos montes e montes de notas para comprar um pacote de manteiga, são precisos 50 mil milhões de marcos para comprar um selo. Para os alemães de então, este processo terá sido brutalmente traumatizante. Nunca esqueceram. 

Mulher usa notas para acender o fogão.


Colapso.

São incalculáveis os efeitos sociais e políticos duma situação destas. Perante a aberração monetária, a Alemanha recupera o primitivo sistema de trocas. Assim, os camponeses recusam entregar por moeda os seus produtos, levando a graves problemas de abastecimento das cidades. Instala-se a fome. Verificam-se centenas de tumultos sociais. A política não aguenta muito mais. No Outono, instala-se a anarquia. 




Anarquia.

      No dia 1 de Outubro, a "Reichswehr negra" do major Buchrucker tenta tomar o poder. Em 8 de Novembro, um pequeno partido dirigido por um tal Adolf Hitler tenta impor-se aquando do golpe da "Cervejaria de Munique". Na Saxónia e na Turíngia assiste-se à formação de pequenos governos de sociais-comunistas que recusam a autoridade do poder central. 
      Em Novembro, Berlim e Hamburgo são palcos de combates de rua. A somar a toda esta anarquia, dada a ocupação francesa, são proclamadas a "República do Reno" ou ainda a "República do Palatinato". A Alemanha está prestes a explodir. 



      Para a burguesia alemã, a política de resistência passiva contra a ocupação francesa e a inflação da moeda apenas criaram uma crise política duradoura e aprofundada — com ameaças à estabilidade da ordem burguesa vindas da direita, na forma dos fascistas, e a ameaça mais séria da esquerda, na forma do KPD.
      Observou-se, então, uma viragem táctica foi feita por ambos os lados. O governo francês concordou com a mediação internacional para os pagamentos de reparação, de modo a alinhá-los com a capacidade da Alemanha em pagar, enquanto que as elites dominantes alemãs agiram para estabilizar a moeda e aceitar a obrigação de realizar pagamentos de reparação. 








Escassez de produtos alimentares.


 Solução, mas por pouco tempo...

      A partir de 1923, o novo governo Stresemann reúne todos os partidos, exceptuando os considerados extremistas. Consegue vencer, uma após outra, as convulsões e combates de rua, mas é ao estabelecer a confiança na moeda que este governo consegue controlar minimamente a situação. 
      Parece ser um facto consumado que em Novembro de 1923, graças a um tratamento de choque, o crédito e a criação monetária são duramente restringidos e são decretadas duras medidas orçamentais.
      Curiosamente, só com o apoio inglês e americano (que de forma alguma desejam uma revolução na Alemanha) é que a confiança na economia alemã é lentamente restituída e romperem o ciclo vicioso das antecipações negativas. 


      De facto, uma comissão foi estabelecida sob a direção do americano Charles Dawes, para considerar meios para equilibrar o orçamento alemão, estabilizando a moeda e desenvolvendo um sistema viável de pagamentos de reparação anuais. O plano fornecia um calendário de pagamentos anuais começando em 1 mil milhão de marcos de ouro no primeiro ano e atingindo 2,5 mil milhões no quinto ano, com variações de acordo com as mudanças na situação económica mundial e respectivo preço do ouro. Assim, uma Agência de Reparações deveria ser estabelecida em Berlim para supervisionar o processo e um empréstimo de 800 milhões de marcos deveria ser levantado para o governo alemão, com uma garantia fornecida por títulos das ferrovias alemãs.



      Este plano Dawes e a restabilização da economia alemã viram a criação de uma nova moeda, o Reichsmark, convertido do antigo marco na razão de 1 "trilhão" para 1, em Agosto de 1924. Sob o acordo, o Reichsbank  tornava-se independente do governo alemão, mantendo uma reserva de ouro e moedas estrangeiras, seguindo um regime de altas taxas de juros como base para seu programa deflacionário. O Plano Dawes era tão necessário para a estabilidade da economia dos Estados Unidos quanto para as economias da Alemanha e do resto da Europa. O sistema de reparações sozinho, como originalmente pensado, era inviável. 



      Contudo, a paz não reina mais na Alemanha e a sociedade não é mais a mesma. Se lhes contassem, nenhum alemão acreditaria no que estaria para vir nos vinte anos que se seguiram...






      Ao todo, a inflação durou pouco mais de um ano. Contudo, os seus efeitos serão de muito longo alcance. A subida dos preços, o descrédito do governo republicano, criaram o clima ideal para, mais tarde, a instauração do governo hitleriano. Efectivamente, mesmo depois da 2ª Guerra Mundial, a Alemanha passa a ter uma forte preocupação de protecção da moeda nacional e da produção nacional. Nunca uma inflação marcou tanto uma nação. 





      Enquanto as pessoas não perceberem que o dinheiro não serve para comer, enquanto não perceberem que o dinheiro é apenas e só um meio de troca de bens e serviços, vamos continuar a ser escravos de pedaços de papel e metal.

Fontes:
http://www.wsws.org/pt/2009/sep2009/ptnb-s18.shtml
Astier et al., (2000), Memória do Mundo, Círculo de Leitores
O vídeo foi utilizado apenas como meio de ilustração do tema, sem que daí resulte qualquer proveito próprio.


sábado, 8 de setembro de 2012

A arte rupestre dos Açores


Descobertas arqueológicas recentes levantam a incrível possibilidade de as ilhas dos Açores poderem já ter tido ocupação séculos antes de os navegadores portugueses lá terem chegado. Alguns, referem mesmo que os Açores terão feito parte da perdida Atlântida...

Açores

      Nuno Ribeiro, presidente da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA) explica que as investigações efectuadas por investigadores dos Açores, Reino Unido, Estados Unidos, Espanha e Alemanha revelaram descobertas arqueológicas relevantes no sentido de demonstrarem a possibilidade de na ilha da Terceira ter existido ocupação humana prévia à chegada dos portugueses.


Ilha Terceira

      "Foi encontrado agora um local de arte rupestre com características que nos levam a crer que remontará à Idade do Bronze", afirma Nuno Ribeiro, em declarações à Lusa em Ponta Delgada, numa conferência na Universidade dos Açores sobre o tema " Ocupações Humanas pré-portuguesas nos Açores: Mito ou Realidade?" 

      O investigador referiu ainda que nos últimos anos terão sido descobertos em diversas ilhas dos Açores vestígios de estruturas que "indiciam pela sua arquitectura e construção serem de origem pré-portuguesa".

      Por outro lado, o investigador português refere ainda outras descobertas que solidificam a convicção duma civilização antiga:  "Temos um epígrafo da época Romana, segundo dois investigadores que convidamos a interpretar a inscrição, um sítio de arte rupestre, estruturas megalíticas, enfim, um conjunto importante de estruturas espalhadas pelas ilhas que precisam de ser interpretadas de outras formas", afirmou. 




      No ano 2011, o investigador anunciou a descoberta de "um conjunto significativo de mais de 5 monumentos do tipo hipogeu (túmulos escavados na rocha) e de, pelo menos, 3 santuários proto-históricos escavados na rocha e possíveis condutas de água". Já no Portuguese American Journal, é referido que estas descobertas poderão estar associadas aos Cartagineses, sendo que os Templos talvez fossem uma oferta à deusa Tanit. 
      Por outro lado, os investigadores não têm qualquer dúvida relativamente à existência de santuários; contudo, falta ainda uma parte crucial no trabalho, nomeadamente a datação das descobertas. 
      
      Contudo, dado o momento difícil que Portugal atravessa, a investigação poderá estar comprometida dada a possível falta de verbas para o prosseguimento dos trabalhos, dado ser necessária a autorização do Governo Regional para efectuar escavações e datar com rigor os elementos já identificados nas ilhas. 


hipogeu

      "O nosso grande problema nesta fase é que o Governo dos Açores não nos autorizou os trabalhos arqueológicos no ano passado, por falta de financiamento e este ano por não se enquadrar num decreto de lei". 



      Um dos grandes problemas de todas estas limitações impostas prende-se com o facto dos  vestígios e locais arqueológicos estarem ao abandono. Por outro lado, o investigador refere ainda que "na ilha do Corvo, enquanto lá estive a passar férias, vi obras a serem feitas no aeroporto sem qualquer acompanhamento arqueológico, a 300 metros tinha sido encontrada uma estrutura com uma planta que, no Alentejo, foi enquadrada com sepulturas".

    


      Estas descobertas têm sido divulgadas através de artigos científicos e apresentadas em congressos internacionais de arqueologia, obtendo uma "grande aceitação junto da comunidade científica internacional", comprovando uma vez mais a qualidade e excelência da investigação em Portugal.  

     Pondo de parte a Ciência, muitos curiosos referem já serem "óbvias" tais descobertas, já que o arquipélago dos Açores "fazia parte da Atlântida, continente que submergiu no fundo do Oceano Atlântico, ficando apenas este arquipélago como memória das maravilhas do Antigo. A antiguidade dos Açores existirá portanto à cerca de 1 000 000 anos ". Confesso já ter ouvido que, não os Açores, mas sim a ilha da Madeira uma parte da mítica Atlântida. 


Atlântida

Atlântida submersa



Fontes:

http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/acores-arqueologia-arte-rupestre-tvi24-ilha-terceira/1370653-4071.html
http://portuguese-american-journal.com/carthaginian-temples-found-azores/
http://www.verportugal.net/Acores/Ponta-Delgada/Noticias/Arte-rupestre-descoberta-nos-Acores=005193 
http://boasnoticias.pt/noticias_Arque%C3%B3logo-diz-ter-achado-arte-rupestre-nos-A%C3%A7ores_12342.html